O papa Francisco dispensou do sacerdócio Ernani Maia dos Reis, suspeito de assédio e violência sexual contra monges do mosteiro da Santíssima Trindade, em Monte Sião (MG). Ernani já havia se afastado da comunidade em 2018. As denúncias de abusos foram feitas na semana passada por reportagem do site UOL. Dias depois, o Ministério Público de Minas Gerais pediu que a Polícia Civil abra um inquérito policial para investigar o caso.

Em um comunicado publicado na sexta-feira, 1º de outubro, o arcebispo de Pouso Alegre (MG), dom José Luiz Majella Delgado, informou que Ernani Maia dos Reis “requereu, de modo expresso, a sua renúncia ao estado clerical” e que o papa Francisco o “dispensou do celibato e de todas as demais obrigações inerentes ao estado clerical e decorrentes das Sagradas Ordens”.

A nota recorda que desde 2018 Ernani está afastado da comunidade em Monte Sião, “tendo de lá mudado sua residência” e “perdeu automaticamente os direitos próprios do estado clerical e tudo quanto a este é inerente, inclusive as relativas obrigações”. Por isso, afirma que os fiéis não devem solicitar sacramentos ou sacramentais a Ernani. Atualmente, ele mora em Franca (SP), onde atua como psicanalista.

Segundo reportagem publicada em 30 de setembro pelo site UOL, Ernani Maia dos Reis, fundador do mosteiro da Santíssima Trindade, é acusado de assediar e violentar sexualmente pelo menos oito monges, entre 2011 e 2018, quando as denúncias vieram à tona e ele pediu afastamento da comunidade. Além disso, há acusações de assédio moral contra 11 pessoas, das quais dez eram mulheres.

Após esta denúncia, o promotor de Justiça de Monte Sião (MG), Marco Antonio Meiken, determinou que a Polícia Civil de Minas Gerais abra um inquérito policial contra o padre Ernani Maia dos Reis. Deverão ser ouvidas vítimas e testemunhas dos atos do ex-padre, além do próprio Ernani.

Ao UOL, a arquidiocese de Pouso Alegre afirmou que “nunca negou qualquer fato (dele) ou ato atribuído quando do exercício na liderança daquela comunidade”. Disse ainda que “foram constituídas auditorias, comissões de apuração em várias esferas de acompanhamento, sendo as respectivas comunicações, diretas aos representantes legais superiores (Nunciatura e Santa Sé)”. “Nunca houve qualquer omissão nesse sentido”, declarou.

Em declarações à ACI Digital, o chanceler da arquidiocese de Pouso Alegre, padre Jésus Andrade Guimarães, informou que “o processo canônico do caso do senhor Ernani Maia dos Reis foi concluído com a dispensa do sacerdócio” proferida pela Santa Sé. Agora, o caso deve seguir na esfera civil, sobretudo após a solicitação de abertura de inquérito por parte do Ministério Público.

Segundo o chanceler, “hoje o mosteiro da Santíssima Trindade não existe mais”. Após a suspensão de Ernani, “alguns monges deixaram o mosteiro e aqueles que permaneceram deram início a uma nova comunidade”, a Associação Comunidade Santíssima Trindade. O estatuto desta nova comunidade “está sendo criado”.

Em uma publicação em sua página de Facebook em fevereiro deste ano, a comunidade publicou um vídeo informando sobre esta mudança. “A Comunidade Santíssima Trindade, antes chamada de Monges da Trindade, vem informar mais uma vez a todos que desde o dia 3 de julho de 2020 deixou de ser um mosteiro, tornando-se uma comunidade de leigos e leigas consagrados”, diz o comunicado. Além disso, passou a atuar em uma nova sede.

Padre Jésus afirmou que este novo grupo que dá seguimento à Comunidade Santíssima Trindade possui um conselho que tem à frente atualmente a irmã Denise Alves. Além disso, “a comunidade tem dois padres e o bispo também a está acompanhando”.

Irmã Denise Alves disse ao telejornal da EPTV, filiada da Globo no Sul de Minas, que agora buscam seguir adiante a vocação. “Muitos desistiram e nós, que ficamos, resolvemos recomeçar, reconstruir com um novo formato, uma nova fundação e demos andamento à nossa vocação, ao nosso ideal de vida, que é a comunhão com Deus, a comunhão fraterna”, afirmou.

“Então, essa obra que agora é não tem mais nada a ver com a outra. Hoje é uma nova fundação, um recomeço total”, disse irmã Luciana Maria de Souza Reis, membro da comunidade.

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