O ativista pró-vida Frank Pavone afirmou de forma desafiadora ontem (19) que o decreto do Vaticano que o demitiu do sacerdócio não é definitivo. “O próximo papa pode me restablelecer”, disse.

 

“Essa ideia de que tudo isso é permanente em termos de demissão do sacerdócio é simplesmente incorreta, porque vamos continuar”, disse Pavone, diretor nacional da organização pró-vida Priests for Life, em entrevista a Christian Broadcasting Network publicada no YouTube.

 

“Então haverá um próximo papa, e o próximo papa pode me restabelecer”, disse Pavone.

 

CNA, agência em inglês do Grupo ACI, noticiou no sábado (17) que o núncio apostólico nos Estados Unidos, dom Christophe Pierre, havia informado aos bispos americanos numa carta datada de 13 de dezembro que o prefeito do Dicastério para o Clero, o cardeal Lazzaro You Heung-sik, havia demitido Pavone do sacerdócio em 9 de novembro, sem possibilidade de recurso.

 

Pavone foi considerado culpado em um processo canônico por “comunicações blasfemas nas redes sociais” e “desobediência persistente das instruções legais de seu bispo diocesano”, escreveu Pierre.

 

No sábado,Pavone afirmou não saber sobre a ação da Santa Sé. “Como a CNA soube disso antes de mim?”, questionou.

 

Ontem (19), Priests for Life divulgou uma nota dizendo que Pavone ainda não recebeu nenhuma notificação formal do decreto da Santa Sé.

 

Uma porta-voz da organização também disse à CNA que Pavone foi recentemente incardinado – formalmente ligado a uma diocese– na diocese de Amarillo, no Texas.

 

Além disso, confirmou que Pavone participou do processo canônico que levou à sua demissão do estado clerical.

 

“Sua equipe canônica estava envolvida na tentativa de resolver esta situação e lutar contra a contínua perseguição ao padre Frank por parte de seu bispo”, disse a porta-voz.

 

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“A equipe canônica também estava trabalhando na tentativa do padre Frank de ser incardinado em outra diocese. Nossa equipe canônica não tem liberdade para discutir esses assuntos agora, e não estamos divulgando o nome do bispo ou da diocese na qual ele esperava ser incardinado”, afirmou.

 

A nota fornece algum contexto adicional sobre o decreto da Santa Sé que removeu Pavone do sacerdócio enquanto deixa outras questões ainda sem resposta.Entre elas: Quais comunicações específicas Pavone fez que foram consideradas “blasfêmias”? Quem é o bispo que Pavone desobedeceu? E o que dizer das missas e outros sacramentos que Pavone celebrou nas mais de cinco semanas que se passaram desde que a Santa Sé emitiu seu julgamento?

 

Pavone diz que está sendo ‘abortado’

 

Frank Pavone, de 63 anos, foi ordenado na arquidiocese de Nova York, é conhecido por suas postagens às vezes cheias de palavras de baixo calão e pelo ativismo pró-vida provocativo, que incluiu um apoio à campanha de Donald Trump em 2016, durante o qual Pavone colocou um bebê abortado sobre uma mesa que ele também usava para a missa.

 

Pavone apresentou o programa de televisão “Defending Life” na EWTN por muitos anos até o bispo de Amarillo, dom Patrick J. Zurek, revogar sua permissão para aparecer na rede.

 

Em suas páginas no Twitter e no Facebook, Pavone continua a se apresentar como padre.

 

Um padre laicizado é proibido de celebrar os sacramentos, exceto para ouvir confissões e absolver um pecador em perigo de morte, disse em entrevista a CNA no domingo (18) o padre e advogado canônico Gerald E. Murray.

 

“Qualquer outra celebração sacramental é ilegal e, portanto, um ato de desobediência”, disse Murray.

 

Pavone ainda estava celebrando missas on-line na semana passada, segundo vídeos postados na internet. A porta-voz de Priests for Life disse que a instituição não comentaria se Pavone irá continuar a fazer isso.

Em entrevistas e postagens nas redes sociais, Pavone enquadrou o julgamento contra ele como uma retaliação por sua franqueza sobre a questão pró-vida, em vez de uma acusação de sua conduta.

Em uma publicação no Twitter, no sábado (17), Pavone afirmou que estava sendo "abortado".

“[E]m todas as profissões, incluindo o sacerdócio, se você defender os #não-nascidos, será tratado como eles! A única diferença é que, quando somos 'abortados', continuamos a falar alto e claro”, escreveu Pavone. Mais tarde, publicou as palavras “#aborto eclesiástico”.

Pavone também afirma que sua remoção do sacerdócio decorre de um esforço de anos do bispo de Amarillo, dom Patrick J. Zurek, e outros na hierarquia católica para desacreditá-lo e silenciá-lo.

Em sua entrevista a Christian Broadcasting Network (CBN), Pavone chamou dom Zurek de “um dos líderes em tudo isso”.

“O processo tem sido uma narrativa unilateral”, disse à CBN. “É simplesmente um esforço unilateral para cancelar o que estamos tentando fazer.”

A carta do núncio apostólico Christophe Pierre aos bispos americanos, no entanto, incluía uma declaração clara de que o decreto da Santa Sé não tem relação com o envolvimento de Pavone em Priests for Life.

“Uma vez que a Priests for Life, Inc. não é uma organização católica, o papel contínuo do Sr. Pavone nela como leigo iria depender inteiramente da liderança dessa organização”, diz o comunicado.

Em um tuíte na manhã de ontem, Pavone disse que seu conselho, equipe pastoral e funcionários de Priests for Life estão “1000% unidos comigo no avanço de nosso trabalho”.

“Não vamos desacelerar. Minha vocação é ser padre e líder #próvida e não vou me afastar de nenhum deles!”, escreveu Pavone.

 

A qual bispo Pavone desobedeceu?

A carta do núncio Pierre, obtida e verificada por CNA, não detalha as “comunicações blasfemas” específicas em questão.

O cânon 1369 do Código de Direito Canônico Afirma: “Quem em espetáculo ou reunião pública, ou por escrito divulgado publicamente, ou utilizando por outra forma os meios de comunicação social, proferir uma blasfêmia, ou lesar gravemente os bons costumes, ou proferirinjúrias ou excitar o ódio ou o desprezo contra a religião ou a Igreja, seja punido com uma pena justa”.

Incardinado em Amarillo em 2005, Pavone tem travado uma batalha contínua com dom Zurek, que se tornou bispo da diocese em 2008.

Dom Zurek suspendeu Pavone em 2011, decisão que a Santa Sé anulou em 2012, após Pavone apelar. Em 2016, o bispo de Amarillo também disse que Priests for Life, agora com sede na Flórida, “não é uma instituição católica, mas uma organização civil, e não está sob o controle ou supervisão da diocese de Amarillo”.

O ativismo político de Pavone atingiu um crescendo nos últimos anos em seu apoio público a Donald Trump. Ele atuou em cargos oficiais de divulgação da campanha de Trump em 2016 e, originalmente, foi copresidente da coalizão pró-vida de Trump em 2020, bem como membro do conselho consultivo de Catholics for Trump. Ele acabou deixando os cargos em 2020. A lei canônica proíbe os clérigos de terem um papel ativo em partidos políticos, a menos que recebam a permissão de seu bispo.

Em 2020, a diocese de Amarillo disciplinou Pavone por postagens de palavras de baixo calão no Twitter denunciando o então candidato presidencial Joe Biden e o Partido Democrata. Pavone também deu a entender que negaria a absolvição de alguém que ele sentia não estar arrependido por apoiar o Partido Democrata e suas políticas pró-aborto.

Nem a diocese de Amarillo nem o escritório do núncio apostólico em Washington, DC, responderam aos pedidos de comentários de CNA.

A declaração de ontem de Priests for Life de que Pavone foi recentemente incardinado em Amarillo esclarece uma declaração diferente publicada no site da organização, que diz que Pavone recebeu permissão da Santa Sé em 2019 para se transferir de Amarillo, mas não diz para onde.

Em 2020, Pavone disse a CNA que estava buscando uma transferência para a diocese de Colorado Springs. Ontem, o bispo de Colorado Springs, dom James Golka, divulgou um comunicado dizendo que Pavone nunca foi incardinado lá.

Dom Golka, que assumiu Colorado Springs em junho de 2021, disse que Pavone se referiu a um “suposto acordo de 2019 para transferência para a diocese de Colorado Springs sob meu antecessor, o falecido bispo Michael Sheridan, o que foi bloqueado pela Santa Sé”.

“Lamento que, no tempo decorrido entre minha chegada a Colorado Springs e a morte do bispo Sheridan, não tenha tido a oportunidade de falar com ele sobre muitas das coisas que ocorreram durante seu mandato, incluindo este assunto. Portanto, não posso comentar a afirmação do Sr. Pavone, exceto dizer que ele nunca foi incardinado na diocese”, afirmou Golka.

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