O arcebispo de Munique e Freising, Reinhard cardeal Marx disse que o Catecismo da Igreja Católica “não está gravado em pedra” e “também é permitido duvidar do que ele diz”.

Em uma entrevista à revista alemã Stern, na edição de 31 de março, Marx disse que a igreja está errada em sua doutrina sobre o homossexualismo e que deveria mudar. “A Igreja também está mudando, movendo-se com os tempos: as pessoas LGBTQ+ são parte da criação e amadas por Deus, e somos desafiados a lutar contra a discriminação”, disse o cardeal.

O arcebispo alemão é membro do Conselho de Cardeais escolhidos pelo papa Francisco e presidente do Conselho para a Economia da Santa Sé.

Marx falou sobre o Catecismo em resposta a uma pergunta sobre “como as pessoas homossexuais, queer ou trans devem ser acomodadas no ensino católico”.

O cardeal disse: “Uma ética inclusiva que imaginamos não é ser permissivo como alguns afirmam. Trata-se de outra coisa: encontro olho a olho, respeito pelo outro. O valor do amor é mostrado no relacionamento, em não fazer da outra pessoa um objeto, em não usar ou humilhar a outra pessoa, em ser fiel e confiável um ao outro. O Catecismo não é imutável. Pode-se também duvidar do que ele diz.”

O Catecismo a Igreja Católica foi publicado em 1992 por iniciativa do papa são João Paulo II. Descrito pelo papa polonês como “uma norma segura para o ensino da fé”, ele diz no número 2.357: “Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados”.

Depois afirma: “Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição”.

Os comentários de Marx são parte de um esforço crescente dentro da Igreja na Alemanha para mudar a doutrina católica sobre a sexualidade.

No início de março, o bispo de Limburg, Georg Bätzing, sucessor de Marx como presidente da conferência dos bispos alemães, concordou com a afirmação de um jornalista de que “ninguém” aderiu ao ensinamento da Igreja de que a sexualidade só deve ser praticada dentro do casamento.

“É verdade”, disse Bätzing. “E nós temos que mudar um pouco o Catecismo sobre este assunto. A sexualidade é um dom de Deus. E não um pecado.”

Os comentários de Bätzing foram feitos depois que os participantes do Caminho Sinodal Alemão votaram a favor de projetos de documentos pedindo bênçãos a uniões do mesmo sexo e a revisão da doutrina católica sobre homossexualidade.

Em fevereiro, o arcebispo de Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, respondeu uma pergunta da agência de notícias católica alemã KNA sobre como lida “com o ensino da Igreja de que a homossexualidade é um pecado”.

Ele respondeu: “Acho que está errado. Mas também acredito que estamos pensando adiante na doutrina aqui. A maneira como o papa se expressou no passado pode levar a uma mudança na doutrina. Porque acredito que o fundamento sociológico-científico desse ensinamento não é mais correto.”

Hollerich, o arcebispo de Luxemburgo, desempenhará um papel central no próximo Sínodo sobre a sinodalidade em Roma como relator geral. Ele também é presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE).

Também no início de março, o cardeal Marx celebrou uma missa marcando “20 anos de adoração queer e cuidado pastoral” em Munique.

Em sua entrevista à Stern, Marx sobre a missa e se a homossexualidade “recentemente ainda era considerada um pecado na Igreja”.

Ele disse: “A homossexualidade não é um pecado. É uma atitude cristã quando duas pessoas, independentemente do sexo, se defendem na alegria e na tristeza”.

“Falo da primazia do amor, especialmente nos encontros sexuais. Mas devo admitir que há 10 ou 15 anos eu mesmo não poderia imaginar que um dia celebraria este serviço desta forma. Agora eu estava muito ansioso por isso.”

O entrevistador observou que havia uma bandeira de arco-íris, símbolo do movimento LGBT, diante do altar na missa e perguntou se Roma o havia procurado para falar sobre isso. “Nos últimos anos, recebi várias cartas sobre o assunto, mas acho que estou fazendo a coisa certa”, disse Marx. “Me senti mais livre para dizer o que penso nos últimos anos e quero levar adiante o ensino da Igreja”.

“A Igreja pode ser mais lenta em algumas coisas, mas esse é um desenvolvimento que está acontecendo em todos os lugares. A maioria das empresas há apenas alguns anos não aceitaria membros do conselho abertamente homossexuais”.

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Quando o entrevistador disse que nenhuma empresa definiu a homossexualidade como pecado em seus estatutos, Marx disse: “O que há com você falando sobre pecar o tempo todo? Tem que ser sobre a qualidade dos relacionamentos. Esta questão não foi adequadamente discutida por alguns na Igreja, você está certo.”

“Mas pecado significa afastar-se de Deus, do Evangelho, e você não pode imputar isso a todas as pessoas que vivem o amor homossexual e, ainda por cima, dizer: fora com eles.”

Marx também foi perguntado se ele já havia abençoado alguma união do mesmo sexo.

 

Ele respondeu: “Há alguns anos, em Los Angeles, depois de um culto em que preguei sobre unidade e diversidade, duas pessoas vieram ao meu encontro e pediram minha bênção. Eu fiz isso. Afinal, não era uma cerimônia de casamento. Não podemos oferecer o sacramento do matrimônio”.

A Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé reafirmou em março de 2021 que a Igreja Católica não tem o poder de abençoar uniões de pessoas do mesmo sexo porque não está autorizada a abençoar o pecado. A declaração, publicada com a aprovação do papa Francisco, provocou protestos no mundo católico de língua alemã.

Vários bispos expressaram apoio às bênçãos de casais do mesmo sexo, enquanto as igrejas exibiam bandeiras do orgulho LGBT e um grupo de mais de 200 professores de teologia assinou uma declaração criticando a Santa Sé.

Padres e agentes pastorais em toda a Alemanha realizaram um dia de protesto em maio passado, durante o qual realizaram cerimônias de bênção de uniões de pessoas do mesmo sexo.

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