O Cardeal Joseph Zen, Bispo Emérito de Hong Kong, esteve recentemente em Roma e, embora não tenha conseguido falar com o Papa Francisco, enviou-lhe uma carta na que mostra sua preocupação pela falta de um Bispo nesta Diocese chinesa e pela difícil situação que atravessa a cidade autônoma devido às pressões exercidas pelo governo de Pequim.

Em uma entrevista concedida ao grupo ACI / EWTN, o Cardeal Zen explicou que em Hong Kong os católicos estão à espera da nova nomeação episcopal. “Há mais de ano e meio que não temos Bispo”, lamentou.

Ele explicou que devido aos recentes protestos contra a nova Lei de Segurança sancionada pelo governo em Pequim, que supõe uma limitação de direitos e da autonomia da cidade, o atual clima é “muito mais político”.

“Eu gostaria de recordar ao Santo Padre que realmente precisamos de um Bispo que seja um bom pastor do rebanho. Lembro-me que ao começo de seu Pontificado nos deu muitas recomendações: ‘Um Bispo deve ser assim, e não deve ser deste outro modo…’. portanto, espero que recorde todas estas coisas e que nomeie um bom Bispo, que não dê muita importância aos aspectos políticos”.

Na entrevista, o Cardeal Zen também expressou a preocupação dos católicos de Hong Kong pela medida autoritária do governo chinês para com esta cidade que outrora foi colônia britânica, e que pretende reduzir sua autonomia e degradar seu sistema democrático.

“Todos sabem que quando Hong Kong ficou submetida à soberania do governo de Pequim, em 1997, nos foi prometido que desfrutaríamos de uma ampla autonomia. Essa autonomia está incluída na lei fundamental que nos permitiu ser uma democracia”.

O Cardeal afirmou que essa promessa de autonomia foi quebrada: “Pouco a pouco nos demos conta de que os comunistas não mantêm suas promessas. Então estalou este movimento de protesto. Neste momento, acredito que todos se uniram a ele porque se fez óbvio que, como colônia, possivelmente não desfrutávamos de democracia, mas desfrutávamos de todas as liberdades. Agora, necessitamos de uma democracia em Hong Kong para salvaguardar as liberdades”.

O purpurado assinalou que com a nova Lei de Segurança pretendeu-se silenciar as vozes dos cidadãos. “Isso é terrível porque é o único que temos, nossas vozes. Neste momento, eu partilho minha voz com todos, sendo cauteloso e sem falar muito, porque isto, agora, é realmente perigoso”.

Na entrevista, o Cardeal Zen recordou os muitos católicos encarcerados na China. “Não tiveram Missa durante anos, mas estão cheios de graça. Eu hoje aconselho a não enfrentar o governo porque pode-se sofrer de forma inútil, e podem tirar tudo de nós. Podem mandar-nos à prisão, e isso não é necessário. Basta manter silêncio. Não acredito que hoje seja fácil sobreviver. Mas precisamos sobreviver e esperar dias melhores”.

Por último, lamentou que “em Hong Kong a situação esteja se tornando igual à do resto da China. Por isso, eu dou o mesmo conselho: não provoquem o governo, porque agora é perigoso, porque podem mandar alguém para a prisão por uma simples palavra pronunciada. Em breve, quando for necessário, poderão dar este testemunho da verdade e de sua fé”.

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