O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, acusou a Igreja a "chamar ao derramamento de sangue". "Nunca tive respeito pelos bispos", disse o ex-guerrilheiro de esquerda que soma 29 anos no poder.

Ele participou na segunda-feira (19) da 25ª formatura dos graduados em ciências policiais, da Academia de Polícia "Walter Mendoza Martínez".

“Eu nunca tive respeito pelos bispos, não podia acreditar nos bispos, em alguns padres, e nessa abordagem havia exceções de padres que tinham uma prática cristã como Gaspar García Laviana, que sem ser nicaraguense teve mais compromisso com o povo", disse Ortega.

Influenciado pela teologia da libertação, o padre espanhol Gaspar García Laviana se tornou guerrilheiro do Exército Sandinista de libertação Nacional, que liderado por Daniel Ortega, derrubou a ditadura de Anastasio Somoza em 1979 e tomou o poder.

As declarações de Ortega acontecem uma semana depois que o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, que está em prisão domiciliar desde agosto, foi acusado de conspiração e difusão de notícias falsas.

Ortega também disse que foi criado “em uma família católica e cristã, mas aprendi com o tempo que, no final das contas, atrás de uma batina está um ser humano. A batina não faz de ninguém um santo, o hábito não faz o monge, é um princípio”.

Ortega relembrou os protestos de 2018 que exigiam seu afastamento do poder. Em particular, ele se referiu a uma intervenção da polícia na cidade de Masaya, onde o regime também atacou a Igreja Católica em várias ocasiões.

“Eles pensavam que a polícia estava vencida e os ataques aconteciam em diferentes quartéis todos os dias, e saíam de alguns templos, não de todos os templos, mas alguns templos onde estavam os fariseus, os sepulcros caiados, eles saíam destes templos e um departamento onde alguns padres até saíam abertamente com a batina, manipulando o sangue, para pedir derramamento de sangue”, disse Ortega.

Depois de dizer que sua "primeira inspiração" para "lutar pelos pobres" foi Cristo, o presidente nicaraguense disse que "não podia confiar nos padres, tinha respeito e carinho por alguns sacerdotes, mas não podia ter respeito ou carinho por outros, por causa de suas atitudes.

“Olhem, a cúpula da Igreja Católica na Nicarágua, os bispos, eram todos somocistas (N.d.R.: seguidores de Somoza), pregavam o somocismo, em nome de Deus santificavam o somocismo. Sim, eram somocistas, e a maior vergonha”.

Nos últimos meses, o governo nicaraguense aumentou sua perseguição contra a Igreja Católica. Estão presos ou exilados vários padres, o núncio apostólico foi expulso, assim como congregações religiosas, e vários meios de comunicação católicos foram fechados.

O estudo "Nicarágua: uma igreja perseguida?" revelou que, sob o governo de Daniel Ortega, a Igreja Católica no país sofreu cerca de 400 ataques nos últimos quatro anos.

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