O presidente do Movimento Comunhão e Libertação, padre Julián Carrón, renunciou ao cargo que ocupa desde 2005, quando morreu o fundador de CL, padre Luigi Giussani.

Numa carta dirigida aos membros da fraternidade de Comunhão e Libertação datada de 15 de novembro, o padre Carrón disse que “neste momento tão delicado da vida do Movimento, decidi apresentar a minha demissão de Presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação, para favorecer que a mudança de condução a que somos chamados pelo Santo Padre – através do Decreto sobre o exercício do governo no seio dos movimentos – transcorra com a liberdade que o processo exige”.

O decreto citado pelo padre Carrón foi publicado a 11 de Junho de 2021 pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e dirige-se às associações de fiéis “que regula o exercício do governo nas associações internacionais de fiéis, privadas e pública, e em outras entidades com personalidade jurídica sujeitas à supervisão direta do mesmo Dicastério”.

O artigo 1 do decreto diz que “os mandatos no órgão de governo central a nível internacional podem ter uma duração máxima de cinco anos cada” e o artigo 2 acrescenta que “uma mesma pessoa pode ocupar um cargo no órgão central de governo em nível internacional por um período máximo de dez anos”.

O padre Julián Carrón escreveu aos fiéis de Comunhão e Libertação que a decisão de renunciar “levará cada um a assumir na primeira pessoa a responsabilidade do carisma”.

“Foi uma honra para mim exercer este serviço durante anos, uma honra que me enche de humildade pelos meus limites e se faltei ao meu dever em relação a algum de vocês”, escreveu Carrón. “Dou graças a Deus pelo dom da companhia de que pude desfrutar, diante do espetáculo do vosso testemunho quotidiano, com o qual aprendi constantemente e com o qual quero continuar a aprender”.

O padre Julián Carrón disse desejar que os membros de CL “vivam esta circunstância como ocasião de crescimento da vossa autoconsciência eclesial, para poderem continuar a testemunhar a graça do carisma dado pelo Espírito Santo a don Giussani, que torna Cristo uma presença real, persuasiva e determinante, que nos investiu e nos arrastou num fluxo de vida nova, para nós e para o mundo inteiro”.

Comissário para os Memores Domini

Em setembro de 2021, o papa Francisco nomeou o arcebispo de Taranto, Itália, dom Filippo Santoro, como delegado especial para supervisionar a Associação dos Memores Domini, os leigos consagrados de Comunhão e Libertação, cargo que assumiu “temporariamente, ad nutum da Sé Apostólica, com plenos poderes, o governo da Associação, para salvaguardar o seu carisma e preservar a unidade dos seus membros”.

Além disso, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida confirmou o padre Gianfranco Ghirlanda, S.J., como “assistente pontifício para os assuntos canônicos relacionados com a Associação”, cargo que ocupa desde julho de 2020.

Padre Ghirlanda foi nomeado por decreto de 26 de junho de 2020. Isso significa que ele deve garantir que nos Memores Domini "haja uma separação clara entre o âmbito de governo da associação e o âmbito da consciência de seus membros” e exista “uma representatividade real dos órgãos de governo da associação”. O padre jesuíta já acompanhou outras realidades eclesiais, como o Regnum Christi dos Legionários de Cristo e o Sodalício de Vida Cristã em seus processos de revisão dos estatutos.

Em 2015, o papa Francisco recebeu os membros da Comunhão e Libertação no Vaticano. Na ocasião, o papa alertou para o perigo de cair nas “nas armadilhas que nos são proporcionadas pela autocomplacência, quando nos admiramos ao espelho e isto nos leva a desnortear-nos, a transformar-nos em meros empresários de uma ONG”.

Da mesma forma, o papa disse que “a referência à herança que o padre Giussani vos deixou não pode reduzir-se a um museu de lembranças, de decisões tomadas, de normas de conduta”, mas os encorajou a “manter aceso o fogo e não adorar as cinzas".

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