“Jesus não criou conferências episcopais”, disse o papa Francisco em entrevista à America, revista dos jesuítas dos EUA. “Não vamos dissolver o poder do bispo reduzindo-o ao poder da conferência episcopal.”

“A conferência episcopal existe para reunir os bispos, para trabalharem juntos, para discutir questões, para fazer planos pastorais. Mas cada bispo é um pastor”, disse o papa na entrevista feita em sua residência no Vaticano na terça-feira passada (22) e publicada ontem (28).

Uma pesquisa feita em 2021 pela revista mostrou que só 20% dos católicos dos EUA consideram a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) “muito confiável”.

Perguntou-se o papa como os bispos dos EUA podem reconquistar a confiança dos americanos.

“A pergunta é boa porque ela fala sobre os bispos”, respondeu o papa. “Mas eu acho que é enganoso falar sobre a relação entre católicos e a conferência episcopal. A conferência episcopal não é o pastor; o pastor é o bispo. Assim, corre-se o risco de diminuir a autoridade do pastor quando se olha apenas para a conferência episcopal.”

“Jesus criou bispos”, disse o papa, “e cada bispo é pastor de seu povo”.

O papa diz que nos EUA há “alguns bons bispos que estão mais à direita, alguns bons bispos que estão mais à esquerda, mas eles são mais bispos do que ideólogos; eles são mais pastores do que ideólogos. Essa é a chave”.

Segundo Francisco, “a graça de Jesus Cristo está no relacionamento entre o bispo e seu povo, a sua diocese”.

O papa Francisco também respondeu se a USCCB deveria priorizar a luta contra o aborto mais do que outras questões. “Esse é um problema que a conferência episcopal tem que resolver por si mesma”, respondeu o papa.

Para Francisco, a atividade de uma conferência episcopal é de nível organizacional, e que no decorrer da história, as conferências se equivocaram algumas vezes.

“Em outras palavras, que fique claro: uma conferência episcopal deve, normalmente, dar a sua opinião a respeito da fé e das tradições, mas acima de tudo sobre a administração diocesana e assim por diante”, disse

“A conferência episcopal ajuda a organizar encontros, e esses são muito importantes; mas para um bispo, [ser] pastor é o mais importante”.

Os entrevistadores perguntaram ao papa sobre abuso sexual por parte do clero, alegando que há falta de transparência quando se trata de acusações contra os bispos, em comparação com o tratamento das acusações contra os padres.

O papa pediu “transparência igual” daqui para frente. “Se houver menos transparência, é um erro”.

A uma pergunta sobre os católicos negros, Francisco disse que está “consciente do sofrimento deles, que os ama muito e que eles devem resistir e não se afastar” da Igreja Católica.

“O racismo é um pecado intolerável contra Deus”, acrescentou. “A Igreja, os pastores e os leigos devem continuar lutando para erradicá-lo e por um mundo mais justo”.

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