O custo financeiro do Caminho Sinodal Alemão, que causa polêmica principalmente por suas decisões sobre homossexualismo, ordenação de mulheres e fim do celibato sacerdotal, continua um mistério.

O porta-voz da Igreja Católica na Alemanha, Matthias Kopp, se recusou em 8 de maio a detalhar os custos do projeto.

A CNA, agência em inglês do grupo ACI, entrou em contato com o porta-voz depois de ver documentos que dizem que a Igreja Católica gastou 5,7 milhões de euros (cerca de R$ 30,8 milhões) no Caminho Sinodal Alemão, processo que reúne leigos e bispos para discutir mudanças na doutrina e na prática católicas.

O número é baseado em dados compilados pela Associação das Dioceses Alemãs, uma instituição legal da Conferência Episcopal Alemã, com sede em Bonn.

Os documentos, que não estão disponíveis publicamente, sugerem que a Igreja gastou mais de 703.195 euros em 2019, 878.035 euros em 2020, 2.231.400 euros em 2021 e 1.900.245 euros; somando um total de mais de 5,7 milhões de euros.

Os documentos vistos pela CNA mostram uma série de despesas como “Consequências do Estudo MHG”, com uma nota explicando que “este centro de custos [Kostenstelle] inclui todos os custos relacionados ao 'Caminho Sinodal' da Conferência dos Bispos Alemães”.

Kopp, porta-voz da Conferência Episcopal Alemã, disse à CNA em 16 de março que os números não se referem apenas ao Caminho Sinodal, mas a todos os gastos após a análise de 2018 dos abusos clericais na Igreja na Alemanha, conhecido como Estudo MHG.

O estudo foi um dos fatores que levaram os bispos alemães a embarcar no Caminho Sinodal, em 2019.

Kopp disse: “No nosso planejamento orçamentário, estabelecemos um orçamento anual de 2,5 milhões de euros sob a definição de custos (Kostenstelle) 'custos consequentes de lidar com o estudo MHG' (ou seja: todos os custos pelo trabalho depois do MHG, que significa o escritório de trabalho contra abuso sexual, gastos correntes de comissões independentes sobre abuso sexual, Caminho Sinodal na Alemanha)”.

Além disso, acrescentou que os números mostravam que os custos caíram "abaixo da estimativa" a cada ano, mas ressaltou que o número para o ano de 2021 estava incorreto.

"Repito: o 'Kostenstelle' inclui os custos de todo (!) o trabalho de lidar com as consequências do Estudo MHG, não apenas o Caminho Sinodal", disse ele.

Ao ser perguntado se poderia fornecer uma análise mais detalhada dos custos do próprio Caminho Sinodal, Kopp disse que não poderia fornecer mais informações.

Como é financiado o Caminho Sinodal?

O custo do Caminho Sinodal é controverso porque a Igreja Católica na Alemanha é financiada por um imposto.

Se uma pessoa se registra como católica na Alemanha, entre 8 e 9% de seu imposto de renda vai para a Igreja. A única maneira de deixar de pagar o imposto é fazer uma declaração oficial renunciando à sua filiação.

Quem faz isso não pode mais receber os sacramentos nem um enterro católico.

Cerca de 27% dos 83 milhões de alemães se identificam como católicos, embora apenas 5,9% deles tenham assistido a uma missa em 2020.

Mais de 220 mil pessoas deixaram a Igreja Católica na Alemanha em 2020.

A Igreja Católica na Alemanha continua sendo uma das mais ricas do mundo. Recebeu mais dinheiro do que nunca em impostos da igreja em 2019, apesar de perder um número recorde de membros, graças ao crescimento da economia alemã.

O imposto eclesial financia grupos como o Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), que há muitos anos defende mudanças na doutrina e na disciplina da Igreja.

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O ZdK fez uma parceria com a Conferência Episcopal Alemã para lançar o Caminho Sinodal.

A Conferência Episcopal Alemã entrou em conflito com a Santa Sé, depois de sugerir inicialmente que o processo do Caminho Sinodal terminaria em uma série de votos "vinculantes".

Os participantes do Caminho Sinodal votaram em fevereiro a favor de projetos de textos que incluíam a abolição do celibato sacerdotal na Igreja Latina, a ordenação de mulheres sacerdotes, bênçãos para uniões homossexuais e mudanças na doutrina católica sobre homossexualidade.

Os críticos do Caminho Sinodal se manifestam

O Caminho Sinodal gerou criticas entre líderes da Igreja Católica fora da Alemanha.

Em abril, mais de 70 bispos de todo o mundo publicaram uma “carta aberta fraterna” aos bispos alemães, alertando que a iniciativa poderia levar a um cisma.

Em março, os bispos católicos nórdicos publicaram uma carta aberta expressando suas fortes reservas à direção do Caminho Sinodal.

Em fevereiro, o presidente da Conferência Episcopal Polonesa, dom Stanislaw Gadecki, publicou uma carta na qual expressou "preocupação fraterna" pela iniciativa.

O Caminho Sinodal também recebeu críticas dentro da Igreja Católica na Alemanha.

Membros de uma iniciativa chamada "Novo Começo" disseram que o processo aprofundaria as divisões entre os católicos.

“O próximo cisma no cristianismo está à porta e novamente ele vem da Alemanha”, disseram.

O bispo de Limburgo e presidente da Conferência Episcopal Alemã, dom Georg Bätzing, negou várias vezes que o Caminho Sinodal leve a um cisma.

Os participantes do Caminho Sinodal citaram o Estudo MHG como base para o argumento de que o celibato sacerdotal deve ser abolido, as mulheres devem ser ordenadas como sacerdotes e a doutrina da Igreja Católica sobre sexualidade deve ser mudada.

O estudo foi criticado como “não científico” e questionado várias vezes pelo bispo de Ratisbona, dom Rudolf Voderholzer, um crítico ferrenho do Caminho Sinodal.

A próxima Assembleia Sinodal, órgão máximo de decisão do Caminho Sinodal, será em Frankfurt, de 8 a 10 de setembro.

A conclusão do Caminho Sinodal está prevista para o primeiro semestre de 2023, tendo em vista o Sínodo sobre a sinodalidade em Roma, que será em outubro do mesmo ano.

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