Uma associação de pais acusa um documento publicado pela igreja alemã de ser baseado nas teorias de um sexólogo caído em desgraça por promover a pedofilia.

O Elternvereins Nordrhein-Westfalen (Círculo de Pais da Renânia do Norte-Vestfália), organização secular independente, disse em uma carta aberta de 12 de maio aos bispos alemães que seus integrantes estavam "estupefatos" pelo fato de que o texto da igreja se cita o trabalho de Uwe Sielert, que está ligado às teorias do psicólogo Helmut Kentler.

Kentler, que morreu em 2008, regularmente colocava crianças sem-teto com pedófilos em Berlim Ocidental, segundo estudo da Universidade de Hildesheim publicado no ano passado.

“Os agentes de prevenção de todas as dioceses alemãs estão atualmente recomendando uma educação sexual baseada nas teorias do conhecido criminoso pedófilo Helmut Kentler, continuadas pelo professor Uwe Sielert, que ainda chama Kentler de 'amigo paternal'”, afirma a carta aberta.

A associação de pais, fundada em 1974 e sediada no estado da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha, pediu aos bispos e representantes diocesanos para "rejeitar esse documento desconcertante".

“Nós, pais, estamos profundamente preocupados com essa mudança de paradigma no entendimento da Igreja Católica sobre sexualidade, uma vez que afeta o trabalho da Igreja em seus muitos grupos de jovens, mas também em jardins de infância e escolas católicas - assim, afeta milhões de crianças.”

A Conferência Federal dos Agentes Diocesanos de Prevenção publicou o “documento de tomada de posição” online em abril, após aprovar o texto em votação feita em janeiro.

A CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI, informou que o documento de 16 páginas, intitulado “Documento de Tomada de Posição sobre a Organização para a Prevenção da Violência Sexualizada e Educação Sexual”, havia desaparecido do site oficial em 17 de maio. Mas parecia ter sido restaurado um dia depois.

A associação de pais disse estar consternada com o fato de o documento de tomada de posição endossar o termo "sexuelle Bildung", associado a Sielert, em vez de seu termo alemão preferido para educação sexual: "Sexualerziehung". “Sexualerziehung” se preocupa em transmitir conhecimento, enquanto “sexuelle Bildung” enfatizava colocar o conhecimento sexual em prática.

O grupo se referiu a um livro de coautoria de Sielert que contém ilustrações de atos sexuais envolvendo crianças e disse que o educador recomendava que os pais promovessem a masturbação.

“Embora o documento cite Sielert literalmente apenas uma vez, todo o texto é marcado pela compreensão dele sobre educação sexual, que é 'incluir todas as faixas etárias e enfatizar os poderes de autoeducação e aquisição do indivíduo,'" diz a carta aberta.

“Essa forma de ‘educação sexual’ representa uma abordagem claramente pedofílica, uma vez que pressupõe uma continuidade das necessidades sexuais de crianças e adultos. Sexualizar crianças desta forma em uma idade precoce não as protege de abusos, e sim abre a porta para abusos.”

A associação acrescentou que Johannes-Wilhelm Rörig, o comissário independente do governo federal alemão para lidar com o abuso sexual de menores, rejeitou as ideias de Sielert e Kentler como "perigosas e contraproducentes".

O Círculo de Pais disse não entender por que a Igreja Católica "quer basear seu trabalho de prevenção nessa 'educação sexual' pedofílica."

“Em vista dos princípios de Sielert, infelizmente não é surpreendente que neste documento ‘Católico’ sobre prevenção e educação sexual as palavras casamento, família, amor e sexualidade como linguagem do amor e força de apego, assim como fonte da vida, não apareçam”, comenta a carta aberta.

O grupo de trabalho da Conferência Federal de Oficiais Diocesanos de Prevenção rebateu as acusações da associação de pais. “Rejeitamos expressamente a alegação da associação de pais de que queremos basear a educação sexual em uma abordagem pedófila”, disse o grupo ao jornal Rheinische Post em 18 de maio.

Segundo o grupo de trabalho, o objetivo do documento foi, "inequivocamente e sem ambiguidade, o fortalecimento das habilidades de linguagem e a expansão da competência de todas as crianças e jovens".

A abordagem à educação sexual foi "baseada nas últimas descobertas da pesquisa e da ciência e que, é claro, leva em consideração todas as medidas de proteção e não desconsidera qualquer forma de violação de limites", disse o grupo.

Sobre as críticas à citação de Sielert no jornal, o grupo de trabalho insistiu que Sielert havia se distanciado "muito claramente" de Kentler há muito tempo.

Um porta-voz da conferência dos bispos alemães disse à CNA Deutsch na segunda-feira que, usualmente, cartas abertas não comentadas.

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O documento de tomada de posição será apresentado à discussão no Caminho Sinodal da Igreja alemã, que reúne bispos e leigos para discutir quatro tópicos principais: a forma como o poder é exercido na Igreja; a moralidade sexual; o sacerdócio; e o papel das mulheres na Igreja. Espera-se que o artigo seja discutido em um fórum sobre “Viver em relacionamentos de sucesso”.

A conferência dos bispos já havia sido forçada a defender o documento no mês passado, quando o texto foi criticado por citar o filósofo francês Michel Foucault. No início deste ano, o escritor franco-americano Guy Sorman acusou Foucault, que morreu em 1984, de abusar sexualmente de crianças enquanto vivia na Tunísia no final dos anos 1960.

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