O beato Francisco de Paula Victor, brasileiro e ex-escravo, apontado pelo papa Francisco como “modelo para todos os sacerdotes, chamados a ser humildes servidores do povo de Deus”, é celebrado hoje, 23 de setembro.

Francisco de Paula Victor nasceu em Campanha (MG), filho da escrava Lourença de Jesus, no dia 12 de abril de 1827. Oito dias depois, foi batizado e sua madrinha foi a dona da fazenda onde nasceu, Marianna Bárbara Ferreira, que teve papel fundamental para sua educação.

Exercia a profissão de alfaiate, mas, em seu coração, Deus o chamava ao sacerdócio. Esse sonho era praticamente impossível na época da escravidão. Dizia-se que, no dia em Francisco de Paula que se tornasse padre “as galinhas começariam a ter dentes”. O futuro beato teve apoio em sua madrinha, que procurou o padre da cidade para saber se seria possível realizar o sonho de Victor.

A oportunidade apareceu em 1848, quando o bispo de Mariana (MG), Dom Antônio Ferreira Viçoso, visitou Campanha. Victor logo o procurou e manifestou o desejo de ser padre, pedido que foi aceito e o alfaiate ingressou no seminário em 5 de junho de 1849. Foi ordenado sacerdote em 14 de junho de 1851 e permaneceu em Campanha como coadjutor até o ano seguinte, quando foi transferido para Três Pontas (MG) como vigário e mais tarde pároco. Só saiu de lá 53 anos depois ao morrer, no dia 23 de setembro de 1905.

Seu ministério foi marcado pela catequese e instrução do povo, edificando a Escola Sagrada Família para crianças e jovens. Padre Victor pregou não só com as palavras, mas pelo seu testemunho de amor a Deus.

Quando morreu, toda a cidade, que já o venerava, foi tomada por grande comoção. Conta-se que seu corpo ficou exposto por três dias e exalava um perfume agradável. Padre Victor foi enterrado Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda, construída por ele.

Em junho de 2015, o papa Francisco autorizou a Congregação para a Causa dos Santos a promulgar decreto concernente ao milagre atribuído à intercessão do sacerdote, que aconteceu com uma moradora de Três Pontas. A professora Maria Isabel de Figueiredo sonhava em ser mãe, mas, descobriu que tinha uma das trompas obstruída e, depois de uma gravidez ectópica (fora do útero), teve que retirar a trompa que estava boa. Isso não a desviou de seu sonho e ela pediu a intercessão de Padre Victor durante uma novena em 2009. Um ano depois, engravidou e deu à luz Sofia.

Padre Francisco de Paula Victor foi beatificado em 14 de novembro de 2015, na cidade de Três Pontas, em celebração presidida pelo então o bispo de Campanha, dom Diamantino Prata de Carvalho. No dia seguinte, após a oração do Ângelus em Roma, o papa Francisco comentou a beatificação.  “Pároco generoso e excelente na catequese e na ministração dos sacramentos, se distingue sobretudo pela sua grande humildade. Possa o seu extraordinário testemunho servir de modelo para todos os sacerdotes, chamados a ser humildes servidores do povo de Deus”, disse na ocasião.