“Heroína da castidade”, assim ficou conhecida Benigna Cardoso da Silva, que será beatificada no dia 24 de outubro, em Crato (CE), após ter seu martírio reconhecido pelo papa Francisco. Mas, no Ceará, a menina também passou a ser considerada símbolo contra o feminicídio. Segundo padre Wesley Barros, coordenador da comissão para a beatificação de Benigna, no Estado há vários registros de mulheres mortas por resistirem a tentativas de abuso sexual, mas o que difere o caso da futura beata é que ela morreu pela fé.

“Aqui, temos que lidar com essas duas realidades: de Benigna símbolo de uma causa social e Benigna símbolo de uma vida em Cristo. As duas vertentes não são antagônicas, mas podem se ajustar sempre a partir do âmbito da fé”, disse o sacerdote à ACI Digital.

Benigna Cardoso da Silva nasceu em 15 de outubro de 1928, em Santana do Cariri (CE). Era muito religiosa e temente a Deus. Padre Barros afirmou que a “pureza de coração” dela “se manifestou no amor à Eucaristia, na frequência à missa, na caridade”. A menina era assediada por um colega de escola e rejeitava as propostas dele. Mas, em uma tarde de sexta-feira, Raul Alves, de 17 anos, sabendo que ela costumava buscar água perto de casa, escondeu-se atrás do mato e a abordou, tentando abusar dela. Como Benigna resistiu e dizia “não” com veemência, o rapaz a golpeou com um facão e a matou.

Na época do assassinato, padre Cristiano Coelho Rodrigues, que foi mentor espiritual da menina, escreveu a seguinte nota ao lado do seu registro de batismo: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”.

Padre Wesley Barros contou que, após alguns anos, o algoz de Benigna, Raul Castro, se converteu e, na década de 1970, testemunhou sobre a morte da menina. Castro contou que, “no momento do martírio, Benigna lutou com uma força incomum para a sua idade, para a sua anatomia raquítica, para a sua adolescência”.

Em outubro de 2019, o papa Francisco reconheceu o martírio de Benigna. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “o martírio é o supremo testemunho dado em favor da verdade da fé; designa um testemunho que vai até à morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Suporta a morte com um ato de fortaleza”.

Também em 2019, o governo do Ceará estabeleceu, por lei, o dia 24 de outubro – data do martírio de Benigna Cardoso – como Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. Na justificativa do projeto, o autor do texto, deputado Nizo Costa (PT), afirmou que pelo ato de resistir ao abuso, Benigna “passou a ser considerada uma heroína pela população local depois de sua morte, por considerarem gesto de coragem apesar da pouca idade na defesa de sua vida”.

Padre Wesley Barros ressaltou, no caso da menina Benigna, “a virtude da pureza”, “o aspecto da fé”. “Nesse sentido, a fé, a virtude está a serviço também de uma fortaleza diante dos males do mundo. Assim que interpretamos a vida de Benigna a partir de uma dimensão da fé, a partir do símbolo que ela também pode significar para todas as pessoas, adolescentes, jovens, que são assediadas. Que todas tenham uma razão profunda e esta razão está no Deus que ela encontrou e testemunhou”, disse.

Para o sacerdote, Benigna Cardoso “é também um encorajamento a todos os jovens a não se deixarem vencer pelas paixões, pelos assédios, a lutarem para preservar a integridade da vida e do amor fundamentado na fé que deve morar no coração de cada um”.

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