Aconteceu ontem (27), em Roma, a 13ª audiência do julgamento contra o cardeal Angelo Becciu, na qual prestou depoimento Tommasso di Ruzza, ex-diretor da Inteligência Financeira do Vaticano.

O processo judicial, de grande complexidade pelo tamanho da causa elaborada pelos promotores há meses e por causa das múltiplas ramificações do caso, tem como principal elemento a compra de um prédio em Londres, Inglaterra, pela Santa Sé em 2014, para sua transformação em apartamentos de luxo.

A compra foi feita, mas a propriedade não pôde ser reformada porque não atendia aos requisitos da lei de planejamento urbano de Londres e as licenças não foram obtidas. O fracasso da operação causou um prejuízo grave aos cofres do Vaticano.

O cardeal Becciu, que na época era o substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, teria se beneficiado de seu cargo, sempre segundo as acusações, para obter 300 milhões de euros em empréstimos do Instituto de Obras de Religião (IOR) e de um fundo suíço de reputação duvidosa para financiar a operação imobiliária.

13ª Audiência

Na sessão de ontem (27), Tommaso Di Ruzza, que foi diretor da Autoridade de Inteligência Financeira do Vaticano entre 2016 e 2021, explicou a gestão de fundos feita pela Secretaria de Estado da Santa Sé durante o tempo em que o cardeal Becciu era seu secretário substituto.

Di Ruzza esclareceu que o IOR pode conceder empréstimos, embora não como instituição de crédito; não é um banco que arrecada fundos públicos e também não está aberto ao exterior, pois não tem filiais fora do Vaticano.

O IOR está autorizado a conceder empréstimos desde 2015, mas é um empréstimo que deve ser feito com garantias, para preservar também a natureza especial da instituição.

Tratava-se de pagar o empréstimo contratado para financiar a compra do prédio em Londres, no valor de 150 milhões, enquanto o que se pedia ao IOR era uma sub-rogação de empréstimo, com taxa de juros de 0,5% ao ano.

Em suma, um empréstimo do IOR significaria uma economia considerável para os cofres da Santa Sé, como também consta no memorando entregue pelo arcebispo dom Edgar Peña Parra, substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé.

Por outro lado, perguntou-se a Di Ruzza se tinha pensado em denunciar as operações, ao que respondeu que esta decisão correspondia à Secretaria de Estado.

Ele ressaltou que nessa situação havia duas opções: denunciar o risco de uma sentença desfavorável nos tribunais de Londres e, por outro lado, reestruturar o investimento, embora isso significasse pagar por um imóvel que a Santa Sé já possuía.

Di Ruzza explicou que todas as decisões foram tomadas diretamente pela Secretaria de Estado e que a Autoridade de Inteligência Financeira se limitou a dar suporte, verificando a viabilidade.

No entanto, nunca houve uma denúncia porque não havia perfis mostrando suposta “atividade de transação suspeita”.

Da mesma forma, o ex-diretor da Autoridade de Inteligência Financeira da Santa Sé explicou que, depois de saber sobre as faturas, eles pediram “informações para acompanhar o fluxo dos movimentos”. Imediatamente depois, “foram acionados os órgãos internos da APSA e do IOR e, em 9 de agosto de 2019, o Corpo de Gendarmaria”.

A Gendarmaria, no entanto, nunca respondeu e disse que “foram 14 reuniões entre a AIF, os gendarmes e os promotores, e eu também representei o pedido do AIF perante os gendarmes. Nunca houve uma resposta e em 1º de outubro descobrimos o porquê”.

“Os máximos representantes do IOR sabiam que a AIF estava fazendo investigações aprofundadas. Gostaria de destacar que todos os níveis sabiam que estava acontecendo a investigação”, destacou.

Becciu prestará seu depoimento em 5 de maio.

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