O diretor editorial do Dicastério para a Comunicação na Santa Sé, Andrea Tornielli, falou ontem, 26 de janeiro, sobre o trabalho de Bento XVI contra os abusos sexuais na Igreja Católica, e pediu para não buscar "fáceis bodes expiatórios" ou fazer "julgamentos sumários".

Em editorial publicado no L'Osservatore Romano, jornal oficial da Santa Sé, e no Vatican News, Tornielli falou sobre o relatório de mais de mil páginas preparado pelo escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl para a arquidiocese de Munique, Alemanha, publicado oficialmente em 20 de janeiro> O relatório inclui uma acusação contra Bento XVI por suposta má gestão de quatro casos de abuso sexual quando ele era arcebispo de Munique de 1978 a 1982.

Bento XVI negou alegações de encobrimento, enviando aos investigadores um documento de 82 páginas.

“As palavras usadas durante a coletiva de imprensa para apresentar o relatório sobre abusos na diocese de Munique, assim como as setenta e duas páginas do documento dedicado ao breve episcopado do cardeal Joseph Ratzinger na Baviera, encheram as páginas dos jornais na última semana e provocaram alguns comentários muito fortes”, escreveu Tornielli.

“O papa emérito, com a ajuda de seus colaboradores, não fugiu às perguntas dos advogados encarregados pela diocese de Munique de redigir um relatório que examina um período de tempo muito longo, desde o episcopado do cardeal Michael von Faulhaber até o do atual cardeal Reinhard Marx. Bento XVI respondeu com 82 páginas, depois de poder examinar parte da documentação dos arquivos diocesanos”, destacou.

"Como era previsível, foram os quatro anos e meio de Ratzinger à frente da diocese bávara que monopolizaram a atenção dos comentários", acrescentou.

Tornielli disse que "algumas das acusações" contra o papa emérito "já eram conhecidas há mais de dez anos e já tinham sido publicadas pelos principais meios de comunicação internacionais".

"Agora há quatro casos contra Ratzinger, e seu secretário particular, dom Georg Gänswein, anunciou que o papa emérito fará uma declaração detalhada após ter terminado de examinar o relatório."

“Enquanto isso”, disse Tornielli, “pode ser repetida com força a condenação destes crimes, sempre reiterada por Bento XVI, e recordar tudo o que foi feito nos últimos anos na Igreja a partir do seu pontificado”.

Tornielli disse que "não se deve esquecer que Ratzinger, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé já havia combatido o fenômeno na última fase do pontificado de são João Paulo II, do qual era um colaborador muito próximo".

“Depois que se tornou papa, promulgou normas e regulamentos extremamente duros contra os abusadores”, lembrou.

“Além disso, Bento XVI testemunhou, com o seu exemplo concreto, a urgência da mudança de mentalidade tão importante para combater o fenômeno dos abusos: a escuta e a proximidade das vítimas às quais deve-se sempre pedir perdão”, disse.

Tornielli disse que "foi o próprio Joseph Ratzinger o primeiro papa a encontrar as vítimas de abusos várias vezes durante suas viagens apostólicas".

“Foi Bento XVI, mesmo contra a opinião de muitos autodenominados "ratzingerianos", que, em meio à tempestade de escândalos na Irlanda e na Alemanha, propôs o rosto de uma Igreja penitencial, que se humilha em pedir perdão, que sente consternação, remorso, dor, compaixão e proximidade.”

Tornielli também destacou que as palavras de Bento XVI condenando os abusos sexuais na Igreja foram acompanhadas “por fatos concretos na luta contra o flagelo da pedofilia clerical. Tudo isso não pode ser esquecido nem apagado”.

O diretor editorial da Santa Sé disse que "as reconstruções contidas no relatório de Munique, que - é preciso lembrar - não são um inquérito judicial, muito menos uma sentença definitiva, ajudarão a combater a pedofilia na Igreja se não forem reduzidas a uma busca de fáceis bodes expiatórios e julgamentos sumários”.

"Somente evitando estes riscos poderão contribuir para uma busca da justiça na verdade e para um exame de consciência coletivo sobre os erros do passado", concluiu.

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