No dia 15 de agosto, a Igreja celebra a solenidade da Assunção da Virgem Maria e diversas devoções marianas, como Nossa Senhora da Glória, da Boa Viagem, da Boa Morte, da Guia, da Abadia, da Ponte. Segundo o especialista em mariologia Vinícius Paiva, todos esses títulos “giram em torno do mistério da Assunção, que é um dogma da nossa fé”.

Em 1950, através da constituição apostólica Munificentissimus Deus, o papa Pio XII definiu esse dogma, ao afirmar que “a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.

Segundo Vinícius Paiva, esse “mistério da fé” pode ser contemplado por diferentes ângulos e, “dependendo do ângulo que você contempla, tem uma devoção que se desenvolve”. Assim, “por exemplo, se você olha para o mistério da Assunção e enxerga nele a confirmação da vitória sobre a morte alcançada com a ressurreição de Cristo, confirmada com a Assunção de Maria, essa Nossa Senhora passa a ser Nossa Senhora da Boa Morte, porque a morte não é mais o fim, não tem mais domínio sobre Maria, por isso, seu corpo, sua pessoa viva é assunta aos céus. Nós estamos contemplando o dogma da Assunção pelo ângulo da morte. Agora, se contemplar sobre o ângulo da glória, essa Maria assunta aos céus é Aquela que foi glorificada, que está na glória”, disse.

Entre as diversas devoções a Nossa Senhora recordadas em 15 de agosto, algumas chamam a atenção por seus títulos diferentes ou por serem mais locais. Uma dessas é Nossa Senhora da Ponte, padroeira da cidade e arquidiocese de Sorocaba (SP). Nessa cidade está a única catedral que venera a Mãe de Deus com este título.

Segundo o site da catedral de Sorocaba, esta devoção de origem portuguesa pode ter uma explicação geográfica e outra teológica. “A primeira seria a capela junto a uma ponte na cidade de Ponte de Lima, em Portugal, existente até hoje. A outra nasce da função de todas as pontes: unir o que está separado, aproximar o que está distante, encurtar as distâncias, pois ao gerar em seu virginal ventre o Salvador Maria torna-se essa ‘ponte’ que une o céu à terra e assim nos aproxima de Deus”.

Enfim, afirmou Vinícius Paiva, “o mesmo mistério comporta diferentes ângulos de contemplação e, portanto, diferentes devoções. O ponto central é o mistério da Assunção de Maria, é esse dogma que está brilhando, que a Igreja celebra como uma solenidade no dia 15 de agosto, e estas devoções, esses títulos derivam dessa solenidade, dessa contemplação”.

O padre Márcio Ruback, do santuário Nossa Senhora da Abadia, em Romaria (MG), chamou a atenção para o fato de que, embora sejam diferentes títulos atribuídos à Virgem Maria e com imagens diferentes, todas essas imagens das devoções celebradas em 15 de agosto “mostram Maria assunta aos céus, com os anjos em volta”. No caso da Abadia, o sacerdote afirmou que esse termo significa “casa do Pai”, ou seja, “é a Virgem Maria que volta para o Pai”.

Assim como Nossa Senhora da Ponte, também Nossa Senhora da Abadia e outras devoções marianas celebradas em 15 de agosto tiveram origem em Portugal e hoje estão enraizadas no Brasil, honradas como padroeiras de diferentes cidades. Entre elas, estão Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira de Belo Horizonte; Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, padroeira de Andrelândia (MG); Nossa Senhora da Guia, padroeira de Acari (RN), cuja igreja foi elevada a basílica menor em março deste ano.

Segundo o especialista em mariologia, Vinícius Paiva, “nossa devoção mariana do Brasil é muito devedora, quase em sua totalidade, a Portugal”. Apesar de haver no país algumas devoções por influência de outras culturas, Paiva disse que, “em função da colonização portuguesa e do fato de o povo português ser bastante mariano, desde a época que o Brasil foi colonizado, essas devoções foram trazidas de Portugal e nós acabamos assumindo os desdobramentos do caráter devocional do povo português. É uma boa herança”.

“Todas as igrejas, as devoções, as confrarias, as irmandades, os títulos, as imagens marianas, o próprio costume brasileiro de se reportar a uma imagem da Virgem Maria, isso se deve à grande devoção da cultura portuguesa à pessoa de Maria” e que veio para o Brasil como uma “bonita contribuição para a nossa formação católica”, disse.

Festejos por todo o país

Como muitas cidades e dioceses no Brasil possuem Nossa Senhora como padroeira e a celebram em 15 de agosto, em diferentes partes do país é possível encontrar uma grande festa dedicada à Mãe de Deus neste dia. Uma dessas celebrações é de Nossa Senhora da Abadia que, segundo padre Ruback, “é a quarta maior devoção do Brasil em número de fiéis e a maior de Minas Gerais”, chegando a reunir 500 mil pessoas. 

Em Fortaleza (CE), que tem como padroeira Nossa Senhora da Assunção, a Caminhada com Maria é um tradicional evento em honra à Virgem. Em 2019, reuniu mais de 2 milhões de pessoas pelas ruas da cidade. Os fiéis fazem um percurso de aproximadamente 12,5 quilômetros entre o santuário de Nossa Senhora da Assunção e a catedral metropolitana. Em 2015, foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil. 

Em Belo Horizonte, cuja padroeira é Nossa Senhora da Boa Viagem, a festividade também possui um tradicional evento chamado Caminhada com Maria. A imagem da Virgem é levada por diversas igrejas da cidade dedicadas a Maria. 

Para o especialista em mariologia, Vinícius Paiva, “é muito importante nos locais onde se celebram esses feriados religiosos dedicados a Maria que se viva de maneira digna, de maneira honrosa, de maneira celebrativa, comunitária, para que se mantenha viva a cultura da devoção mariana” frente a uma “tendência de laicidade” na sociedade.

Paiva afirmou que tais celebrações possuem uma importância histórica e cultural no Brasil, mas sobretudo religiosa. Segundo ele, os católicos devem aproveitar as celebrações de 15 de agosto para “celebrar o nosso amor filial à Virgem Maria, reconhecer no dogma da Assunção a nossa própria vocação ao céu. O céu, a eternidade com Deus, não pode ser esquecido”.

“Celebrar o dogma da Assunção e todos os outros títulos vinculados a esse acontecimento da nossa fé é sim reavivar a nossa vocação ao céu, aquilo que será a nossa condição final. Maria já é aquilo que seremos e Ela já está onde um dia estaremos”, concluiu.

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