O Arcebispo Caldeu de Erbil (Iraque), Dom Bashar Warda, disse que não é suficiente que os muçulmanos digam que o Estado Islâmico (ISIS) não os representa, pois os cristãos no Iraque “necessitamos de mais”.

“Não é suficiente dizer ‘o ISIS não representa o Islã’. Precisamos de mais”, disse e encorajou os países muçulmanos a “dar um passo adiante a fim de ajudar a reconstruir os povos cristãos, os povos yazidis, mostrar algum sinal de solidariedade”.

Em um discurso na Universidade de Georgetown (Estados Unidos), em 15 de fevereiro, o Arcebispo iraquiano assegurou que os líderes dos países muçulmanos e ocidentais podem ajudar muito a proteger as minorias religiosas e a conseguir reconstruir as suas comunidades.

“Nós, cristãos, que sofremos perseguições com paciência e fé durante mil e quatrocentos anos, agora enfrentamos uma luta existencial. Possivelmente, será a última luta que enfrentaremos no Iraque”, disse.

“Sem o fim desta perseguição e violência, não há futuro para o pluralismo religioso no Iraque ou em qualquer lugar do Oriente Médio”, advertiu.

Depois de sofrer o ataque do ISIS em 2014, mais de 125 mil cristãos deixaram a Planície de Nínive, no Iraque.

Em uma só noite, o ISIS tomou quase tudo na zona, deixando os cristãos “sem abrigo, sem refúgio, sem trabalho, sem propriedades, sem mosteiros, sem a capacidade de participar de qualquer coisa que dá dignidade às nossas vidas”.

“E, mesmo assim, ainda estamos lá, flagelados, feridos, mas ainda estamos lá”, afirmou.

“Poucos estão lá, alguns calculam que 200 mil cristãos ou menos”, disse Dom Warda.

Entretanto, precisou que, “embora seja verdade que os nossos números são pequenos, os apóstolos eram ainda menos”.

Perdoam os assassinos do ISIS

O Arcebispo Caldeu de Erbil assegurou que os cristãos iraquianos “perdoamos aqueles que nos assassinaram, que nos torturaram, que nos violaram, que tentaram destruir tudo sobre nós”. “Nós os perdoamos em nome de Cristo”, disse.

“Nós dizemos isso aos nossos vizinhos muçulmanos: aprendam isso de nós. Deixem-nos ajudá-los a curar. Suas feridas são tão profundas quanto as nossas. Rezamos pela sua cura. Deixem-nos curar juntos os nossos países feridos e torturados”.

Dom Warda indicou que “há uma crise fundamental dentro do próprio Islã e se essa crise não for reconhecida, abordada e organizada, então não pode haver futuro para os cristãos no Oriente Médio”.

“Nós ouvimos algumas vozes corajosas de líderes islâmicos em relação à necessidade de mudança e à necessidade de abordar este tema abertamente. Isso deveria ser encorajado”, afirmou.

Nesse sentido, o Arcebispo reconheceu o trabalho dos Emirados Árabes Unidos, que “desde o ataque do ISIS estiveram conosco ajudando todos: católicos, yazidis e muçulmanos”.

Entretanto, o Prelado continua trabalhando a fim de conseguir soluções sustentáveis ??para a reconstrução da sua comunidade no norte do Iraque e vê com esperança a nova Universidade Católica de Erbil, que recentemente abriu as suas portas graças ao apoio financeiro da Conferência Episcopal Italiana.

Atualmente, a universidade acolhe 82 alunos, cristãos e muçulmanos, que estudam economia, direito internacional, literatura inglesa, contabilidade, entre outras faculdades. Calcula-se que possa receber até 700 alunos.

Dom Warda também fez um apelo aos católicos no Ocidente a fim de que ofereçam ajuda espiritual, moral, política e material aos cristãos iraquianos, enquanto reconstroem as suas comunidades.

“Como o Ocidente reagirá? A minha pergunta não é retórica. Os cristãos no Oriente Médio querem saber a resposta”, disse.

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