Quase ninguém lê, muito menos compra poesia, no entanto, durante séculos, se não milênios, os poetas foram considerados sábios visionários, cronistas de seu tempo e pessoas que podiam colocar em palavras o que os demais simplesmente aspiravam alcançar.

Mas assim como na antiguidade temos Homero e Virgílio, com o surgimento do cristianismo também surgiram grandes autores. A seguir, apresentamos cinco poetas:

1. Dante Alighieri (1265-1321)

“Dante e Shakespeare dividem o mundo entre eles, não há um terceiro”, assim disse o poeta anglicano T.S. Eliot, e ele provavelmente não estava errado. Mesmo que Dante não tivesse escrito sua "Comédia" - o adjetivo "Divina" veio logo após sua morte -, sua obra La Vita Nuova teria sido suficiente para lhe garantir um lugar na posteridade.

Ele, no entanto, escreveu a grande epopeia da trilogia cristã - embora a maioria das pessoas pare depois do Inferno - e durante a década de 1990 Dante teve entre seus tradutores ao inglês o ganhador do prêmio nobel Seamus Heaney, o poeta Robert Pinsky e W.S. Mervin.

Parte da atração é que Dante faz o que todos nós gostaríamos de fazer: depois de descer ao Inferno, subir ao Purgatório e depois ao Céu, e viver para contar a história. O fato de o poeta ter narrado essa viagem com um esquema conhecido como terza rima torna algumas partes particularmente memoráveis; de fato, a oração de são Bernardo à Santíssima Virgem Maria reaparece na Divina Comédia.

O próprio Dante era um católico sério, e papas como Bento XV, são Paulo VI e Francisco elogiaram sua genialidade e contribuição ao catolicismo.

2. São João da Cruz (1542-1591)

São João da Cruz compôs "A Noite Escura da Alma", título universalmente conhecido. No entanto, o santo espanhol foi um daqueles poetas que "viu o crânio debaixo da pele" e a alma dentro do cérebro.

Suas "Canções da alma que se alegra por ter alcançado o alto estado de perfeição, que é a união com Deus, pelo caminho da negação espiritual", traçam com notável celeridade e clareza, quão rápido a alma pode acabar em uma união mística com Nosso Senhor: “com sua mão serena / em meu colo soprava / e meus sentidos todos transportava”. Este poema também se encontra na Liturgia das Horas. O fato de são João ter composto a maior parte de sua poesia enquanto estava preso nas mãos da Ordem Carmelita, que tentava reformar, lhe dá ainda mais vigor e asas.

3. Alexander Pope (1688-1744)

Nasceu em uma família católica e foi educado principalmente em casa, até os doze anos, por padres católicos, porque as leis tornavam o anglicanismo a religião do Estado e impediam os membros de outras confissões de ter acesso uma educação convencional inclusive na universidade.

Pope, que frequentou algumas escolas católicas clandestinas e foi autodidata, sofria da doença de Pott, que afetou sua coluna e atrasou seu crescimento, por isso sua altura era de 1,37 metro.

Desde que se recusou a se render à nova igreja da coroa da Inglaterra, foi proibido de morar em Londres e, portanto, foi deixado de fora do cânone da era de Augusto da Inglaterra, com Jonathan Swift, Samuel Johnson e Samuel Pepys.

O que Alexander Pope fez? Ele escreveu poesias cujos versos são citados até hoje em diversos idiomas: "Um pouco de conhecimento é algo perigoso", "Os tolos precipitam-se onde os anjos temem pisar" e o inesquecível "Errar é humano, perdoar é divino."

Não contente em escrever alguns dos versos mais famosos da poesia inglesa, Pope também construiu seus famosos Jardins de Twickenham, permitindo que seu círculo literário saísse de Londres e o visitasse.

4. Santo Efrém, o Sírio (306-373)

Também conhecido como santo Efrém diácono e “A Harpa do Espírito Santo”, foi o eclesiástico que compreendeu a importância dos hinos, das canções inspiradas e da poesia não só na piedade popular, mas também na própria liturgia.

Como Pope, o que importa é toda a obra de santo Efrém, não tanto as obras individuais. E como são João da Cruz ele era certamente um místico, mas também um asceta.

A descrição de Alban Butler de santo Efrém é reveladora: “Sua aparência era certamente a de um asceta: ele era de baixa estatura, nos dizem, calvo, sem barba, com a pele enrugada e seca como um caco de cerâmica; sua roupa era toda remendada, da cor da sujeira, chorava muito e nunca ria”.

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Apesar de sua extrema sobriedade e de se recusar à ordenação, inclusive ao diaconato que lhe foi imposto mais tarde em sua vida, ironicamente santo Efrém nos deu e nos dá alegria através de seus cantos e hinos, que são a glória da Igreja siríaca e seus inspirados poemas que, mesmo traduzidos continuam sendo edificantes.  

5. Gerard Manley Hopkins (1844-1889)

Gérard Manley Hopkins se converteu ao catolicismo e mais tarde foi ordenado padre jesuíta. É um dos raros inovadores da poesia vitoriana, embora sua fama e inovações, como o chamado "ritmo saltado", tenham sido reconhecidas apenas depois de sua morte.

Hopkins estava tão à frente em termos de invenção poética que ninguém sabia o que fazer com isso, até que o modernismo (1900-1950) reconheceu que nele a poesia inglesa havia dado um grande salto.

Seu uso do cavalgamento (passar de uma linha para outra) é impressionante e impulsivo. Por exemplo, no poema "A grandeza de Deus": "Reúne em uma grandeza, como o exsudato de óleo / Esmagado". Em todas as outras eras, a palavra "Esmagado" apareceria na mesma linha de "óleo"; mas Hopkins entendeu o nível visual (assim como o sonoro) da poesia, e a queda dessa palavra a torna ainda mais eficaz.

Hopkins era um britânico convertido ao catolicismo e sua adesão à Companhia de Jesus o afastou de sua família por um tempo. No entanto, sua influência sobre os poetas da primeira metade do século XX não pode ser subestimada e meia dúzia de seus poemas aparecem nos quatro volumes do Ofício Divino.

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