A causa de beatificação do famoso escritor e apologista inglês Gilbert Keith Chesterton não será aberta por enquanto, conforme anunciado por Dom Peter Doyle, Bispo de Northampton (Reino Unido), a diocese natal de Chesterton.

Apesar dos escritos inspiradores de Chesterton e seu papel no renascimento católico na Inglaterra, no início do século XX, vários obstáculos impedem o avanço da causa de beatificação do autor, disse Dom Doyle em uma carta lida durante a sessão de abertura da conferência da Sociedade Americana de Chesterton.

As três preocupações citadas por Dom Doyle são que Chesterton não tem um "culto" de devoção local, a falta de um "padrão de espiritualidade pessoal" que poderia ser discernido através de seus escritos e as acusações de antissemitismo em seus escritos.

“Sou muito consciente da devoção a G.K. Chesterton em muitas partes do mundo e de sua influência inspiradora em tantas pessoas, e isso torna difícil comunicar a conclusão a qual cheguei”, disse o bispo, de acordo com o meio britânico ‘Catholic Herald’.

Dom Doyle elogiou "a bondade de Chesterton e sua habilidade para evangelizar", mas disse que não poderia abrir a causa neste momento.

“… Não posso promover a causa de G.K. Chesterton por três razões. Primeira, e mais importante, não há culto local. Em segundo lugar, não consegui decifrar um padrão de espiritualidade pessoal. E, em terceiro lugar, mesmo levando em consideração o contexto da época de G.K. Chesterton, a questão do antissemitismo é um obstáculo real, particularmente neste momento no Reino Unido”, disse na carta.

Em entrevista ao semanário católico espanhol ‘Alpha y Omega’, Dom Doyle disse que, enquanto Chesterton se posicionava firmemente contra os nazistas, estereotipava os judeus em formas preocupantes em alguns de seus escritos.

Como exemplo, ‘Alpha y Omega’ assinalou que em ‘The New Jerusalem’, um livro escrito em 1920 por Chesterton, argumentou que os judeus precisavam ter uma nação separada para "viver, na medida do possível, em uma sociedade judaica governada pelos judeus". Também defendia que os judeus deveriam usar roupas diferentes em público para poder distingui-los.

The Society of Gilbert Keith Chesterton argumenta que a acusação de antissemitismo contra Chesterton é falsa, dado que o homem disse uma vez: "O mundo deve a Deus e aos judeus" e "morrerei defendendo o último judeu na Europa".

Chesterton foi "um homem que odiava o racismo e as teorias raciais e que lutou pela dignidade humana e sempre afirmou a irmandade de todos os homens", afirma a sociedade em seu site.

Pe. John Udris, que serviu como investigador da causa de Chesterton, disse a ‘Catholic Herald’: "Eu não invejo o bispo Peter por ter que tomar uma decisão com tão grandes implicações".

“Claro que é uma decepção. Mas a investigação foi um grande privilégio. Conhecer melhor Chesterton certamente mudou minha vida para melhor”, acrescentou.

Pe. Benedict Kiely, um sacerdote que afirma que a intercessão de Chesterton ajudou a curar sua mãe de sepse, disse que a decisão mostra que a hierarquia católica inglesa está em uma "névoa de mediocridade", uma frase elaborada pelo autor Hilaire Belloc.

“A decisão do atual Bispo de Northampton de não buscar a causa da canonização de G.K. Chesterton indica que a névoa ainda não passou”, disse Kiely a ‘Catholic Herald’.

Segundo sua entrevista a ‘Alfa y Omega’, Dom Doyle disse que é possível que seu sucessor reabra a causa. Dom Doyle tem 75 anos e já apresentou sua renúncia ao Papa Francisco.

"Não gostaria de ser um obstáculo para isso, além de declarar as conclusões as quais cheguei", disse o bispo.

Chesterton nasceu em 1874 e se tornou escritor prolífico e apologista católico após sua conversão à fé. Ele é conhecido por escrever clássicos apologéticos como "Ortodoxia" e "O Homem Eterno", bem como por sua série fictícia "Padre Brown", entre muitos outros trabalhos. Morreu em 1936.

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