Quando, em 1500, Pedro Álvares Cabral chegou às terras que mais tarde se tornariam o Brasil, com ele e suas caravelas chegou também a Mãe de Deus, sob a imagem de Nossa Senhora da Esperança. De lá para cá, a devoção mariana foi crescendo, ao ponto de se tornar um elemento de “identidade e consolidação do catolicismo” no país. Hoje, segundo o membro da Academia Maria de Aparecida, frei Jonas Nogueira da Costa, “quando se pensa nessa consolidação, é importantíssimo pensar em Aparecida, que é o grande elemento de identidade territorial”.

Frei Jonas da Costa, da Ordem dos Frades Menores, é doutor em Teologia Sistemática, com pesquisa em Mariologia. Em entrevista à ACI Digital, ele falou sobre a importância da devoção mariana para a Igreja Católica no Brasil e lembrou que esta devoção está presente no país desde a colonização.

“Em toda América Latina, a devoção mariana chegou com os colonizadores, em uma vertente em favor de Portugal e Espanha. Nesse sentido, a devoção mariana que aqui chega é toda pautada em moldes europeus, especificamente da Península Ibérica. Mas, chegando ao Brasil, a devoção mariana vai construindo um rosto muito nosso”, disse, ressaltando um contexto onde ainda havia pouca presença estruturada da Igreja, com poucos sacerdote e, consequentemente, poucas missas. “Nesse sentido, a devoção foi o grande canal, o grande modo no Brasil colônia de implantação do catolicismo”, disse.

O franciscano destacou que um “ponto relevante” sobre as “origens da devoção mariana no Brasil é que Maria já chega na frota de Pedro Álvares Cabral”, quando os portugueses trouxeram “dois signos marianos”. “O primeiro foi um quadro de Nossa Senhora da Piedade, diante do qual era celebrada diariamente a missa, e o outro era a imagem de Nossa Senhora da Esperança, que de fato foi a primeira imagem de Nossa Senhora que aportou em solo brasileiro”.

Para o pesquisador, “é importante dizer isso, que o Brasil nasce sob o signo de Nossa Senhora da Esperança e isso é algo que diz muito para nosso povo, diante de tantas dificuldades que enfrentamos: Maria chega ao nosso país anunciando esperança a todos”.

Segundo frei Jonas da Costa, a “primeira igreja construída no Brasil foi no ano de 1535, na Bahia, dedicada a Nossa Senhora da Graça”. A partir de então, a devoção mariana vai se consolidando “com a presença das escolas católicas vindas da Europa, das missões jesuítas, do processo de evangelização do Brasil como um todo”.

“No período em que faltavam padres e, consequentemente havia poucas missas, a devoção mariana foi o que sustentou o catolicismo no Brasil, com as novenas, os terços, inclusive, com as bendições e outras dimensões que invocavam a Virgem Maria em sua proteção, no seu lugar de importância, de intercessora junto com o povo”, afirmou.

Frei Jonas Nogueira da Costa.

Segundo o pesquisador, “a devoção mariana vai constituindo a nossa identidade e é importantíssimo, quando pensamos nessa identidade nacional e consolidação do catolicismo, pensar em Aparecida, porque o sinal de Aparecida é o grande elemento de identidade territorial, que vai nos conferir uma consciência de brasileiros, que têm na Igreja Católica seu grande referencial tanto religioso quanto social”.

A imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi encontrada pelos pescadores em 1717, no rio Paraíba. Em um primeiro momento, foi levada para a casa de um dos pescadores e já começou a atrair fiéis da vizinhança que iam rezar à Virgem. A devoção foi crescendo no meio do povo e graças foram alcançadas por aqueles que rezavam diante a imagem. Assim, a devoção se espalhou por todo o Brasil. Daquela casinha de pescador, a imagem foi para uma capela, que depois se tornou uma igreja maior (a atual basílica velha) e, mais tarde, veio a necessidade de um santuário ainda maior, o atual Santuário Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP).

Em 8 de setembro de 1904, a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi coroada como Rainha do Brasil. E, em 31 de maio de 1931, Nossa Senhora Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil, após o papa Pio XI ter assinado decreto no ano anterior conferindo este título à Mãe Aparecida.

Segundo frei Jonas da Costa, Nossa Senhora Aparecida é a grande devoção mariana no Brasil. Mas, junto com ela “é preciso falarmos de Nossa Senhora de Nazaré”, cuja celebração em Belém (PA), o Círio de Nazaré, “é a maior procissão mariana do mundo, então, tem sua força muito grande”.

Além disso, há devoções como Nossa Senhora da Penha, no Espírito Santo, Nossa Senhora do Rocio, no Paraná, entre outras. Essas “grandes devoções importantíssimas são sempre contextualizadas em Estados ou grandes regiões e gozam de certas particularidades de acordo com acesso ao santuário, a história”, disse o franciscano. “São sempre histórias que falam para todos nós de elementos da vida cotidiana, de intervenções da Mãe de Deus, sinais vivos que marcam para todos nós que Deus não abandona o seu povo”.

Frei Jonas da Costa ressaltou ainda que, apesar de toda a variedade de títulos da devoção mariana, trata-se apenas de uma única e mesma Virgem Maria. “O Concílio Vaticano II e, depois, Paulo VI com a (exortação apostólica) Marialis cultus, pontuou muito bem a questão da Mariologia e da devoção mariana: tem que se partir das Sagradas Escrituras”.

“Não existem ‘Marias’, existe a Mãe do Senhor que conhecemos nas Sagradas Escrituras e que continua caminhando conosco em diferentes lugares, com diferentes sinais de amor, com diferentes convites de conversão. A partir das Sagradas Escrituras, esse é o grande princípio metodológico para não cairmos na ideia de que são várias Nossas Senhoras. Não, é uma Senhora só, uma Mãe de Deus só, a Mãe de Jesus, a jovem simples de Nazaré que caminha conosco”, disse.

“É importante que, desde o cristianismo antigo, nunca compreendemos Maria como alguém do passado”, diz o religioso. “Maria é uma realidade viva para o povo cristão. E, enquanto realidade viva no coração do povo cristão, essa forma como alguém que é Mãe, intercessora, que caminha com o povo deixa sua marca muito clara em locais como os santuários”. Eles são lugares “da experiência de Deus”, onde “o povo se encontra e celebra sua fé”, declarou.

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