O cardeal Joseph Zen disse acreditar que o papa emérito Bento XVI será um “poderoso intercessor no Céu” pela Igreja Católica na China.

 

Em reflexão publicada hoje (3) em seu blog, Zen recorda Bento XVI como “um grande defensor da verdade” que realizou ações “extraordinárias” para apoiar a Igreja na China, apesar de muitas contrariedades.

 

“Como membro da Igreja na China, sou imensamente grato ao papa Bento por ter feito coisas que não fez por outras Igrejas”, escreve Zen.

 

O cardeal de Hong Kong recorda, particularmente, a carta à China de Bento XVI de 2007, que Zen chama de “uma obra-prima de equilíbrio entre a lucidez da doutrina eclesiológica católica e a compreensão humilde em relação à autoridade civil”.

 

Zen também critica “erros” na tradução oficial chinesa da carta de Bento XVI, que ele disse acreditar conter “citações tendenciosas contra o sentido óbvio da carta”.

 

“Outra coisa extraordinária que ele fez pela Igreja na China foi a constituição de uma poderosa Comissão para cuidar dos assuntos da Igreja na China; infelizmente, sob o novo presidente da referida Comissão, ela foi feita para desaparecer silenciosamente, sem sequer uma palavra de despedida respeitosa”, acrescenta o cardeal.

 

Segundo a agência de notícias francesa AFP, o bispo emérito de Hong Kong, preso no ano passado sob a lei de segurança nacional da cidade, foi autorizado pela Justiça chinesa a viajar a Roma esta semana para o funeral de Bento XVI. Após o passaporte de Zen ter sido confiscado pelas autoridades, um magistrado decidiu hoje que o cardeal de 90 anos tem permissão para deixar Hong Kong por cinco dias para o funeral do papa emérito na quinta (5).

 

Bento XVI nomeou Zen cardeal em 2006 e escolheu-o para escrever as meditações para a Via Sacra papal no Coliseu em 2008, um ano antes da aposentadoria de Zen como bispo de Hong Kong.

 

Zen, que durante a sua aposentadoria criticou abertamente o acordo provisório da Santa Sé com Pequim, disse não acreditar que Bento XVI tenha ficado calado após renunciar ao papado.

 

“Parece-me exatamente o contrário: precisamente porque há confusão na Igreja, um papa emérito, como todo bispo e cardeal, desde que tenha fôlego e esteja em seu juízo perfeito, deve cumprir seu dever de Sucessor dos Apóstolos de defender a sã tradição da Igreja”, disse.

 

“Em momentos cruciais, até o papa Francisco aceitou esta contribuição de seu antecessor, como quando defendeu o celibato sacerdotal da Igreja Romana na polêmica sobre a proposta de ordenar 'viri probati'”, acrescenta, referindo-se à hipótese de acabar com o celibato sacerdotal orbigatório que foi aventada no sínodo da Amazônia, em 2019.

 

Zen sublinha que vê Bento XVI como um papa que “muitas vezes foi incompreendido e às vezes não seguido”, mas disse que é “precisamente nesses casos, que parecem falhas, que pude admirar sua grande fortaleza e magnanimidade diante das contrariedades.”

 

“Apesar de seus grandes esforços, o papa Bento XVI não conseguiu melhorar a situação da Igreja na China. Ele não podia aceitar um compromisso qualquer”, disse o cardeal chinês.

 

O cardeal, nascido em Xangai, acrescenta que está “convencido de que todo esforço para melhorar a situação da Igreja na China [no futuro] deverá ser feito de acordo com a Carta de 2007”.

 

“Ao nos lembrarmos do grande pontífice, lembremos que agora o temos como um poderoso intercessor no Céu. Com sua intercessão, rezamos para que todos, a Igreja em Roma, a Igreja na China e as autoridades chinesas sejam movidas pela graça de Deus para trazer a verdadeira paz para a Igreja e nossa pátria”, diz Zen.

 

Confira também: