Segundo o líder da Comitiva da Santa Sé na Rio+20, o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, a Reunião da ONU sobre desenvolvimento sustentável deixa um balanço positivo apesar de algumas lacunas como por exemplo “a contribuição dos países ricos, daqueles que mais poluem, para formar um fundo a partir do qual possa ser financiada a economia limpa”.

O Cardeal também teve a oportunidade de oferecer, nesta sexta-feira 22 um discurso à presidente Dilma Rousseff um discurso no qual destacou a importância da defesa da vida em todas as suas fases e da dignidade humana para a meta do autêntico desenvolvimento.

“A Santa Sé tem a firme esperança de que esta oportunidade possa proporcionar a ocasião para abandonar a hermenêutica da suspeita reforçada pelo auto-interesse partidário e o protecionismo, em favor de uma verdadeira solidariedade entre nós, especialmente com os pobres. Este é o momento de nos comprometermos com uma distribuição mais justa dos abundantes bens deste mundo e com a busca de um desenvolvimento mais integral, que corresponda à dignidade de todo ser humano”, disse o Cardeal no seu discurso à presidente da República no último dia da Rio+20.

“Para a Santa Sé, isto requer, acima de tudo, manter a relação adequada dos meios com o seu fim. No centro do mundo criado encontra-se a pessoa humana - e, portanto, esta também se encontra no centro do desenvolvimento sustentável, como afirma o First Rio Principle (Primeiro Princípio do Rio). Toda vida humana, desde a concepção até à morte natural, tem o mesmo valor e dignidade”, ressaltou.

“Qualquer novo modelo de desenvolvimento, como o da “economia verde”, deve ser alicerçado e permeado pelos principios, que constituem são a base para a efetiva promoção da dignidade humana”, sublinhou ainda Dom Odilo.

O arcebispo condenou o conceito do aborto como um serviço de saúde ou meio de controle populacional. “Uma sentença de morte imposta sobre vidas humanas mais vulneráveis – ou seja, aquelas que estão no santuário mais seguro que é o útero de suas mães - não pode, sob nenhuma hipótese, ser apresentada sob a nomenclatura de “cuidados de saúde” ou simplesmente “saúde””, recalcou.

“Isto não realiza um verdadeiro serviço ao desenvolvimento humano autêntico nem ao seu verdadeiro apreço; antes, constitui a maior violação da dignidade humana e um desserviço injustificável, uma vez que o desenvolvimento, em todas as fases da vida, está ao serviço da vida humana”, afirmou o Cardeal Scherer.

“Acredito que o resultado é bastante positivo, embora haja muitas observações críticas de que o resultado é menos do que o esperado e que não foi bastante ousado em estabelecer metas ou medidas concretas que deveriam ser assumidas. Temos que considerar que numa Cúpula internacional deste porte, com a presença de quase 190 nações não se pode esperar demais, no sentido de resultados concretos”, explicou o Cardeal em entrevista divulgada pelo portal oficial da CNBB.

“A crítica é que, por exemplo, não se chegou a estabelecer a contribuição dos países ricos, daqueles que mais poluem, para formar um fundo a partir do qual possa ser financiada a economia limpa, a economia verde que se quer promover. É uma verdade que esta lacuna naturalmente deverá ser preenchida através de novas negociações, com iniciativas como a da França, que anunciou claramente que quer taxar as transações financeiras internacionais que passam pelo país, e aplicar esta taxa em uma economia mais limpa e promover a preservação do meio ambiente”.

“Existem certamente muitos pontos positivos a serem observados: a declaração, que foi concordada através de negociações, contém pontos relevantes, primeiro porque estabelece uma identificação do que se pode chamar de economia verde, economia sustentável, colocando três pilares fundamentais. Primeiramente, que o homem esteja ao centro, e portanto, que a economia sustentável deve ser socialmente sustentável. Depois, é claro, que a economia seja economicamente sustentável. Deve seguir as leis econômicas porque senão se torna um caos. O terceiro ponto, que a economia verde seja ecologicamente sustentável, que tenha sempre em consideração a dimensão ecológica da economia, do trabalho, da produção e do consume”, explicou o purpurado

“Enfim, acredito que o mais positivo de todas as contribuições que a Rio+20 está trazendo é uma nova tomada de consciência da comunidade internacional a respeito dos problemas da sustentabilidade da economia, dos problemas do clima e da urgente necessidade de todos de fazerem a sua parte; que não podemos protelar por mais tempo a tomada de decisões porque o clima, o planeta está reclamando: a sustentabilidade está ameaçada”, concluiu Dom Odilo.

Segundo informou a Agência Brasil, o tom de crítica deve predominar nesta sexta-feira, pois as organizações não-governamentais (ONGs) que promoveram vários protestos durante a conferência prometem manifestações. De fato, ONGs feministas e abortistas expressaram seu descontento com a Cúpula e com o governo brasileiro por não incluir conceitos como os “direitos sexuais e reprodutivos”, um eufemismo para pedir pelo direito ao aborto.