O bispo de Regensburg, dom Rudolf Voderholzer, acha que o Caminho Sinodal Alemão se aproveita da crise de abusos sexuais para remodelar a igreja alemã em linha protestante.

"O fato de que partes interessados continuam fingindo que nada realmente aconteceu até agora, que sem uma comparação válida das instituições e sem uma classificação histórica dos casos de abuso, que as engrenagens da Igreja Católica são sistematicamente culpadas por isso, tudo isso só alimenta minha suspeita de que o abuso sexual está sendo instrumentalizado, numa tentativa de reformular a Igreja Católica na linha da Igreja Protestante, onde 'sínodo' significa algo diferente do que na Igreja Católica, isto é, uma proposta de um sistema parlamentar na igreja".

Voderholzer, doutor em teologia dogmática, fez o comentário durante uma reflexão após as Vésperas na Catedral de Regensburg, no último 26 de setembro.

O bispo é um dos maiores críticos do "Caminho Sinodal", um processo que reúne bispos e leigos para discutir quatro temas principais: a forma como o poder é exercido na Igreja; a moral sexual; o sacerdócio; e o papel da mulher na Igreja. Propostas como comunhão para protestantes, a abolição do celibato, bênçãos para uniões homossexuais e ordenação de mulheres vêm sendo apresentadas.

A conferência dos bispos alemães disse inicialmente que o processo terminaria com decisões "vinculantes" para a igreja da Alemanha sobre questões que a Santa Sé já disse que só podem ser discutidas pela Igreja toda.

Em seu sermão, o bispo Volderholzer disse que ele e o arcebispo de Colônia Rainer Maria Woelki haviam feito uma proposta alternativa para o Caminho Sinodal Alemão em agosto de 2019, mas ela foi rejeitada pela maioria dos bispos alemães. A proposta enfatizava a importância da nova evangelização, da missão e da catequese, de acordo com uma carta de 19 páginas que o Papa Francisco enviou aos católicos alemães em junho de 2019 sobre o Caminho Sinodal.

"Toda vez que uma comunidade eclesial tentou sair de seus problemas sozinha, contando apenas com suas próprias forças, métodos e inteligência, ela acabou multiplicando e alimentando os males que queria superar", escreveu o papa e pediu que se redobrassem esforços pela evangelização diante de uma "crescente erosão e deterioração da fé".

No início deste mês, Voderholzer lançou um site em que apresentou uma alternativa ao texto endossado pelos membros do Caminho Sinodal, focado na forma como o poder é exercido na Igreja.

O documento de 36 páginas, chamado "Autoridade e responsabilidade", disponível também em inglês, é o primeiro de uma série que abordará os tópicos dos outros três grandes temas do Caminho Sinodal.

O texto tem como autores o padre Wolfgang Picken, reitor da catedral de Bonn; Marianne Schlosser, professora de teologia em Viena, Áustria; a jornalista Alina Oehler e o bispo auxiliar de Augsburg, Florian Wörner.

Falando em Roma em 17 de setembro, o teólogo alemão cardeal Walter Kasper elogiou o texto alternativo do bispo de Regensburg. Kasper, ex-presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade Cristã, disse que o texto adotado pelos membros do Caminho Sinodal tentou "reinventar a Igreja diante da crise com a ajuda de uma estrutura teológica erudita. Há muito que é correto nele, mas também muito que é hipotético. No final, muitos se perguntam se tudo isso ainda é inteiramente católico", comentou ele.

A crítica de Volderholzer foi feita na véspera da segunda sessão plenária do Caminho Sinodal em Frankfurt, no sudoeste da Alemanha, que começou hoje, 30 de setembro, e vai até 2 de outubro. A assembleia reúne os bispos alemães, 69 membros do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), que reúne leigos, e representantes de outras partes intressadas da Igreja alemã.

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