À medida que os esforços mundiais se intensificam para conter a propagação do coronavírus e após a confirmação dos primeiros casos na África, os bispos que lideram as conferências episcopais do continente expressaram preocupação de que os casos de COVID-19 continuem aumentando se não forem realizadas as medidas adequadas.

No domingo, 8 de março, as autoridades de saúde do Egito anunciaram a primeira morte no país árabe e no continente africano como consequência do coronavírus.

"Precisamos tomar medidas de precaução sem ser paranoicos", disse em 5 de março à ACI África – agência africana do Grupo ACI – o primeiro vice-presidente das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), Dom Sithembele Sipuka, durante a reunião do Comitê Permanente da SECAM em Nairóbi, capital do Quênia.

O bispo sul-africano, que também é responsável pela Conferência dos Bispos Católicos da África do Sul (SACBC), disse que “também temos que olhar o que fazemos na Igreja: cumprimentar na mão, receber a comunhão, mas sem criar muito medo".

“Escrevi aos bispos do sul da África para dar a eles algum tipo de diretrizes para levarem em consideração, mas sem uma prescrição: área da Comunhão, saudação da paz e a fonte de água benta. Mas as recomendações dependem da avaliação de cada bispo”, disse o Prelado.

A África do Sul confirmou seu primeiro caso de coronavírus em 5 de março, depois que um cidadão de 38 anos que retornou da Itália testou positivo para COVID-19. De acordo com uma declaração do Ministério da Saúde da África do Sul, "a vítima e o médico que o tratou pela primeira vez estavam em isolamento na província oriental de KwaZulu-Natal".

Nesse contexto, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, pediu aos cidadãos que não entrem em pânico, mas que procurem ajuda médica imediata se apresentarem sintomas de COVID-19, informou BBC News.

Nesse contexto, a Arquidiocese de Johanesburgo (África do Sul) anunciou medidas preventivas, como a distribuição da Eucaristia na mão, enquanto "a distribuição do Sangue Precioso aos fiéis deveria ser suspensa".

A Arquidiocese também exortou os sacerdotes, diáconos e ministros extraordinários da Sagrada Comunhão a "praticar boa higiene lavando as mãos antes do início da Missa ou, inclusive, usando uma solução antibacteriana à base de álcool (desinfetante para as mãos) antes e depois de distribuir a Sagrada Comunhão".

"O sinal de paz deve ocorrer sem contato físico" ou "omitir o chamado para a saudação da paz", observa a carta da Arquidiocese.

Além disso, pede que os sacerdotes "incentivem os fiéis católicos a rezarem pelo fim dessa situação desafiadora em todo o mundo e rezar por aqueles que são afetados pelo coronavírus".

Um cidadão francês de 58 anos que chegou a Yaoundé, capital dos Camarões, em 24 de fevereiro, deu positivo para COVID-19 e, de acordo com uma declaração do Ministério da Saúde Pública, “o caso foi colocado em confinamento solitário no centro de atendimento do hospital central de Yaoundé para receber o tratamento adequado”.

Isso eleva o número de casos confirmados na África para 28, sendo a Argélia o país mais afetado com 17 casos, seguido por Senegal com quatro. Egito, Tunísia, Marrocos e Nigéria registraram pelo menos um caso.

Em todo o mundo, o vírus matou mais de 3 mil pessoas e infectou mais de 110 mil.

A Nigéria, que confirmou seu primeiro caso de coronavírus em 27 de fevereiro, de um homem italiano, desde então isolou três pessoas suspeitas de estarem infectadas, informou BBC News.

“Felizmente, até agora, o coronavírus verificado na Nigéria sempre foi importado. Como falamos agora, o coronavírus até agora foi contido e limitado às pessoas que o importaram para a Nigéria”, disse Dom Emmanuel Badejo, Bispo de Oyo (Nigéria) a ACI África na quinta-feira, 5 de março.

"Sabemos que há desafios por ser um país africano, mas, apesar disso, o Centro de Controle de Doenças da Nigéria, que agora está responsável pelo atendimento e a prevenção deste novo coronavírus, está fazendo um bom trabalho", acrescentou o Bispo, que também dirige o Comitê Episcopal Pan-Africano para a Comunicação Social (CEPACS).

Outros líderes da Igreja no continente expressaram sua preocupação.

“É uma verdadeira epidemia que chega até nós, começando na China. Estamos realmente indefesos”, disse o presidente da SECAM, Cardeal Philippe Ouedraogo, a ACI África, em 5 de março.

O Arcebispo de Ouagadougou (Burkina Faso) disse que neste país “a vigilância é certamente recomendada, especialmente as estruturas de saúde do país que têm a responsabilidade de estar atentas ao tentar proteger a população. Sendo assim, no país não há nenhuma ação particular além das precauções de higiene (...). Estamos ouvindo e tentando ver o que podemos fazer”.

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Por sua vez, o presidente da Conferência dos Bispos Católicos do Quênia (KCCB), Dom Philip Anyolo, defendeu uma combinação de medidas preventivas e fé.

“Do ponto de vista cristão, temos a obrigação de informar nosso povo que Deus cura; mas, ao mesmo tempo, nos cura através do entendimento de que podemos nos proteger de tais doenças”, disse Dom Anyolo, Arcebispo de Kisumu (Quênia) a ACI África.

Por sua vez, Pe. Jean Germain Rajoelison, segundo subsecretário-geral da SECAM, disse que o papel da Igreja é "conscientizar nossos cristãos sobre esta doença, destacando a importância de adotar hábitos de higiene para impedir a propagação do vírus".

“Nossos governos também deveriam realmente fazer sua parte, tomando medidas de precaução nas fronteiras e nos aeroportos. A situação é realmente séria e, como Igreja, prescrevemos vigilância o tempo todo”, concluiu o sacerdote durante a entrevista a ACI África.

Publicado originalmente em ACI África. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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