O comitê de liturgia do Episcopado austríaco publicou recentemente um livro propondo uma bênção oficial para casais homossexuais, uma prática que iria além das bênçãos que já são feitas na Catedral de Viena e que seria contrária ao ensinamento da Igreja Católica.

O texto da comissão presidida pelo Arcebispo de Salzburgo, Dom Franz Lackner, inclui contribuições de teólogos de língua alemã e uma seção litúrgica na qual aparece uma sugestão sobre como um casal homossexual seria abençoado em uma igreja, destacando a "fidelidade e exclusividade" do relacionamento.

O título do livro é "Bênção de casais do mesmo sexo" e um de seus principais autores é o Pe. Ewald Volgger, diretor do Instituto de Estudos Litúrgicos e Teologia Sacramental da Universidade Privada de Linz.

Em diálogo com o jornal diocesano de Linz, o sacerdote de 58 anos disse que espera que essa bênção oficial dos casais homossexuais seja estabelecida "o mais rápido possível", embora tenha observado que "segundo o Catecismo da Igreja Católica as práticas homossexuais jamais podem ser consideradas atos aceitáveis e os homossexuais estão chamados à castidade”.

No entanto, o Pe. Volgger disse que nos últimos tempos "houve um movimento sobre este assunto" e que a revisão do Catecismo poderia ajudar a facilitar "uma liturgia oficial" que esteja "baseada na doutrina da Igreja".

Sobre as razões da mudança na moral sexual da Igreja, o sacerdote disse que há uma variação na percepção do público e ressaltou que "a doutrina sobre homossexualidade foi debatida em toda a Europa de tal maneira que uma abertura não é apenas discutível, mas que pode ser necessária”.

"Há também um número considerável de bispos que gostariam de ver como repensar a área da moral sexual para a avaliação dos casais do mesmo sexo", continuou e disse que essa mudança poderia fazer com que os ensinamentos da Igreja sejam mais aceitáveis ​​e relevantes.

O jornal diocesano assinala que os casais do mesmo sexo já recebem uma bênção na Catedral de Santo Estevão, em Viena, mas o Pe. Volgger disse que essa não é a bênção que ele tem em mente.

"Não, porque essa é provavelmente a bênção dos casais do mesmo sexo no Dia de São Valentim. Isso já está difundido e em prática. Uma bênção, como está proposta do ponto de vista litúrgico teológico, deve ter um caráter oficial, com o qual a Igreja expresse a obrigação de fidelidade e exclusividade do relacionamento. Certamente, é uma bela mensagem que na Catedral de Santo Estevão todos tenham um lugar e sejam abençoados”, disse o sacerdote.

Entre os autores do texto estão vários teólogos alemães. Além disso, e nos últimos anos, vários bispos na Alemanha falaram a favor da bênção de casais homossexuais na Igreja.

Após uma série de consultas em Berlim, no final de 2019, o presidente da Comissão de Matrimônio e Família do Episcopado Alemão e Arcebispo de Berlim, Dom Heiner Koch, declarou que os bispos alemães aceitavam que a homossexualidade é uma "forma normal" da identidade sexual humana.

O tema está no centro dos quatro fóruns do polêmico "processo sinodal" que está atualmente em andamento na Alemanha. Além disso, vários dos principais membros do Comitê Central de Católicos Alemães (ZDK), encarregados do processo junto com os bispos, são parlamentares que votaram a favor da redefinição do casamento para incluir as uniões homossexuais em 2017, conforme informo neste então a CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI.

O Bispo de Osnabrück e vice-presidente da Conferência Episcopal, Dom Franz-Josef Bode, incentivou um "debate" sobre as bênçãos dos casais homossexuais e uma mudança na moral sexual da Igreja. Em uma entrevista em janeiro de 2018, o Bispo disse que "precisamos refletir como podemos pensar de maneira diferente sobre as relações entre duas pessoas do mesmo sexo" e se perguntou o que pode ser "bom, positivo e correto" nas uniões homossexuais.

Da mesma forma, o Arcebispo de Munique, Cardeal Reinhard Marx, disse em dezembro de 2019 que casais homossexuais podem receber uma bênção da Igreja "no sentido de um acompanhamento pastoral".

Para o Arcebispo de Berlim, esses "desenvolvimentos" foram possíveis graças à exortação Amoris laetitia do Papa Francisco. Dom Koch participou do Sínodo da Família no Vaticano em 2015, junto com o Cardeal Marx, um evento no qual os bispos alemães exerceram pressão para que a Igreja aceitasse dar a comunhão aos divorciados em nova união.

Os ensinamentos da Igreja sobre homossexualidade

O ensinamento católico sobre homossexualidade está resumido em três números do Catecismo da Igreja Católica; 2357, 2358 e 2359. Nesses artigos, a Igreja ensina que os homossexuais “devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza” e que “evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta”.

A homossexualidade, como tendência, é “objetivamente desordenada” e “constitui, para a maior parte deles, uma provação”.

Apoiando-se na Sagrada Escritura, “a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’”, “não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual”, portanto, “não podem, em caso algum, ser aprovados”.

“As pessoas homossexuais são chamadas à castidade” e “pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã”.

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Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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