O bispo de Passau, Alemanha, dom Stefan Oster, disse que o papa emérito Bento XVI "foi um dos primeiros a reconhecer" a praga dos abusos sexuais na Igreja e a tomar "medidas concretas" para erradicá-la. Oster criticou aqueles que agora o acusam de acobertamento.

Em declarações divulgadas em 1º de fevereiro pela agência SIR, o bispo da diocese de origem de Bento XVI referiu-se ao relatório do escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl apresentado em 20 de janeiro pela arquidiocese de Munique e Freising, Alemanha, da qual Joseph Ratzinger esteve à frente entre 1977 e 1982.

O nome oficial do documento é “Relatório sobre abusos sexuais de menores e adultos vulneráveis ​​por clérigos, assim como funcionários da arquidiocese de Munique e Freising, de 1945 a 2019".

Bento XVI, que enviou um documento de 82 páginas com suas observações aos responsáveis pelo relatório, negou as acusações de acobertamento feitas contra ele.

O estudo Bento XVI pelo modo como lidou com quatro casos quando liderava a arquidiocese. Um deles, o do padre Peter Hullermann, identificado como padre H, t4eve grande destaque na mídia depois da publicação do relatório.

Hullermann foi suspenso na diocese de Essen em 1979, acusado de abusar de um menino de 11 anos. Em 1980 foi para a arquidiocese de Munique. Hullermann foi declarado culpado de abuso de menores em uma paróquia da arquidiocese em 1986.

Em 15 de janeiro de 1980 houve uma reunião na arquidiocese de Munique na qual foi discutida a transferência de Hullermann. Bento XVI disse inicialmente aos investigadores que não estava presente nesta reunião. Em um comunicado publicado em 24 de janeiro pelo semanário católico alemão Die Tagespost, porém, o secretário do papa emérito, dom Georg Gänswein, disse que houve um erro de edição e que Bento XVI retificava que havia participado.

“Objetivamente correto, no entanto, e documentado pelos arquivos, é a afirmação de que nenhuma decisão foi tomada nesta reunião sobre uma atribuição pastoral do padre em questão”, disse dom Gänswein. “Pelo contrário, apenas o pedido de acomodação durante seu tratamento terapêutico em Munique foi concedido”.

Em declarações dadas dias antes ao jornal alemão Die Zeit, dom Gänswein também rejeitou a versão de que o então arcebispo Ratzinger sabia da acusação de abuso contra Hullermann no momento de admiti-lo na arquidiocese. "Ele não conhecia a história prévia", disse ele.

Nas declarações divulgadas ontem pela agência SIR, dom Oster lembrou que na biografia que Peter Seewald publicou em 2020 sobre Bento XVI consta que o então arcebispo Joseph Ratzinger esteve presente na reunião de 1980, quando se discutiu a admissão do padre abusador.

"Assim, a investigação de Seewald já havia revelado a participação de Ratzinger" e "era claro que este encontro não estava relacionado à atribuição de H. na pastoral, mas a sua permanência em Munique para as terapias”, disse.

Na declaração apresentada por Bento XVI aos responsáveis pelo relatório houve "um erro fatal". Ele acrescentou que a correção que veio logo depois e "que fala de um 'erro' na 'preparação editorial', esclarece que o papa emérito de 94 anos teria confiado em colaboradores que cometeram um erro crucial em um ponto crucial".

“Do meu ponto de vista, a intenção de fazer o papa emérito parecer o mais inocente possível diante de todas as possíveis acusações, por meios legais, nessas declarações é muito evidente”, acrescentou dom Oster. Os colaboradores teriam tentado proteger Bento XVI dizendo que ele não esteve na reunião, mas a necessidade de corrigir a informação depois deixou a situação aparentemente pior.

Partindo de seu conhecimento pessoal do papa emérito, Oster disse que Bento XVI "foi um dos primeiros a reconhecer" a praga da pedofilia na Igreja e a tomar "medidas concretas e eficazes, por meio de muitos encontros com as pessoas afetadas e um julgamento severo sobre os culpados”.

A defesa de dom Oster se soma às declarações do cardeal Fernando Filoni, atual grão-mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém e prefeito emérito da Congregação para a Evangelização dos Povos desde 2011, que dias atrás destacou "a profunda e elevada honestidade moral e intelectual” do papa emérito Bento XVI.

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