O cardeal Reinhard Marx renunciou ao cargo de arcebispo de Munique e Freising em uma carta dirigida ao papa Francisco no último 21 de maio, anunciou oficialmente hoje, 4 de junho, a arquidiocese de Munique e Freising. O papa permitiu que o cardeal tornasse pública sua carta de renúncia. Marx segue no cargo até que uma decisão seja tomada pela Santa Sé.

"É importante para mim assumir minha parte de responsabilidade na catástrofe do abuso sexual por parte dos funcionários da Igreja durante as últimas décadas", escreveu Marx em sua carta de renúncia publicada pela arquidiocese em alemão, inglês e italiano. "Minha impressão é que estamos em um 'beco sem saída' que, e esta é minha esperança pascal, também tem o potencial de se tornar um 'ponto de inflexão'".

Marx é membro do Conselho de Cardeais que auxilia o papa em diversos temas. Ele também coordena o Conselho de Economia do Vaticano e, até março do ano passado, presidia a Conferência Episcopal Alemã.

"Sem dúvida, estes são tempos de crise para a Igreja na Alemanha. Há, é claro, muitas razões para esta situação, não só na Alemanha, mas em todo o mundo, e acredito que não é necessário declará-las em detalhes aqui", escreveu Marx. "Entretanto, esta crise também foi causada pelo nosso próprio fracasso, por nossa própria culpa. Isto se tornou cada vez mais claro para mim, olhando para a Igreja Católica como um todo, não apenas hoje, mas também nas últimas décadas".

Na carta, Marx disse que as investigações e denúncias de abusos nos últimos 10 anos mostraram consistentemente para ele que houve "muitas falhas pessoais e erros administrativos, mas também falhas institucionais ou 'sistêmicas'".

"Os debates recentes mostraram que alguns membros da Igreja se recusam a acreditar que existe uma responsabilidade partilhada a este respeito e que a Igreja como instituição também é culpada pelo que aconteceu e, portanto, desaprovam a discussão de reformas e renovação no contexto da crise do abuso sexual", disse ele.

O cardeal declarou ter uma opinião diferente: “Ambos os aspectos devem ser considerados: os erros pelos quais alguém é pessoalmente responsável e o fracasso institucional que requer mudanças e uma reforma da Igreja".

Marx escreveu ao papa: "Um ponto de virada desta crise só será possível, em minha opinião, se tomarmos um 'caminho sinodal', um caminho que realmente permita um 'discernimento de espíritos', como o senhor repetidamente enfatizou e reiterou em sua carta à Igreja na Alemanha".

O Cardeal Marx, que é arcebispo de Munique e Freising desde 2007, disse esperar que sua demissão "envie um sinal pessoal para um novo começo, para um novo despertar da Igreja, não apenas na Alemanha".

"Gostaria de mostrar que o ministério não está em primeiro plano, mas o mandato do Evangelho. Este também é um elemento do cuidado pastoral. Por isso, peço-lhes vivamente que aceitem esta demissão", disse.

Em abril, Marx pediu ao Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier que não lhe concedesse a Cruz do Mérito Federal após protestos de defensores dos sobreviventes de abusos pela atribuição do prêmio. Ele teria recebido a medalha Bundesverdienstkreuz, a única condecoração federal da Alemanha, no Palácio Bellevue, em Berlim, no último 30 de abril.

Confira também: