O aborto não pode ser considerado um direito humano, disse o arcebispo de Luxemburgo, cardeal Jean Claude Hollerich, em entrevista ao grupo ACI. Hollerich, que é presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Européia (COMECE) rechaçou o relatório que pede a despenalização do aborto nos 27 países membros da União Europeia (UE) e sua classificação como um direito da mulher. O documento deve ser votado no próximo dia 23 de junho no Parlamento Europeu. O jesuíta Hollerich, que esteve em Roma para uma audiência com o papa Francisco junto com outros bispos da COMECE na sexta-feira, 11 de junho, acrescentou que a liberdade de religiosa será o maior desafio da Europa nos próximos tempos.

O "Relatório sobre a situação da saúde e direitos sexuais e reprodutivos na UE, no âmbito da saúde da mulher", ou “relatório Matic”, que foi proposto pelo eurodeputado croata de centro esquerda Predrag Fred Matić, busca que a União Europeia reconheça o "direito ao aborto" e a redefinição da objeção de consciência como "negação de assistência médica". A proposta apresentada no dia 25 de maio vai a votação na próxima sessão do Parlamento Europeu com pouca oposição. Grupos pró-vida alegam que o documento viola o princípio de que as leis sobre aborto são da competência dos estados membros da UE, e não de suas instituições. Dos 27 estados da EU, só Malta e Polônia não permitem o aborto.

“Penso que devemos deixar claro que aprovar tal relatório vai contra a subsidiariedade, porque o aborto é uma questão de legislação nacional e não de legislação comunitária. Seria, portanto, uma grande pena para a União Europeia não respeitar aquela subsidiariedade de que sempre fala”, disse o Cardeal Hollerich à agência ACI Stampa, do grupo ACI em italiano.

“Penso que este seria o melhor argumento para se opor ao relatório Matic, pois temos cristãos em todos os partidos políticos e eles poderão votar contra ele com tal argumento. Mas seria difícil para eles votar contra, mesmo contra seu próprio partido, com base em argumentos éticos.”

Duas integrantes do Parlamento Europeu, a espanhola Margarita de la Pisa Carrión e a polonesa Jadwiga Wiśniewska, definiram uma "posição minoritária", argumentando que o relatório não tinha "nenhum rigor legal ou formal". "Ele vai além de suas atribuições ao abordar questões como saúde, educação sexual e reprodução, assim como aborto e educação, que são prerrogativas legislativas dos Estados membros", afirmaram as parlamentares no último 7 de junho

“Devo dizer que a Doutrina Social voltou a entrar no debate graças ao Papa”, disse Hollerich. “Há muitos políticos em Bruxelas que falam de Laudato Si ou Fratelli Tutti. Acho que eles o leram mais do que os cristãos”, observou o cardeal. “Há certamente um impulso, e isso também pode ser visto nas visitas a Roma: a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen esteve lá, o presidente do Parlamento Europeu David Sassoli estará lá, e o presidente do grupo do Partido Popular que quer vir com um grande grupo de parlamentares a Roma. Há um interesse. Mas cabe a nós dizer: se você quiser isso, tudo bem, mas há outros pontos na doutrina da Igreja que você não respeita”.

Falando sobre os maiores desafios da Europa após a pandemia, o arcebispo aponta para a liberdade religiosa, recordando o período em que fiéis foram impedidos por governos de países europeus de participar da Eucaristia nas igrejas.

“Penso que o problema da liberdade religiosa será o grande problema do futuro na Europa”, destacou Hollerich. “Não há perseguição à Igreja: seria demais dizer isso. Mas, em alguns países, há, em diferentes níveis, pequenos ataques contra a liberdade de religião e devemos estar atentos”.

“Na Bélgica, o grupo de fiéis que puderam assistir à missa é ínfimo, na Irlanda não há missas com o povo há um ano”, afirmou.

“Deve-se notar que são países onde a Igreja tem uma má reputação”, diz o cardeal.

“Uma impressão justa da Igreja deve ser dada a fim de reconstruir a credibilidade. Após os casos de abuso sexual, é urgente para a sociedade, mas também para os fiéis, pois muitos perderam toda a esperança na Igreja”.

“Isto deve mudar, devemos nos tornar muito humildes e dar o melhor de nós com grande transparência”, concluiu o prelado.

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