As evidências de um renascimento católico no Ocidente, particularmente entre os jovens, já não são anedóticas. Suas manifestações são agora visíveis em paróquias, comunidades e grupos de peregrinação em vários países. Para aqueles que acompanharam essa tendência nos últimos cinco anos, a questão mais profunda não é mais se uma renovação está em curso, mas sim se essa tendência tem fundamentos que a sustentem a longo prazo.

Poucos especialistas estão mais bem preparados para analisar este momento histórico do que o filósofo e educador jurídico holandês Christiaan Alting von Geusau, fundador e presidente da Rede Internacional de Legisladores Católicos (ICLN, na sigla em inglês).

Nascido em 1971, esse pai de cinco filhos passou duas décadas acompanhando os que transformam convicções em decisões. Sua abordagem intelectual está fundamentada na experiência prática. Para ele, a fé precisa ser inteligível para ser vivida e vivida para influenciar a vida pública. Ele articulou essa visão com clareza num discurso de abertura proferido em Budapeste, Hungria, em 21 de novembro, num simpósio organizado pelo think-tank cristão Axioma Center e moderado pelo jornal National Catholic Register, da EWTN sobre o tema Comunidades Brilhantes: O Futuro do Cristianismo.

Covid-19 e a redescoberta da transcendência

Diante de ideologias que prometiam poder e autonomia, mas entregavam fragilidade e desespero, jovens estão cada vez mais voltando à Igreja por exaustão, diz Alting von Geusau. O período da pandemia de covid-19, em sua visão, cristalizou esse ponto de virada. Uma cultura convencida de seu domínio científico, tecnológico e institucional foi repentinamente posta de joelhos por algo invisível. “Com seus enormes avanços na ciência e na tecnologia, a humanidade pensou que havia se tornado Deus”, disse ele ao Register depois da conferência de Budapeste. “Então descobriu sua impotência diante de um pequeno vírus”.

Para ele, o que emergiu desse período não foi só polarização, como pode parecer superficialmente, mas uma profunda desilusão. Especialmente entre os jovens, como mostra o aumento nas taxas de suicídio juvenil no período da pandemia.

Para ele, muitos jovens sentiram que estavam vivendo um momento em que a vida pública era guiada menos por princípios consistentes do que por emoções em rápida transformação — regras que se tornavam mais rígidas e mais flexíveis de modo que parecia arbitrário, justificadas mais pelo medo do que por um raciocínio claro.

“Passamos do império da lei para o império dos sentimentos”, diz Geusau. Os jovens adultos, diz ele, “percebem isso”. Como resultado, agora gravitam em direção a lugares onde a verdade é estável em vez de improvisada e onde o culto não é terapia psicológica, mas contato com a transcendência.

Para o filósofo do direito holandês, isso mostra por que as expressões mais vibrantes de renovação são aquelas que têm beleza, reverência e rigor intelectual em seu cerne, pois a beleza e a coerência sinalizam que a realidade é ordenada, inteligível e não-acidental. E é precisamente isso que as narrativas seculares não podem oferecer.

A volta da masculinidade numa era confusa

Uma das características mais marcantes desse renascimento é a presença inesperadamente alta de homens jovens. Alting von Geusau atribui isso a algo que tem sido cada vez mais observado, mas ainda insuficientemente compreendido: os homens foram privados, por muito tempo, da permissão para serem homens.

Não pelas mulheres, diz ele, mas por modelos ideológicos de feminismo que, em sua opinião, extrapolaram objetivos saudáveis ​​e acabaram por equiparar masculinidade a uma ameaça. "Disseram aos homens que eles são perigosos, tóxicos, que as mulheres podem fazer tudo da mesma maneira, então por que precisaríamos dos homens?" O resultado é desorientação, insegurança crescente e passividade, diz ele.

Os homens, diz ele, podem encontrar consolo na Igreja porque redescobriram “a possibilidade de uma masculinidade saudável”. As mulheres, por sua vez, anseiam por homens em quem possam confiar, que possam protegê-las e prover.

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A capacidade de Alting von Geusau de falar com segurança sobre esse assunto é fruto de sua educação, na qual foram homens que naturalmente intervieram quando sua mãe enfrentou problemas crônicos de saúde — ensinando-o desde cedo que serviço e masculinidade nunca entram em conflito.

Por isso ele diz também que o cristianismo, e não o feminismo marxista, historicamente protegeu as mulheres. Nossa Senhora tem um lugar central na identidade cristã, enquanto o cristianismo medieval elevava as mulheres em todos os sentidos possíveis. “Quando o cristianismo, enraizado no Evangelho e na tradição, floresceu, as mulheres floresceram”, diz Geusau. “Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança e os fez para serem mutuamente complementares, o que significa que um não pode existir sem o outro e, portanto, cada um tem o seu papel a desempenhar”.

Na visão do professor, a antropologia coerente da Igreja tem a capacidade de falar profundamente tanto aos homens quanto às mulheres e de romper o impasse em que as gerações mais jovens de hoje estão presas.

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Seu instinto para a formação de jovens decorre naturalmente dessa antropologia. Muito antes de trabalhar com legisladores, ele passou 20 anos moldando mentes jovens como presidente, reitor e professor da Universidade Católica ITI em Trumau, Áustria. Em 2012, fundou com sua mulher a Schola Thomas Morus na Áustria, uma escola construída sobre a fé, as virtudes clássicas e a arte de aprender a pensar.

Abordando a crise de liderança

Os jovens podem estar redescobrindo a transcendência, e os homens podem estar retomando sua vocação — mas sem líderes capazes de manter a posição quando a pressão se intensifica, essas faíscas não se transformarão num fogo duradouro.

Um ponto de virada para Alting von Gesau ocorreu num evento em 2008 com uma palestra do então arcebispo de Viena, Áustria, cardeal Christoph Schönborn, para um grupo de parlamentares católicos em Londres, na qual um deputado falou sobre sua frustração: “Não recebemos nenhuma formação real. A Igreja forma todos, exceto aqueles que governam”. A partir desse momento, sua missão se concentrou na crença de que a crise que impulsiona todas as outras crises é a da liderança.

Dois anos depois, em 2010, nasceu oficialmente a ICLN. Seu objetivo: ajudar líderes a basear suas decisões na fé, a pensar com maior coerência e a encontrar companheirismo numa vocação que, de outro modo, pode parecer bastante solitária. Sua metodologia é deliberadamente discreta e se abstém de advocacia, lobby ou estratégias de mídia. A política da organização é formar primeiro, influenciar depois.

A formação no ICLN centra-se na profundidade espiritual, na clareza intelectual e na genuína fraternidade num ambiente apartidário. O seu principal encontro realiza-se todos os anos em Roma, onde legisladores das mais diversas origens passam quatro dias em oração, estudo e diálogo, culminando numa audiência privada com o papa.

Nos bastidores, o presidente da ICLN ouve repetidamente as mesmas preocupações: a crescente dificuldade de manter a coerência moral sem ser punido por isso, a erosão dos direitos parentais e a pressão para redefinir a identidade humana por decreto. Outro temor é sobre a ascensão do secularismo militante e do islamismo político, assim como a pressão cultural que exercem sobre democracias já frágeis — um tema que muitos líderes hesitam em mencionar publicamente.

Ele frequentemente compara esse clima geral ao julgamento de são Tomás Moro, quando o silêncio não era suficiente e a concordância era exigida. "Estamos entrando numa fase", alerta ele, "em que o simples fato de você não aclamar certos movimentos automaticamente o torna suspeito". Isso agora se aplica sobretudo ao aborto, à ideologia de gênero e à mudança no significado da liberdade.

Ele acredita que essas pressões demonstram por que é crucial formar líderes que tenham a força necessária para se manter firmes nos momentos mais desafiadores. Esse também é o espírito por trás do Ambrose Advice, outra iniciativa fundada por Alting von Geusau, na qual ele acompanha figuras políticas e institucionais de alto escalão que se esforçam para manter a liberdade, a dignidade e a estabilidade em seus países.

O que surge, em última análise, de sua visão é a confiança de que o futuro do cristianismo não será moldado por uma retórica mais estridente ou por batalhas culturais mais acirradas, mas sim por comunidades e líderes profundamente enraizados na verdade.

Para Alting von Geusau, essa obra mostra a reconstrução fundamental da arquitetura moral do Ocidente, sem a qual nenhuma renovação cristã pode sobreviver.