O patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, manifestou uma esperança cautelosa pela paz em Gaza, exortando os povos da região a combaterem o ódio e a "pensar diferente" uns sobre os outros.

Pizzaballa, cuja autoridade se estende aos católicos latinos em Israel, Palestina, Jordânia e Chipre, também ocupa o cargo de grão-prior da Ordem do Santo Sepulcro. Ele iniciou uma visita pastoral de quatro dias à região metropolitana de Detroit, EUA, em 4 de dezembro, celebrando missa com a comunidade caldeia na Igreja Católica Caldeia de São Tomás, em West Bloomfield, Michigan. O arcebispo de Detroit, dom Edward J. Weisenburger, e o bispo caldeu Francis Y. Kalabat o acompanharam. Ao longo da visita, o cardeal deu uma mensagem sóbria, porém realista, de esperança para os cristãos na Terra Santa.

Em uma entrevista coletiva na sexta-feira (5), Weisenburger deu as boas-vindas ao cardeal e elogiou seus esforços para promover uma “paz justa e duradoura” em Gaza. Pizzaballa alertou contra a equiparação da esperança com soluções políticas imediatas, em resposta à CNA, agência em inglês da EWTN, sobre qual esperança ainda resta para os cristãos da Terra Santa em meio ao que ele descreveu como uma das piores devastações das últimas décadas.

“Esperança é uma palavra complicada”, disse. “Não se deve confundir esperança com uma solução política, que não chegará tão cedo, nem em Gaza, nem na Terra Santa, nem no conflito palestino-israelense. Se você depositar sua esperança nisso, ficará frustrado”. Segundo ele, tanto as instituições políticas quanto as religiosas devem trabalhar para cultivar a esperança.

“Esperança”, continuou o cardeal, “é uma palavra que não pode permanecer sozinha. Ela precisa se enraizar em algo mais”, ou seja, na fé e no desejo. “É preciso haver um desejo para que ela se concretize. Uma segunda consideração é que, se as instituições falharem, precisamos que as pessoas pensem e ajam de forma diferente, tanto israelenses quanto palestinos. Isso pode não resolver todos os problemas, mas diz às pessoas: ‘Nem tudo está perdido’”, acrescentou.

Os cristãos representam apenas cerca de 1% da população de Gaza — aproximadamente 500 pessoas — e cerca de 2% da população tanto em Israel quanto na Cisjordânia, onde há cerca de 190 mil e 45 mil cristãos, respectivamente. Muitos continuam a emigrar, aumentando os temores sobre o futuro do cristianismo na região. Gaza tem apenas uma paróquia católica, por exemplo.

O patriarca descreveu as condições cada vez mais precárias em Gaza desde o ataque terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. A maior parte da infraestrutura — casas, hospitais e escolas — foi reduzida a escombros, disse, deixando famílias em barracas com a aproximação do inverno e a escassez de alimentos. Durante uma visita depois do cessar-fogo entre Hamas e Israel no outono, ele levou comida, incluindo frango, para os cristãos abrigados no complexo da paróquia da Sagrada Família. "Foi a primeira carne que eles viram em nove meses", disse. Embora os alimentos entrem em Gaza, grande parte acaba nos mercados, onde muitos não têm dinheiro para comprá-los”, disse.

Apesar da devastação, a vida sacramental continua. Acolhendo cerca de 500 deslocados de Gaza, a paróquia faz atividades escolares e liturgias diárias, incluindo missa, vésperas, o terço e adoração eucarística. Primeiras comunhões e até mesmo um casamento já foram celebrados. A vida sacramental da paróquia fortaleceu a solidariedade entre aqueles que se abrigam na igreja, além de servir como auxílio espiritual, disse Pizzaballa.

“Toda vez que converso com eles, nunca ouço uma palavra de raiva; nunca”, disse Pizzaballa. “E uma pessoa, cujo nome não posso mencionar, era o diretor do hospital. Certa noite, em Gaza, entre as bombas que caíam perto do complexo, ele disse: ‘Sabe, bispo, nós, cristãos, temos um problema. Em meio a toda a violência, não conseguimos odiá-los’”.

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Embora Israel e o Hamas tenham concordado com um cessar-fogo em 9 de outubro, Pizzaballa disse que os habitantes de Gaza só agora estão saindo do “modo de sobrevivência”. “Eles perguntam: ‘O que faremos agora? Quando a reconstrução começará? Como será o governo? Quem decidirá? E quanto aos nossos filhos?’ Antes, não havia espaço emocional para essas perguntas, mas agora elas estão surgindo”, disse.

Weisenburger reconheceu a complexidade da situação, dizendo que ela não pode ser “simplificada em frases de efeito”. Ele refletiu sobre o custo humano da guerra: “Muitas daquelas bombas que mataram cerca de 70 mil pessoas, varreram suas casas da face da Terra e destruíram suas cidades, escolas e hospitais, vieram de nós. Acho que nós, nos EUA, devemos assumir alguma responsabilidade pela reconstrução”. Ele agradeceu a mensagem de esperança do cardeal, acrescentando que os generosos moradores de Detroit já haviam prometido cerca de US$ 500 mil para a reconstrução. “Ao fazermos algo, podemos nutrir a esperança”, disse ele.

Em sua homilia na missa da comunidade caldeia, Pizzaballa comparou a visão de restauração de Isaías com a devastação atual no Oriente Médio, incluindo o sofrimento dos caldeus no Iraque nas mãos do Estado Islâmico. Ele destacou a missão da Igreja de promover a paz. Sobre o ataque do Hamas, disse: “Temos que dizer isso muito claramente: é totalmente inaceitável”. A “retaliação de Israel, o que aconteceu depois em Gaza, é uma resposta ainda mais difícil”, disse, acrescentando que “não somos contra Israel”. “A situação nunca mudará enquanto os palestinos não forem reconhecidos como pessoas com sua dignidade e direito à autodeterminação”.

Em 5 de dezembro, o cardeal visitou seus companheiros franciscanos no Mosteiro de São Boaventura e rezou no túmulo do beato Solanus Casey. Recebeu uma relíquia de primeira classe do beato Solanus para levar a Jerusalém. A comunidade caldeia também o presenteou com relíquias de quatro mártires caldeus. No dia seguinte, ele visitou o Seminário do Sagrado Coração e conversou com seminaristas e professores.

Cerca de 500 pessoas compareceram ao jantar beneficente realizado na sexta-feira (5) no St. John’s Resort, antigo campus do seminário dedicado à hospitalidade beneficente. Weisenburger disse que o proprietário do resort, a Fundação Beneficente da Família Pulte, doa 100% de seus lucros líquidos em eventos como esse para instituições de caridade.

Peregrinações à Terra Santa serão retomadas

Os cristãos da Terra Santa continuam sentindo as repercussões econômicas da guerra, particularmente em Belém, que fica na Cisjordânia, região da Jordânia administrada por Israel, onde o turismo despencou. O autor e cineasta Steve Ray, que já liderou mais de 200 peregrinações, planeja guiar um grupo de mais de 50 peregrinos de 28 de dezembro a 6 de janeiro.

“Ouvi dizer que de 70% a 80% da receita dos cristãos vem dos peregrinos. Ter todos os ônibus de turismo parados por dois anos é financeiramente devastador”, disse ele. Sobre a questão da segurança, acrescentou: “As redes sociais exageram muito as coisas. Nenhum peregrino jamais se machucou. Não estamos preocupados”. Ele planeja mais quatro peregrinações em 2026, incluindo uma para estudantes da Universidade Ave Maria.

Concluindo sua jornada por Detroit, Pizzaballa celebrará uma missa no santuário da Pequena Flor, que guarda as relíquias de santa Teresa do Menino Jesus.