19 de nov de 2025 às 12:12
A música sacra tem uma grandeza objetiva e um propósito essencial que precisa ser redescoberto: o de conduzir as almas ao divino, ao céu e à santidade, diz o coautor de um novo livro-entrevista com o cardeal Robert Sarah sobre o assunto.
Em Song of the Lamb: Sacred Music and the Heavenly Liturgy (Cântico do Cordeiro — Música Sacra e a Liturgia Celestial, em tradução livre), Peter Carter conversa com o ex-prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos sobre a rica tradição espiritual da música sacra católica, desde os Padres da Igreja até o Concílio Vaticano II, chegando aos dias de hoje.
Carter, diretor de Música Sacra do Instituto Aquinas da Universidade Princeton, EUA, diz por que uma música sacra de melhor qualidade é essencial, como e por que muitos acreditam que ela caiu na mediocridade e na banalidade, e o que pode ser feito para revitalizá-la. Ele fala também sobre suas expectativas para o livro, que espera que ajude os músicos católicos a compreenderem mais profundamente a importância da música sacra e que incentive bispos e padres nessa área.
Qual foi a motivação por trás do seu livro? Como surgiu a ideia?
A relevância particular desse livro neste momento está no fato de que ele aborda o desejo e a necessidade de beleza, sinceridade e integridade na liturgia, idealmente de um modo que transcenda a política e os debates em torno das guerras litúrgicas. O cardeal Sarah clama pela renovação constante da liturgia sagrada por meio da redescoberta da doutrina e da tradição da Igreja sobre a música sacra, e nos mostra por que ela não só é relevante hoje, como também vale a pena mergulharmos nela para que possamos verdadeiramente compreender e amar o que a Igreja nos diz ser um “tesouro de valor inestimável”.
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Seu livro fala sobre como a música sacra nos imerge, ainda que imperfeitamente, na atmosfera celestial. Por que a música sacra é frequentemente vista como tão ruim na Igreja nas últimas décadas?
Um dos maiores elogios para um músico de igreja é quando alguém diz que a música os fez sentir "como se estivessem no Céu". Embora isso possa soar exagerado, reflete uma realidade teológica genuína: a participação na liturgia na terra é, em essência, uma participação na adoração celestial a Deus, rodeados por santos e anjos no altar. Assim, a música sacra, e de fato todos os aspectos da liturgia, devem nos guiar em direção a essa profunda verdade, instruindo-nos e convidando-nos à adoração divina.
A persistente questão da música sacra pouco inspiradora pode ser compreendida se refinarmos a pergunta: Por que grande parte da música litúrgica não consegue conduzir as almas à adoração a Deus? A música ruim raramente resulta de negligência intencional, mas sim de uma incompreensão dos objetivos primordiais. Frequentemente, o foco se torna a conexão humana, a criação de uma atmosfera acolhedora e o fomento da comunidade. Esses são objetivos valiosos em si mesmos, mas não o propósito primordial da liturgia, que, como nos diz o papa são Pio X, é a adoração e a glória de Deus. Secundariamente, a liturgia e a música sacra servem à santificação e edificação dos fiéis. A comunidade é vital, mas deve ser devidamente ordenada em conjunto com o objetivo primordial de glorificar a Deus.
O que se espera que o livro alcance? O que o senhor espera que ele possa mudar na abordagem atual da música sacra na Igreja?
O livro oferece uma introdução maravilhosa e completa à rica tradição e às doutrinas da Igreja sobre música sacra, em grande parte desconhecidos e negligenciados por muitos católicos hoje em dia. Não houve muitos documentos recentes da Igreja sobre música sacra desde a Musicam sacram, de 1967. O cardeal Ratzinger escreveu bastante sobre música sacra, mas creio ser oportuno que o cardeal Sarah esteja trazendo esse tema à nossa atenção hoje, tanto ao apresentar suas próprias meditações sobre a teologia da música na liturgia quanto ao expor o que a Igreja sempre ensinou sobre música sacra. Rezo também para que esse livro ajude a formar e encorajar sacerdotes e bispos em seus papéis únicos como guardiões da sagrada liturgia, reafirmando neles a crença de que todos os seus esforços para imbuir a adoração a Deus de beleza e integridade são verdadeiramente necessários e valiosos.
Espero também que, para os músicos e para os católicos que já amam a música sacra, possam compreender mais profundamente por que a música é tão importante e que continuem a permitir-se ser moldados por ela para louvar a Deus com mais alegria, com mais do coração e com todo o seu ser. Isso porque a música sacra não é algo a que só damos assentimento intelectual; é algo que vivemos, respiramos e através do qual louvamos a Deus. Nesse sentido, é algo em que todos podemos continuar crescendo.




