“Eu só quero deixar bem claro que aqui em Santa Maria, a vivência da Medianeira é exatamente aquilo que a nota sugere, Maria é muito importante, mas não ocupa o lugar de Jesus”, disse o arcebispo de Santa Maria (RS), dom Leomar Antônio Brustolin, numa coletiva de imprensa no sábado (8), por ocasião da 82ª Romaria Estadual da Medianeira realizada anualmente no segundo domingo de novembro. Ele se referia à nota doutrinal Mater populi fidelis (Mãe do Povo Fiel de Deus), publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé em 4 de novembro, assinada pelo prefeito cardeal Víctor Manuel Fernández, e aprovada pelo papa Leão XIV. 

Nossa Senhora Medianeira é a padroeira do Rio Grande do Sul e foi coroada em 2024 como Rainha do Povo Gaúcho, título concedido pela Santa Sé depois das enchentes que afetaram o Estado em maio de 2024.

“Vou falar sobre um assunto polêmico que foi a nota doutrinal que a Santa Sé lançou justamente em tempos de romaria aqui em Santa Maria pedindo que não se denomine mais a Virgem Maria como corredentora e que se use o título medianeira com critérios, não é que seja tão fácil usar o título medianeira”, disse o arcebispo,. 

 “Isso causou grande polêmica. Eu estava em Brasília na CNBB e os bispos me diziam: Como é que vocês vão fazer agora lá em Santa Maria com o título da Rainha do Povo Gaúcho?”

Dom Leomar destacou que, desde sua chegada à cidade, sempre percebeu que o povo vive essa devoção de forma adequada. “Roma insiste que Maria não ocupe o lugar de Jesus, mas que seja mediação, não fonte. E é exatamente isso que vejo aqui.”

“Anteontem, quando rezei a trezena e comentei sobre a nota com os fiéis, muitos estranharam e disseram: Isso não é problema nosso”, continuou. “Eu só quero deixar bem claro que em Santa Maria, a vivência da Medianeira é exatamente aquilo que a nota sugere. Maria é muito importante, mas não ocupa o lugar de Jesus. Por isso, muitos leigos, leigas chegaram até mim e diziam: isso não é um problema nosso”.

“Não é um problema porque aqui acho que desde o Ignacio Vale, passando por esses 82 anos, não tivemos dificuldades em relação a doutrina de Maria como Medianeira”, disse o arcebispo referindo-se ao introdutor da devoção em Santa Maria. 

Em um vídeo publicado nas redes sociais hoje (10), dom Leomar reafirmou que em Santa Maria “estamos muito de acordo e alinhados com essa nota doutrinal, principalmente porque o termo medianeira aqui sempre foi alinhado a Jesus Cristo, associado a Jesus”.

“Maria é Medianeira, mas numa função totalmente subordinada a Jesus Cristo. Tanto é, que todas as orações, o hino e as formas de devoção que se encontram aqui na basílica e todo o complexo da medianeira, são prioritariamente ligados a Jesus Cristo”, reforçou.

“Maria é o aqueduto não é a fonte, é canal da graça, Maria é o colo, o pescoço que une a cabeça que é Cristo ao corpo que é a Igreja. Maria é a lua que recebe uma luz enorme do sol e por isso que pode iluminar as nossas noites”, disse. “Ela não substitui Jesus e por isso ós concordamos com a nota quando insiste no valor de Mãe do Povo Fiel”.

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“O título de Medianeira nos ajuda muito a perceber a grandeza dessa mãe em todos nós. Viva a Medianeira de todas as graças”, concluiu.

A devoção a Nossa Senhora Medianeira de todas as graças

Desde os inícios do cristianismo os cristãos recorriam à intercessão da Virgem Maria e à sua mediação sobre toda a Igreja e cada um dos fiéis.

Segundo a constituição pastoral Lumen Gentium (LG) 62, “o nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia”.

Maria, portanto, “cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada”.

Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo”, continua a LG 62.

A devoção a Nossa Senhora Medianeira chegou à cidade de Santa Maria (RS) em 1928 através de Ignácio Rafael Valle que estudava para ser padre e era um grande entusiasta dessa devoção.

Em 1929 o papa Pio XI concedeu à diocese de Santa Maria a honra de celebrar Nossa Senhora Medianeira com festa própria. A primeira celebração foi em 31 de maio de 1930, na capela do seminário São José. Valle mandou vir da Bélgica um santinho com a imagem de Nossa Senhora Medianeira.

Em setembro do mesmo ano 30 mulheres organizaram uma romaria para pedir a proteção de Nossa Senhora contra as ameaças que a cidade sofria por causa da Revolução de 1930. Suas preces foram ouvidas e dias depois a revolução terminou de forma pacífica.

Desde então, muitos gaúchos começaram a pedir a intercessão da Virgem que foi declarada padroeira do Estado do Rio Grande do Sul em 1942. Até hoje, todo 2º domingo de novembro acontece a Romaria Estadual ao Santuário de Nossa Senhora Medianeira, que foi inaugurado em 1985 e dois anos depois elevado a basílica. Em agosto de 2024 ela foi coroada como Rainha do Povo Gaúcho, título concedido pela Santa Sé.

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