O Dicastério para a Doutrina da Fé anunciou hoje (30) que vai publicar um documento em 4 de novembro sobre títulos de Nossa Senhora que falam sobre a “cooperação dela na obra da salvação”.

A contribuição de Nossa Senhora para a salvação da humanidade, especificamente o título de Co-Redemptrix (Corredentora), tem sido um ponto de debate teológico por décadas — com defensores pedindo que o papel de Nossa Senhora na redenção seja declarado dogma, enquanto críticos dizem que isso prejudica o ecumenismo e a aproximação com outras denominações cristãs ao exagerar a importância de Nossa Senhora.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, Víctor Manuel Fernández, vai apresentar a nota doutrinal sobre o tema, intitulada Mater Populi Fidelis (Mãe Fiel do Povo), na Cúria Jesuíta em Roma.

Fernández disse a jornalistas em julho que o dicastério estava trabalhando num texto sobre “vários temas marianos”, mas não revelou mais detalhes sobre o conteúdo do texto.

O padre teólogo Matteo Armando, secretário do departamento de doutrina do dicastério, também fará um discurso na apresentação de 4 de novembro, junto com um consultor especialista do dicastério, o padre Maurizio Gronchi, que dá aula de Cristologia — doutrina da Igreja sobre a Pessoa, a natureza e o papel de Cristo — na Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma.

Os papas recentes têm tido posições variadas sobre o uso do título "Corredentora" para Maria.

Em 2017, a Associação Mariana Internacional apresentou um pedido ao papa Francisco para o reconhecimento público do título de Nossa Senhora como "Corredentora com Jesus Redentor", uma das várias petições enviadas à Santa Sé no século passado.

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Mas o papa argentino disse ter reservas sobre o título em mais de uma ocasião em seu pontificado.

Em sua audiência geral de 24 de março de 2021, Francisco disse que, embora os cristãos sempre tenham dado belos títulos a Nossa Senhora, é importante lembrar que Cristo é o Único Redentor e que Nossa Senhora nos foi confiada “como Mãe, não como deusa, não como corredentora”.

Em 2000, quando ainda era o cardeal Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI disse que considerava o título "Corredentora" muito distante das Escrituras e que o título poderia causar mal-entendidos sobre o status de Cristo como Redentor — embora defensores da fórmula mariana acreditem que ele demonstrava maior abertura à devoção em seu pontificado, apesar de nunca ter usado o termo explicitamente.

O papa são João Paulo II, por sua vez, usou publicamente a palavra "Corredentora" pelo menos seis vezes em seu pontificado, renovando as esperanças de uma declaração iminente do dogma na década de 1990.

O título remonta ao século X, quando algumas ladainhas marianas tinham o título de Nossa Senhora como redentora, junto com o de seu Filho. O prefixo "co-" foi adicionado no século XV para esclarecer que Nossa Senhora não era a Redentora, mas sim alguém que cooperou de modo singular na obra da Redenção.

O termo “Corredentora” só recebeu reconhecimento do magistério da Igreja séculos mais tarde, em 1908, quando a Sagrada Congregação para os Ritos usou o termo num decreto que elevou a importância da festa das Sete Dores de Nossa Senhora.

Desde então, fez-se referência ao título diversas vezes na doutrina da Igreja, inclusive no Concílio Vaticano II, que acabou decidindo contra qualquer reconhecimento formal do título no documento Lumen gentium.