Os apelos para o aprofundamento das relações judaico-católicas ecoaram num evento que marcou o 60º aniversário da Nostra aetate, declaração do Concílio Vaticano II publicada pelo papa são Paulo VI sobre a relação da Igreja com as religiões não-cristãs.

Em Chamados à Amizade: Nostra Aetate aos 60 anos, evento organizado pelo Projeto Philos e pelo Santuário Nacional São João Paulo II, nos EUA, judeus e católicos de todo o país reuniram-se ontem (28) para falar sobre a Nostra aetate, documento que muitos acreditam ter alterado permanentemente o curso das relações católico-judaicas.

“Um dos desafios da colaboração católico-judaica é conseguir que mais pessoas participem”, disse o rabino Joshua Stanton à CNA, agência em inglês da EWTN, no âmbito da conferência. “E fazer com que mais pessoas façam perguntas novas e desafiadoras umas às outras, partindo de um lugar de amor e respeito”. O rabino descreveu a Nostra aetate como “milagrosa” por ter estabelecido oficialmente a solidariedade judaico-católica.

Mais cedo naquele dia, Stanton, que é vice-presidente associado das Federações Judaicas da América do Norte e supervisiona as relações inter-religiosas, disse que havia sido inspirado pelo recente processo sinodal feito pelo papa Francisco e pediu um “sínodo judaico-católico”.

“Por muito tempo, esses diálogos se concentraram no clero, o que faz muito sentido”, disse ele. “Neste momento, se quisermos ver a Nostra aetate sendo vivida plenamente em todo o mundo, em diferentes comunidades, precisamos que os leigos estejam mais à frente dessas conversas”.

Stanton falou sobre uma mudança para expandir a liderança leiga nas comunidades judaicas e em certas esferas católicas, como a educação ou outros ministérios, o que, segundo ele, levou os leigos a "se empoderar cada vez mais".

“Portanto, acho que eles merecem um lugar à mesa para o diálogo e também para nos ajudar a traduzir esses documentos e declarações realmente importantes em mudanças tangíveis no terreno”, concluiu o rabino.

Entre os palestrantes do evento estavam George Weigel, biógrafo do papa são João Paulo II; Kathryn Jean Lopez, editora da revista conservadora National Review; Mary Eberstadt, cofundadora da Coalizão de Católicos Contra o Antissemitismo; a freira Maris Stella, SV, vigária-geral das Irmãs da Vida; Gavin D'Costa, da Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma; e Simone Rizkallah, diretora da Philos Catholic.

Antes do evento, um grupo chamado Catholics United Against the Jews (Católicos Unidos Contra os Judeus) fez uma publicação nas rede social X criticando a conferência, escrevendo: “Os católicos hebreus, como Gideon Lazar e seu patrono Paul Singer, do Projeto Philos (judeu), se recusam a interpretar a Nostra aetate à luz da tradição. Eles a usam para introduzir clandestinamente a teologia da dupla aliança e o culto judaico na Igreja. Os católicos fiéis devem evitá-los completamente”.

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“Um grupo que se autodenomina Católicos Unidos Contra os Judeus alega fidelidade ao Concílio Vaticano II — no entanto, em seu próprio nome e atividade, repudia não só o magistério do papa são João XXIII, do papa são Paulo VI e do papa são João Paulo II, mas também as Sagradas Escrituras e a tradição viva da Igreja”, disse Rizkallah à CNA em resposta à publicação.

“Professar a aceitação do Vaticano II enquanto se adota uma postura que viola diretamente essas doutrinas fundamentais não é coerente nem fiel; é uma traição tanto ao Evangelho quanto ao magistério”, disse ela.

“É difícil ver católicos, especialmente os mais jovens, se sentindo atraídos por movimentos conspiratórios como Católicos Unidos Contra os Judeus”, disse Rizkallah. “O novo antissemitismo revela uma crise espiritual e cultural mais profunda: a epidemia da solidão, exacerbada pelo uso excessivo de tecnologias digitais, pela confusão sobre a vocação e pelo conforto material ocidental que embota a alma”.

“Por trás disso há uma fome sincera, porém mal direcionada, pela verdade radical. Contudo, na ausência de uma proposta convincente e encarnada do Evangelho — o que o [fundador da Comunhão e Libertação] monsenhor Luigi Giussani chamou de risco da educação — esse desejo é facilmente sequestrado por falsas ideologias”.

“A Igreja deve responder não só com condenação, mas com a plenitude da verdade e do amor que só o nosso Messias judeu oferece”, concluiu ela.

Charlie Cohen, estudante judeu de estudos sobre política do Oriente Médio de Omaha, Nebraska, EUA, compareceu ao evento a convite de Rizkallah. Ao descrever o que Nostra aetate significa para ele como judeu, Cohen disse à CNA: "Acho que é muito importante para estabelecer as bases da continuidade de relações produtivas entre as comunidades católica e judaica, com certeza".

Tendo crescido numa comunidade predominantemente católica em Omaha, Cohen enfatizou a importância da disseminação da mensagem da Nostra aetate, dizendo: "O que às vezes tende a ser ignorado muito rapidamente [entre católicos e judeus] são os sentimentos negativos que nutrem uns pelos outros, o que é, em grande parte, ignorância".

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