“Os dominadores não compreendem que a água é irmã, que o sol é irmão e que a terra é mãe”, disse o arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, na missa celebrada neste sábado (4), dia de São Francisco de Assis, na catedral de Manaus. A celebração fez parte do Jubileu da Terra, Água e Floresta, uma das três atividades convocadas pela arquidiocese em preparação para a COP-30, que acontecerá em Belém (PA) em novembro de 2025.

A Conferência das Partes (COP) é o maior evento global das Nações Unidas para discussão e negociações intergovernamentais sobre mudança climática. O encontro acontece anualmente e reúne líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais, representantes da sociedade civil, de governos, do setor privado, e de organizações internacionais para discutir ações para combater a mudança climática. 

Na homilia, dom Steiner destacou que “todas as criaturas participam do mistério da Salvação. Nós fomos redimidos, fomos salvos. Participa do mistério da salvação todo orbe celeste e terrestre, toda obra criada participa da obra da redenção”.

Comentando o evangelho de Lucas (10, 21), “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”, o cardeal disse que “os pequeninos significam aqueles que olham as criaturas sem dominação, sem desejo de dinheiro, sem desejo de cobrança, mas com o desejo de cuidado e o desejo de cultivo — duas expressões tão queridas do nosso papa Francisco”.

“Os dominadores, os sugadores, não compreendem a fraternidade universal. Não compreendem porque não são pequenos conforme o texto do evangelho”, concluiu.

O jubileu começou na Igreja Nossa Senhora dos Remédios e os fiéis peregrinaram até a catedral para a celebração da missa.

Vigília pré-COP 30

Na sexta-feira (3), como parte das atividades pré-COP em defesa da Amazônia convocadas pela arquidiocese, aconteceu uma vigília na praça do Congresso que reuniu organismos da sociedade civil, movimentos sociais e lideranças religiosas.

Segundo o bispo-auxiliar de Manaus, dom Hudson Ribeiro, a vigília reuniu pessoas que “querem refletir, rezar e estão interessados ou já atuam na defesa da casa comum e das questões climáticas, no impacto das mudanças climáticas na vida das pessoas e como a Igreja se posiciona frente a isso”.

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“O que se quer é que os povos da Floresta, as comunidades, grupos, pessoas que habitam o território amazônico sejam ouvidas”, disse. “As discussões em nível político, governamental, acontecem, mas quem conhece melhor o território são os povos do território”.

Jubileu dos povos originários com a presença da Pachamama

Pachamama no cenário do Jubileu dos Povos Originários da arquidiocese de Manaus. Crédito: Arquidiocese de Manaus.
Pachamama no cenário do Jubileu dos Povos Originários da arquidiocese de Manaus. Crédito: Arquidiocese de Manaus.

Encerrando o ciclo, no domingo, o Jubileu dos Povos Originários reuniu lideranças indígenas no Parque do Mindú. Segundo a Arquidiocese, o objetivo foi “celebrar a resistência, a cultura e a espiritualidade dos povos em comunhão com o Jubileu da Esperança”.

Dom Steiner abriu o evento dizendo que “todas as criaturas participam da Redenção, nenhuma criatura ficou de fora. Por causa disso, a forma de relacionamento dos povos indígenas com a natureza expressa a dignidade de toda a Criação”.

No palco principal falaram lideranças indígenas, mulheres, jovens e anciãos sobre temas como território, clima, juventude e saberes ancestrais. A cruz do Jubileu da Esperança, redes indígenas e uma imagem de uma mulher grávida compuseram o cenário.

A  imagem é semelhante à que foi associada à Pachamama, divindade andina conhecida como “mãe terra”, durante o Sínodo da Amazônia, realizado em 2019, quando a imagem foi apresentada como parte da cosmovisão amazônica. Na ocasião, figuras femininas esculpidas em madeira foram exibidas dentro de igrejas em eventos em Roma.

Em outubro daquele ano, cinco imagens da Pachamama foram furtadas e lançadas no rio Tibre, em Roma. Em novembro, o bispo emérito de Marajó, dom José Luis Azcona, e o padre Hugo Valdemar, da arquidiocese primaz do México, criticaram publicamente o uso da imagem, classificando-o como escandaloso e idólatra.