29 de set de 2025 às 16:05
A Basílica Nossa Senhora das Dores, igreja mais antiga de Porto Alegre, tem na forma mais antiga de música ainda em prática, o canto gregoriano, uma forma renovada de evangelização.
“O canto gregoriano colabora para a espiritualidade do católico no sentido de movê-lo a um espírito hierático correspondente à situação em que se encontra: prestando culto a Deus ao longo do ano litúrgico", disse Tiago Pietro Capitani à ACI Digital.
Ele é um dos 16 integrantes da Capela Musical São Gregório Magno, fundada no dia 3 de outubro de 2013, dia de são Gregório Magno, pelo maestro André Delair.

“Trata-se de uma proposta alternativa de devoção para as Missas paroquiais, com cantos em latim, em diálogo perfeito a Liturgia rezada em português”, disse Delair. “Acredito que o grupo conseguiu mostrar na prática que o canto gregoriano tem seu lugar no meio do povo e não somente reservado a mosteiros, seminários, catedrais etc, como um elemento vivo e pulsante que sublinha a fé cantada ao longo de dois milênios.”
A história da Capela São Gregório Magno com a basílica das Dores começou em 2017, com a chegada do atual pároco, padre Lucas Matheus Mendes, de 39 anos. Com 12 anos de sacerdócio, o padre tem na basílica sua primeira paróquia.
Antes, trabalhava na formação dos seminaristas do ensino médio e do propedêutico da arquidiocese de Porto Alegre. No seminário, travou amizade com o regente da Capela São Gregório Magno que tinha um trabalho na área da música junto aos seminaristas. “Quando o padre Lucas assumiu a então paróquia das Dores, ele deixou as portas abertas em caso de necessidade de um espaço para ensaios, mas na época estávamos fechados com outra paróquia. Foi em 2019, quando este compromisso se encerrou, que surgiu a oportunidade para o nosso ingresso nas celebrações da Basílica das Dores, o que ocorre até hoje”, conta André Delair.
O sacerdote foi o responsável por liderar o processo de postulação do título de basílica menor para a paróquia das Dores, que foi concedido em setembro de 2022 pelo Papa Francisco (1936-2025).
Localizada no Centro Histórico de Porto Alegre, a basílica foi inaugurada em 1808. As celebrações dominicais costumam estar lotadas. A assembleia dos fiéis é composta em sua maior parte por famílias, casais jovens e seus filhos. É praticamente impossível passar por um dos bancos do histórico templo sem ver um bebê de colo sendo embalado pela sua mãe.
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“No início muitos viam com estranheza a proposta por se tratar de algo que não era algo comum de ser cantado e ouvido”, disse Delair sobre o início da liturgia com canto gregoriano. “Também causou estranheza que um grupo cantasse em latim, como algo muito antigo e fora do contexto atual. Contudo, devido à popularização da internet, os leigos tiveram acesso à informações que dão conta de que sim é um canto atual, como que um patrimônio da Igreja que ultrapassa épocas e dialoga com a Liturgia da Igreja em qualquer época e lugar”.
A capela São Gregório Magno é um grupo é masculino por uma opção estética musical. É por causa de são Gregório Magno, o 64º papa, que reinou de 590 a 604, que o canto gregoriano tem esse nome. São Gregório decidiu unificar o ritual da missa em toda a cristandade latina, definindo os cantos de entrada, gradual, ofertório e comunhão de cada domingo, que formam o cerne do repertório gregoriano.
O grupo que adotou seu nome em Porto Alegre prepara o repertório em encontros semanais regulares com aula de técnica vocal e interpretação. Os bons resultados fizeram com que o trabalho do grupo e estende para além da basílica.
“Os convites para cantar em diversas paróquias, assembleia repleta e o canto da assembleia, principalmente nas peças mais populares do repertório gregoriano são indicativos da vibração e aceitação dos fiéis em relação ao canto tradicional da Igreja”, salienta o regente, que contabiliza participação nos 12 anos de trajetória em mais de 300 liturgias cantadas, incluindo ordenações sacerdotais, uma ordenação episcopal, e participação em missas em mosteiros em diversas cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Canto Gregoriano como instrumento de evangelização e conversão
O vendedor Tiago Pietro Capitani Vieira é integrante da capela há seis anos e conta que o canto gregoriano teve forte influência em sua reaproximação com a Igreja Católica. “No começo, o meu envolvimento era apenas como ouvinte”, disse. “Só mais tarde passou pela minha cabeça a possibilidade de cantar, uma ideia que eu namorava há algum tempo. Um dia, comentei isto com um amigo e, para minha surpresa, descobri que ele fazia parte de um coral de canto gregoriano. Não esperei nem ele falar, eu mesmo me convidei e fui entrando. Desde então, nunca mais saí."
Para o integrante da Capela São Gregório Magno, a aceitação e participação dos fiéis não ocorre apenas nas músicas mais conhecidas. “Compreendemos as dificuldades inerentes de se cantar o gregoriano e somos sensíveis a isto. Sempre imprimimos e distribuímos folhetins (alguns deles contendo informações históricas) com as partituras, letras e respectivas traduções para facilitar ao máximo a participação, e o entendimento dos fiéis. No início, apenas o coro cantava o Salve Regina. Hoje, depois de três anos, já é possível ouvir todos os fiéis cantando."
O enfermeiro Rodimar Fulini, 60 anos, integra a capela desde 2022. Paulista de nascimento, ele ingressou em sua juventude na Abadia Cirstence de Itatinga (SP), onde teve contato pela primeira vez com o canto gregoriano. “O primeiro canto gregoriano com que tive contato e aprendi, o ‘Veni Creator Spiritus’, foi a coisa mais sublime que ouvi na minha vida até então”.
No canto gregoriano “a melodia é sublime e os textos são retirados quase integralmente das Sagradas Escrituras, ou seja, canta-se a Palavra de Deus”, diz Capistani. “As composições são feitas de tal modo que elevam a alma e atingem o mais profundo de nosso interior onde Deus faz sua morada e nos faz saborear e meditar sua Palavra e nos dá mais disposição para vivenciá-La”.




