O papa Leão XIV pregou hoje (27) sobre o amor maduro que permite aos fiéis, como Jesus Cristo em Sua Paixão, entregar livremente suas vidas e assim oferecer um testemunho de esperança mesmo na hora mais sombria da humanidade.

O papa baseou sua catequese no Evangelho segundo são João (cf. Jo 18, 4-9) em que, depois de rezar no Horto das Oliveiras, Jesus foi aos soldados que vieram prendê-lo e disse-lhes “Eu sou”, permitindo que os outros fossem libertados e que a promessa se cumprisse: “Não perdi nenhum daqueles que Me confiastes”.

Leão XIV disse que o evangelista "não nos apresenta um Jesus apavorado, que foge ou se esconde”.

“Pelo contrário, mostra-nos um homem livre, que se aproxima e toma a palavra, enfrentando abertamente a hora em que se pode manifestar a luz do amor maior", disse ele.

Jesus, que conhece as intenções dos soldados e daqueles que os enviaram, “decide não recuar”.

“Entrega-se”, disse o papa. “Não por debilidade, mas por amor. Um amor tão pleno, tão maduro, que não teme a rejeição. Jesus não é preso: deixa-se prender. Não é vítima de uma detenção, mas autor de um dom”.

“Nesse gesto encarna-se uma esperança de salvação para a nossa humanidade: saber que, até na hora mais obscura, podemos permanecer livres para amar até ao fim”, disse também Leão XIV.

O papa disse que, com a expressão "Eu sou", que na revelação bíblica evoca o nome de Deus, "Jesus revela que a presença de Deus se manifesta precisamente onde a humanidade experimenta a injustiça, o medo, a solidão”.

“É exatamente ali que a verdadeira luz está disposta a brilhar, sem medo de ser dominada pelo avançar das trevas", disse Leão XIV.

Assim, disse o papa, "Jesus mostra que a esperança cristã não é evasão, mas decisão”.

“Esta atitude é fruto de uma profunda oração na qual não pedimos a Deus que nos poupe do sofrimento, mas que nos dê força para perseverar no amor, conscientes de que a vida livremente oferecida por amor não nos pode ser tirada por ninguém", disse ele.

Perder a vida por amor não é fracasso

Jesus se deixa capturar para libertar os discípulos e “isso demonstra que o seu sacrifício é um verdadeiro ato de amor” que foi preparado ao longo de Sua vida, disse Leão XIV. Por isso, quando chega a hora “dramática e sublime", Cristo "tem a força de não procurar uma saída”.

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“O seu coração sabe bem que perder a vida por amor não é um fracasso, mas possui uma misteriosa fecundidade", disse o papa.

Embora “Jesus se sinta inquieto diante de um caminho que parece levar unicamente à morte e ao fim”, Leão XIV enfatizou que permanece convencido de que “só uma vida perdida por amor se reencontra”.

“É nisso que consiste a verdadeira esperança: não em procurar evitar a dor, mas em acreditar que, até no coração dos sofrimentos mais injustos, se esconde a semente de uma vida nova”, disse o papa.

Leão XIV encorajou os fiéis a reconsiderar a forma como “defendemos a nossa vida, os nossos projetos, as nossas seguranças, sem nos darmos conta de que, agindo assim, ficamos sós”.

Em contraste, a lógica do Evangelho oferece uma perspectiva diferente: "Só o que se dá floresce, só o amor que se torna gratuito pode restituir confiança até onde tudo parece perdido".

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Não é necessário controlar tudo

O papa Leão XIV também falou sobre o detalhe dessa passagem registrada por são Marcos, que fala de um jovem que, depois da prisão de Jesus, foge nu (cf. Mc 14, 51). "É uma imagem enigmática, mas profundamente evocativa", disse o papa, porque "também vivemos momentos em que somos surpreendidos e ficamos despojados das nossas certezas", quando “somos tentados a abandonar o caminho do Evangelho porque o amor nos parece um percurso impossível".

No entanto, disse também o papa, "será precisamente um jovem, no final do Evangelho, que anunciará a ressurreição às mulheres, não já nu, mas vestido com uma túnica branca”.

“Essa é a esperança da nossa fé: os nossos pecados e hesitações não impedem que Deus nos perdoe e nos restitua o desejo de retomar o nosso seguimento, para nos tornar capazes de oferecer a vida pelos outros", disse Leão XIV.

O papa concluiu sua reflexão encorajando todos os presentes a “a entregar-nos à boa vontade do Pai, deixando que a nossa vida seja uma resposta ao bem recebido".

“Na vida não é necessário controlar tudo”, disse Leão XIV. “É suficiente escolher, todos os dias, amar com liberdade. É nisso que consiste a verdadeira esperança: em saber que, até na obscuridade da provação, é o amor de Deus que nos sustenta, fazendo amadurecer em nós o fruto da vida eterna”.

Em sua saudação aos peregrinos de língua espanhola, o papa fez alusão à festa de santa Mônica, que é celebrada hoje, na véspera da festa de santo Agostinho, pedindo que, por sua intercessão, "saibamos, seguindo a lógica do Evangelho, como amar e dar nossas vidas livre e gratuitamente".

Como na semana passada, a audiência geral ocorreu na Aula Paulo VI e não na praça de São Pedro, devido às altas temperaturas em Roma. Consequentemente, os fiéis foram divididos entre esse espaço, uma pequena praça sombreada dentro do Vaticano, e a própria basílica de São Pedro.