21 de ago de 2025 às 15:29
O papa Leão XIV pede que “a fé, a esperança e a caridade se traduzam numa grande conversão cultural” numa mensagem para o Encontro para a Amizade entre os Povos em Rimini, Itália.
O Meeting de Rimini, que reúne milhares de pessoas todos os anos na última semana de agosto, nasceu em 1980 por iniciativa do padre Luigi Giussani, fundador do movimento Comunhão e Libertação. Ele chamava de “experiência elementar” um desejo inato de verdade, beleza e justiça que estaria presente no coração de cada ser humano e constituiria a base para o diálogo e o encontro entre pessoas de diferentes crenças e culturas.
“Os desertos são frequentemente lugares descartados, considerados impróprios para a vida”, diz o papa no início da carta enviada em 11 de agosto ao bispo de Rimini, Itália, Nicolò Anselmi. “No entanto, onde parece que nada pode nascer, a Sagrada Escritura retorna continuamente para narrar as passagens de Deus”.
O papa diz que o povo de Deus nasce no deserto, onde, “através de sua dureza, amadurece a opção pela liberdade” com a ajuda de Deus que “transforma o deserto em lugar de amor e de decisões, fá-lo florescer como um jardim de esperança”.
Leão XIV diz também que esse ambiente árido foi indicado também pelos profetas "como o cenário de um compromisso, ao qual devemos retornar cada vez que o nosso coração se torna tíbio, para recomeçar com a fidelidade de Deus" e habitado por monges e freiras "em nome de todos nós, representando toda a humanidade, ao Senhor do silêncio e da vida".
O papa comentou uma exposição dedicada aos mártires da Argélia. "Neles resplandece a vocação da Igreja de habitar o deserto em profunda comunhão com toda a humanidade, superando os muros de desconfiança que opõem as religiões e as culturas, imitando integralmente o movimento de encarnação e de doação do Filho de Deus".
Para o papa, esse "é o verdadeiro caminho da missão”. “Não a autopromoção, no contraste de identidades, mas a entrega de si até o martírio de quem adora dia e noite, na alegria e nas tribulações, só a Jesus como Senhor".
Importância do diálogo
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Uma das marcas do Meeting de Rimini é o diálogo entre fiéis e ateus, adeptos de diferentes religiões, e entre cristãos.
Para Leão XIV, “esses são importantes exercícios de escuta, que preparam os tijolos novos com os quais construir o futuro que Deus já reservou para todos, mas que só pode ser aberto acolhendo-nos uns aos outros”.
“Não podemos mais nos permitir resistir ao Reino de Deus, que é um Reino de paz”, disse o papa. “Onde os responsáveis pelos Estados e pelas instituições internacionais parecem não conseguir fazer prevalecer o direito, a mediação e o diálogo, as comunidades religiosas e a sociedade civil devem ousar a profecia”.
Isso significa "deixar-se levar ao deserto e ver o que pode nascer de tanta, demasiada dor inocente", disse Leão XIV.
O papa disse que Deus “escolheu os humildes, os pequenos, os fracos e, desde o ventre da Virgem Maria, fez-se um deles, para escrever a sua história na nossa história”, de tal modo que “sem as vítimas da história, os famintos e sedentos de justiça, os operadores de paz, as viúvas e os órfãos, os jovens e os idosos, os migrantes e os refugiados, o clamor de toda a criação, não teremos tijolos novos”.
“Negar as vozes dos outros e renunciar à compreensão mútua são experiências fracassadas e desumanizantes” e a elas “deve se opor a paciência do encontro com um Mistério sempre novo, cujo sinal é a diferença de cada um”, disse Leão XIV. A presença “desarmada e desarmante” dos cristãos na sociedade contemporânea deve traduzir “com competência e imaginação o Evangelho do Reino em formas alternativas de desenvolvimento aos caminhos de crescimento sem equidade e sustentabilidade”, disse Leão XIV. “Uma fé que se estranha da desertificação do mundo ou que, indiretamente, contribui para tolerá-la, não seria mais seguidora de Jesus Cristo”.
“Assim, o deserto se torna um jardim e a cidade de Deus, anunciada por santo Agostinho, transfigura nossos lugares desolados”, concluiu Leão XIV.




