15 de ago de 2025 às 15:31
Maksym Ryabukha, bispo greco-católico do exarcado de Donetsk, Ucrânia, descreve-se como um "bispo sobre rodas", pois viaja com frequência para visitar paróquias e acompanhar seus fiéis em meio à guerra. "Isso me permite ver as profundezas da vida humana", disse ele.
Um dos bispos mais jovens do mundo, com 45 anos, Maksym Ryabukha disse em entrevista à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) que, antes da invasão russa, havia "cerca de 80 paróquias" no exarcado no centro-leste da Ucrânia, "mas cerca da metade foi fechada, ocupada ou destruída”. “Agora, temos só 37 paróquias ativas", contou.
Na zona ocupada, lamentou, “as leis da força de ocupação proíbem qualquer filiação à Igreja Católica, seja de rito greco-católico ou latino, e é muito difícil exercer qualquer tipo de ministério ali”. “Meu exarcado não tem mais padres nesses territórios. Todas as nossas igrejas foram destruídas ou estão fechadas e as pessoas não têm permissão para frequentá-las”.
Desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) registrou a morte de pelo menos 13.883 civis, entre eles 726 crianças, e 35.548 feridos.
Sobre a situação atual, Ryabukha disse que ela está se tornando "cada vez pior".
“Os drones e bombardeios tornam todos os lugares inseguros, inclusive para civis. Ao longo da linha de frente, a cerca de 29 km do meu território, as pessoas abandonam suas casas à noite, com medo de morrer esmagadas, e vão dormir no campo, perto dos lagos".
“Um garoto me contou que estava dormindo com toda a família quando ouviram uma bomba se aproximando e perceberam que ela poderia cair bem em cima da casa deles”, disse o bispo. “Só em alguns segundos, eles pularam da cama e saíram de casa, e logo o prédio inteiro virou uma cratera. Uma experiência como essa pode te esmagar. É muito destrutiva”.
O ACNUDH informou na quarta-feira (13) que um número recorde de civis foram mortos e feridos na Ucrânia no mês passado, quando 286 pessoas foram mortas e 1.388 ficaram feridas. Este é o maior número de vítimas desde maio de 2022. Quase 40% das vítimas foram causadas por armas de longo alcance, como foguetes e munições de longo alcance. Em 31 de julho, um ataque a Kiev matou 31 pessoas — entre elas cinco crianças — e feriu 171, a maioria num prédio residencial atingido por um foguete.
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Para Ryabukha, “o que mais dói é ver o mundo em silêncio enquanto áreas civis são bombardeadas e pessoas são mortas”.
“A única coisa que nos dá esperança é que Deus é mais forte do que o mal que podemos encontrar no mundo. Enxergamos a vida cotidiana da perspectiva do Céu, porque, mais cedo ou mais tarde, tudo acabará, e esse fim se chama Paraíso”.
O bispo também destacou que "o pior não são as bombas. É a sensação de ser esquecido, de se sentir sozinho ou de não ter valor para ninguém".
Contudo, mesmo nos territórios ocupados, os fiéis “sentem-se parte de uma só Igreja: no apoio, nos encontros pessoais, quando partilham os seus sonhos e esperanças, quando rezam juntos, mesmo que seja muito perigoso”.
Apesar das dificuldades, há esperança na eparquia. “Temos 19 seminaristas. Isso é notável”, disse o bispo. “É um número grande para nós, já que não somos uma eparquia grande. Esses rapazes são ótimos... eles têm uma profunda experiência de vida cristã... Antes, as pessoas geralmente se sentiam perdidas... Agora, há clareza: quero assumir a responsabilidade pela minha vida e quero fazer isso”.
Com a ajuda da ACN, padres e religiosas estão recebendo treinamento psicológico para cuidar de jovens que perderam a capacidade de ler, escrever ou falar devido ao trauma da guerra. Eles também apoiam viúvas e mães de soldados mortos e distribuem ajuda humanitária a pessoas que perderam tudo.
“Deus, através das nossas mãos, consegue tocar e abraçar aquelas pessoas que sofrem e trazer-lhes um sorriso, um pouco de alegria, um pouco de serenidade interior”, disse Ryabukha.




