Os Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA descobriram fraude generalizada em seu programa de residência permanente para menores de idade desacompanhados, o que levou a um atraso na emissão de vistos para padres e religiosos, cujos vistos se enquadram na mesma categoria.

Segundo um relatório publicado em 24 de julho, o governo identificou fraude generalizada de idade e identidade entre os candidatos ao programa de visto Special Immigrant Juvenile (SIJ) destinado a imigrantes desacompanhados com menos de 21 anos de idade.

Dos 300 mil requerentes do SIJ analisados de 2013 a 2024, a maioria tinha mais de 18 anos de idade. Só no ano passado, 52% dos candidatos tinham 18, 19 e 20 anos de idade. Um terço de todos os candidatos ao SIJ eram homens com mais de 18 anos de idade. A grande maioria dos candidatos, 73,6%, era originária de El Salvador, Guatemala ou Honduras.

Normalmente, os peticionários do SIJ devem apresentar evidências de que foram "declarados dependentes de um tribunal juvenil estadual" ou que foram comprometidos de algum modo com uma agência estadual ou entidade ou indivíduo nomeado por um tribunal.

Para obter consentimento para a classificação SIJ, eles devem fornecer as "razões factuais pelas quais o tribunal estadual considerou que o estrangeiro foi abusado, negligenciado ou abandonado por um ou ambos os pais, e por que é do interesse do estrangeiro permanecer nos EUA", junto com "evidências de que um tribunal estadual concedeu ou reconheceu alguma forma de alívio dos maus-tratos dos pais".

Os candidatos cometeram fraudes de várias maneiras, como sua idade, nome e país de cidadania em documentos oficiais. Em alguns casos, os candidatos com mais de 18 anos de idade no programa SIJ entraram nos EUA sem inspeção e "entraram com petições estaduais pedindo que outros estrangeiros adultos que também entraram recentemente nos EUA sem inspeção fossem nomeados seus tutores para que pudessem apresentar petições SIJ".

 

Como isso afeta padres e religiosos nascidos fora dos EUA?

 

A notícia de fraude generalizada no programa juvenil é divulgada meses depois que foi revelado que um influxo de solicitantes de visto menores de idade resultou num acúmulo sem precedentes na categoria de visto de quarta preferência (EB-4) com base no emprego - a mesma categoria usada por padres e religiosos nascidos fora dos EUA.

"A demanda por vistos de imigrante SIJ cria uma pressão significativa sobre a categoria EB-4", diz o relatório do USCIS, sigla em inglês de Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA. "Esses vistos de imigrante são numericamente limitados e alocados com base no país de origem. Outros imigrantes especiais dependem de vistos da categoria EB-4. Isso resulta em tempos de espera significativos para outros imigrantes especiais nos EUA".

O relatório diz que "ministros da religião" estão entre os outros imigrantes especiais que recebem vistos da categoria EB-4.

Segundo as tendências de dados do relatório sobre os tempos de espera para vistos EB-4, o aumento da demanda na categoria começou a aumentar em 2016. Em março deste ano - dois anos depois que o governo Biden adicionou jovens à categoria - o tempo de espera para a categoria se estendeu para cinco anos e sete meses.

A cada ano, o Congresso dos EUA decide quantos green cards - vistos que dão residência permanente nos EUA - podem ser colocados à disposição por ano. Esses green cards são divididos em categorias com base em vários fatores, como emprego ou status de relacionamento com cidadãos americanos.

"O processo para obter o status de residência permanente, para obter residência permanente, que há alguns anos provavelmente poderia ser feito em algo entre 12 a 24 meses, agora vai demorar significativamente mais", disse em março Miguel Naranjo, diretor de serviços de imigração religiosa da Rede Católica de Imigração Legal, à CNA, agência em inglês da EWTN.

"Há uma enorme demanda na categoria EB-4", disse também Naranjo, dizendo que os trabalhadores religiosos não haviam sido afetados anteriormente pelo aumento de menores de idade desacompanhados até o último ano e meio, depois que o Departamento de Estado dos EUA designou toda a categoria como "sujeita a atrasos" devido ao grande aumento na demanda em toda a categoria.

O aumento ocorreu depois da adição de menores de idade à categoria pelo governo Biden em março de 2023, levando o programa a distribuir todos os green cards disponíveis na categoria bem antes do fim do ano fiscal de 2023-2024. Mais green cards não serão distribuídos até o início do próximo ano fiscal de 2025-2026 em outubro.

Devido ao atraso, muitos padres e religiosos que estão tentando permanecer nos EUA para continuar seus ministérios correm o risco de serem forçados a deixar o país antes que seu pedido de green card seja processado por pelo menos um ano.

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Normalmente, trabalhadores religiosos entram nos EUA com vistos R-1, que têm um limite de cinco anos. Enquanto isso, trabalhadores religiosos que desejam permanecer nos EUA pedem vistos na categoria EB-4. No entanto, o influxo de candidatos menores de idade causou um grande atraso na categoria, o que significa que muitos trabalhadores religiosos serão forçados a deixar o país quando seus vistos R-1 expirarem.

“Isso me faz sentir triste e traído”, diz o padre Paschal Anionye, da diocese de Warri, Nigéria, que trabalha em Nova York, em reação às conclusões do USCIS. “Especialmente porque minhas esperanças — e as de muitos nigerianos e africanos em geral — de viver em segurança, estudar e servir num ambiente multicultural, multiétnico e diverso estão sendo frustradas”.

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Anionye descreveu também a situação enfrentada por padres e religiosos estrangeiros como “desanimadora”, dadas as necessidades das dioceses nos EUA.

O padre nigeriano, que está nos EUA com um visto R-1 emitido em abril de 2023, planeja pedir o green card depois da renovação do visto em outubro.

Ele disse à CNA que vai se sentir “péssimo, horrorizado e decepcionado" caso seja forçado a voltar à Nigéria antes que seu pedido de green card seja processado, pois ele foi para os EUA “não só em busca de um ambiente seguro contra a perseguição cristã na Nigéria... mas com a intenção genuína de servir como missionário”.

“Como sempre foi meu desejo desde os meus primeiros dias no seminário", diz Anionye.

O padre falou também sobre o medo de colocar sua mãe e irmãos em maior risco, dizendo que seu retorno à Nigéria não só o tornaria um alvo, mas também renovaria as ameaças contra eles. "Perdi um primo para sequestradores em 2015 e continuo carregando traumas relacionados a questões de segurança", diz também Anionye.

Criminalidade entre candidatos ao SIJ

Dados preocupantes no relatório também identificaram que um subconjunto de 18.829 dos candidatos mais velhos ao programa estavam "envolvidos em criminalidade significativa", com registros mostrando 36.920 encontros policiais entre esses indivíduos, indicando várias prisões para alguns.

 

Segundo o relatório, pelo menos 120 peticionários foram presos por assassinato e 200 peticionários aprovados foram condenados por crimes sexuais e obrigados a se registrar no Registro Nacional de Delinqüentes Sexuais. Outros peticionários do SIJ foram presos por crimes graves adicionais, cpmo tentativa de homicídio, agressão, estupro, abuso sexual infantil, posse e distribuição de material de abuso sexual infantil, violência doméstica, roubo de carros e tráfico de drogas.

Cerca de 500 candidatos ao SIJ aprovados para a classificação do SIJ desde 2013 eram membros conhecidos ou suspeitos de fazer parte de gangues violentas.

Em alguns casos, diz o relatório, esses membros de gangues, que obtiveram o status de residência permanente legal como SIJs, eram "procurados por autoridades policiais estrangeiras por assassinatos que supostamente cometeram antes de entrar nos EUA sem inspeção e apresentaram [petições SIJ]".

Embora o número seja relativamente pequeno, o relatório também identificou terroristas conhecidos ou suspeitos que apresentaram petições do SIJ, comoo "um estrangeiro do Tajiquistão suspeito de planejar um ataque terrorista do Estado Islâmico (EI) nos EUA".

"Estrangeiros criminosos estão se infiltrando nos EUA por meio de um programa destinado a proteger crianças estrangeiras abusadas, negligenciadas ou abandonadas", disse Matthew J. Tragesser,  porta-voz do USCIS, que criticou juízes "ativistas" e as políticas de fronteira aberta do governo Biden.

O Congresso dos EUA introduziu uma legislação bipartidária para ajudar a manter os trabalhadores religiosos, como padres e religiosos católicos, no país, estendendo seus vistos em vez de enviá-los de volta aos seus países de origem em meio ao acúmulo na categoria EB-4.