Nota do editor: A correspondente do jornal National Catholic Register na Europa, Solène Tadié, fez o seguinte discurso na reunião anual de Vanenburg, organizada pelo Centro para a Renovação Europeia para a discussão de ideias e estudo de importantes tópicos atuais, em 10 de julho em Berlim, Alemanha.

Boa tarde, estamos aqui para discutir uma questão que, em muitos aspectos, parece evidentemente absurda — mas que está no cerne de muitos dos debates que definiram nossa época: "As mulheres existem?"

Presumo que todos nós tenhamos percebido a referência humorística ao documentário What Is a Woman? (O Que É Uma Mulher?, em tradução livre), de Matt Walsh — que reafirma princípios básicos da biologia e cujo sucesso inesperado também demonstrou a extensão da decadência do mundo ocidental.

Agora, no espírito de uma tradição marxista clássica, especialmente cara a nós, franceses, de revelar "de onde falamos", gostaria de esclarecer que estou abordando essa questão de um ponto de vista particular: como mulher, católica e jornalista que poderia ser considerada pelas feministas como uma "mulher emancipada".

Entendo que minha perspectiva católica pode não ressoar com todos aqui, mas acredito que ela seja crucial, pois oferece reflexões muito oportunas e construtivas sobre um tópico que pode determinar o futuro da nossa civilização, já que enfrentamos uma crise demográfica sem precedentes.

A maioria das enciclopédias define "feminismo" como uma doutrina, um conjunto de movimentos que defendem a igualdade entre homens e mulheres em todas as esferas e a ampliação do papel das mulheres na sociedade. Assim, superficialmente, o feminismo tem todos os ingredientes de um projeto louvável, dedicado ao bem comum. Mas se julgarmos uma árvore pelos seus frutos, a história muda completamente.

Na minha opinião, o feminismo, especialmente o feminismo moderno, é um erro antropológico fundamental. Embora se possa argumentar que o feminismo primitivo surgiu em resposta à exclusão misógina das mulheres das fileiras do iluminismo — especialmente devido à proximidade delas com o clero —, o feminismo atual tornou-se uma ideologia construtivista que desconsidera a biologia, postulando que gênero é uma construção social, maleável como argila.

Feminismo Contra a Ciência

Essa estrutura ideológica, defendida por figuras como Simone de Beauvoir, diz que "não se nasce mulher, mas se torna mulher". O que isso realmente significa? Não se trata de uma noção romântica ou de desenvolvimento pessoal, mas da afirmação de que o conceito de mulher nada mais é do que o fruto de uma construção social, inventada principalmente por homens. Vale muito a pena ler o livro dela, O Segundo Sexo, para entender seu desprezo pelo que constitui a natureza da mulher, especialmente a maternidade, que ela vê como a escravidão máxima da mulher.

Para dar uma ideia, para ela, náuseas e vômitos na gravidez "manifestam a revolta do corpo contra a espécie que se apossa dele", e é só na menopausa que as mulheres finalmente "coincidem consigo mesmas". Para ela, basta se livrar do nosso determinismo biológico. Ela se alegra que a tecnologia eventualmente consiga anular as diferenças físicas entre homens e mulheres, uma condição necessária para alcançar a igualdade perfeita entre os sexos, que é o objetivo da busca feminista.

O problema aqui, como eu o vejo, é que quando se negam verdades biológicas, perde-se a própria essência do que significa ser humano.

Essa ideologia permeia nossa cultura há décadas, levando à atual ideologia woke e trans, uma ideologia profundamente antimulheres que está fomentando alianças inesperadas entre as chamadas feministas tradicionais e o mundo cristão ou conservador. Mas ela é contrariada de todas as maneiras possíveis pela ciência, pela história e pela sociologia.

Tomemos, por exemplo, os estudos do renomado neurocientista Simon Baron-Cohen, professor de Cambridge, que demonstrou que meninos e meninas desenvolvem tendências neurológicas diferentes desde muito cedo. A partir dos seis anos, as meninas tendem a ser mais empáticas, enquanto os meninos tendem a comportamentos mais sistematizadores. Essas diferenças não são só culturais ou sociais; são biologicamente motivadas. Essas evidências científicas desafiam a afirmação feminista de que as diferenças de gênero são simplesmente o resultado de uma construção social.

Consideremos outro exemplo: a Suécia, frequentemente apontada como um modelo de igualdade de gênero, oferece um estudo de caso interessante. Estatísticas publicadas em 2022 mostraram que, no país onde as mulheres têm as melhores oportunidades de emprego na Europa, elas ainda gravitam predominantemente em direção a carreiras em cuidados pessoais, ensino e vendas diretas, enquanto poucas ingressam em gestão ou finanças. Se as mulheres fossem realmente marginalizadas nessas funções, como o feminismo frequentemente diz, por que esse padrão persistiria mesmo na sociedade mais igualitária em termos de gênero?

Isso me leva ao cerne da questão: ao negar a biologia, o feminismo aprisiona as mulheres numa visão fantasma de seu papel na sociedade, que ignora suas inclinações naturais. Em vez de libertar as mulheres, ele as aprisiona em uma caixa ideológica.

Cristianismo, principal força motriz da libertação das mulheres

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Essa falsa antropologia é ainda mais agravada por uma falsa história, que tenho destacado incansavelmente em meu trabalho, pois acredito que o mito do cristianismo como um opressor histórico das mulheres está tendo pesadas consequências nas sociedades ocidentais.

De fato, muitas dessas sociedades estão vivendo uma renovação cristã inesperada, que atrai principalmente homens jovens, enquanto as mulheres ainda estão largamente ausentes do fenômeno.

Se cristãos e defensores da civilização ocidental não reafirmarem o cristianismo como a força libertadora suprema para as mulheres, poderão perder uma geração inteira para o impasse do feminismo e das ideologias progressistas. Eles deveriam resgatar essa narrativa, não só para esclarecer a história, mas também para ajudar a guiar o futuro.

Para compreender a verdadeira força libertadora do cristianismo, mencionemos brevemente a Igreja dos primeiros séculos, na qual o cristianismo oferecia às mulheres algo sem paralelo no mundo antigo: um status legal. Elas eram frequentemente consideradas propriedade. Era um mundo onde os pais detinham o poder de vida e morte sobre suas filhas.

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O Evangelho mudou isso. As mulheres tornaram-se participantes ativas na evangelização do mundo, mesmo correndo grande risco pessoal. Desde os primórdios, as mulheres cristãs foram autorizadas a escolher seus cônjuges ou permanecer celibatárias, e muitas delas escolheram o martírio em vez de renunciar à fé. A maioria dos santos dos primeiros séculos da era cristã são mulheres, e isso não é coincidência.

Essas primeiras mulheres cristãs não esperavam permissão de nenhuma autoridade secular — elas estavam afirmando sua identidade e poder por meio de sua fé, o que era revolucionário para sua época.

Ao contrário dos mitos modernos sobre a "idade das trevas", a idade média foi uma época de oportunidades sem precedentes para as mulheres, em grande parte devido à influência do cristianismo. A historiadora francesa Régine Pernoud demonstrou que as mulheres atingiram seu auge nessa época, detendo poder como rainhas, abadessas, teólogas, proprietárias de terras e até mesmo guerreiras nas Cruzadas.

Ao contrário dos sistemas patriarcais anteriores, a sociedade feudal da época concedia autonomia às mulheres. Elas atingiam a idade adulta aos 12 anos de idade, dois anos antes dos meninos. Muitas mulheres tinham terras, administravam propriedades e eram importantes tomadoras de decisões nas esferas política e intelectual da época. Figuras como Leonor da Aquitânia e Branca de Castela tinham significativo poder político, enquanto outras, como santa Hildegarda de Bingen, fizeram contribuições monumentais à teologia, à ciência e às artes, atraindo profunda admiração de clérigos de alto escalão da época.

A Igreja não só elevou as mulheres espiritualmente, mas também criou uma estrutura onde elas pudessem prosperar como líderes. Santa Catarina de Sena, por exemplo, teve enorme influência no Grande Cisma do Ocidente, trazendo o papa de volta de Avignon para Roma, sem nunca ter que renunciar à sua feminilidade. As mulheres floresceram nesse sistema, não imitando os homens, mas abraçando seus papéis distintos — provando que o cristianismo lhes oferecia muito mais liberdade e empoderamento do que qualquer ideologia secular.

Madre Angélica e o empoderamento cristão

Hoje, os mesmos princípios cristãos permitem que as mulheres alcancem alturas extraordinárias só com a força de seu caráter. Um exemplo moderno e pessoal que guardo com carinho é a madre Angélica, fundadora da EWTN na década de 1980, que enfrentou ceticismo e resistência tanto de forças seculares quanto do clero dominado por homens. No entanto, ela construiu a maior rede de televisão católica do mundo por pura fé, coragem e determinação.

Sua história ressalta um ponto mais amplo: as mulheres não precisam rejeitar sua feminilidade ou se conformar a ideologias seculares para liderar. A liderança de madre Angélica foi impulsionada por sua fé profunda e vontade inabalável.

A atual presidente e diretora de operações da EWTN News, Montse Alvarado, exemplifica esse empoderamento cristão. Ela traz consigo uma força única, enraizada na intuição, na empatia e num profundo senso de propósito. Sua liderança não é moldada pela necessidade de imitar os homens, mas pela força de seus dons femininos. Ela prosperou não por se conformar, mas por abraçar seu papel específico, profundamente alicerçado na fé.

Colapso demográfico e a solução cristã

Isso nos leva a uma dimensão política mais concreta, visto que agora enfrentamos uma crise demográfica sem precedentes. Recentemente, entrevistei Mads Larsen, professor norueguês e autor de um ótimo livro intitulado Histórias de Amor: Dos Vikings ao Tinder: A Evolução das Ideologias Modernas de Acasalamento, Disfunção no Namoro e Colapso Demográfico (Em tradução livre). Ele ressaltou que este inverno demográfico que se desenrola agora é mais ameaçador para o Ocidente do que a peste negra.

A epidemia de solidão, o colapso das estruturas familiares e o declínio das taxas de natalidade — todos esses são sintomas de um problema mais profundo.

Larsen argumentou provocativamente que a contribuição do cristianismo para a libertação das mulheres também criou consequências não intencionais. Ao conceder às mulheres status legal e autonomia, o cristianismo preparou o cenário para a crise demográfica que enfrentamos hoje, exacerbada pelo uso generalizado de métodos contraceptivos. A ascensão da liberdade individual não foi acompanhada por uma estrutura social que pudesse sustentar o crescimento populacional sustentável.

Isso nos lembra da obra da filósofa católica Chantal Delsol, La Haine du Monde (O ódio do mundo, em tradução livre), na qual ela sugere que, para o Ocidente, o cristianismo é tanto o veneno quanto o antídoto. A mesma ênfase cristã na pessoa humana e na liberdade individual que ajudou as mulheres a conquistar autonomia agora também nos leva a um colapso demográfico.

Mas o cristianismo também é o único antídoto sustentável para a crise atual — se nossas sociedades estiverem comprometidas em usá-lo para reconciliar os sexos de um modo que respeite os papéis de homens e mulheres na sociedade.

O tempo da guerra ideológica acabou. A resposta não é lutar entre os sexos, mas reconciliá-los de uma forma que reconheça sua complementaridade. O cristianismo oferece uma estrutura para fazer exatamente isso. Se retornarmos a uma visão cristã de gênero — enraizada na compreensão e responsabilidade mútuas —, podemos começar a reconstruir uma sociedade onde homens e mulheres prosperem e onde o colapso demográfico seja evitado.

Ao considerarmos o papel das mulheres hoje, é essencial rejeitar a falsa dicotomia promovida pelas ideologias modernas. Não existe feminismo bom ou ruim. A própria ideia de feminismo pressupõe que a sociedade esteja dividida em categorias de eternas vítimas e opressores. É uma visão que coloca as mulheres numa posição de fraqueza.

Vamos relembrar os exemplos brilhantes de mulheres ao longo da história que não se curvaram às limitações das ideologias feministas modernas. Elas nunca tentaram — ou precisaram — imitar os homens. Elas simplesmente viveram sua verdade, guiadas pela fé, e moldaram o mundo de maneiras que nenhuma ideologia política jamais poderia alcançar.

As mulheres se revelam sobretudo em tempos de crise. Os desafios geopolíticos e éticos impostos, em particular, pela ascensão da IA (inteligência artificial) abrirão caminho para que elas contribuam, auxiliadas por seu próprio gênio feminino — não por meio da retórica da luta de classes, mas resgatando a força de caráter e as virtudes que colocaram as mulheres no centro da história por séculos. O cristianismo deve continuar a fazer o que faz de melhor: promover a singularidade da pessoa humana e conduzi-la à excelência, à santidade.

A tarefa agora é clara: reconciliar os sexos, reafirmar a verdade da nossa biologia e complementaridade, e usar o cristianismo, como sempre foi feito, como estrutura para a construção de uma sociedade harmoniosa. Isso não é só um imperativo moral — é uma necessidade política para a sobrevivência da nossa civilização.