14 de jul de 2025 às 13:42
O santuário de Selja, em Nordfjord, Noruega, estabelecido no século X, é o berço do cristianismo na Noruega e nos países nórdicos.
Como muitos locais de peregrinação e lugares sagrados na história da Igreja, a ilha sagrada de Selja está ligada a uma lenda: a lenda da princesa irlandesa Sunniva e suas companheiras.
A lenda de santa Sunniva
Sunniva fugiu de sua terra natal no século IX para escapar do casamento forçado com um rei pagão, que acabaria saqueando a Irlanda como punição pela recusa. Ela e um grupo de seguidores embarcaram em barcos sem velas ou remos, confiando inteiramente na providência divina para conduzi-los à segurança.
“Eles providencialmente acabaram aqui, nesta ilha sagrada de Selja, na Noruega”, disse ao jornal National Catholic Register, da EWTN, o padre recém-ordenado Mathias Ledum, que fez a primeira peregrinação à ilha há dez anos. Eles “se estabeleceram nas cavernas para viver uma vida de jejum, abstinência e oração”.
Segundo a lenda, quando seus inimigos se aproximavam, a caverna desabou ao redor de Sunniva e seu grupo, preservando sua pureza e santidade. Quando seu corpo incorrupto foi descoberto anos depois, a ilha se tornou o primeiro local de peregrinação da Noruega, e Sunniva, a primeira santa do país.
No século XI, Selja ganhou destaque quando o local “se tornou a sede da primeira diocese da Noruega”, disse o padre Ledum, “e um mosteiro beneditino foi estabelecido”.
Embora as peregrinações a Selja tenham continuado ininterruptas até a reforma protestante, quando o mosteiro foi destruído em 1536, as peregrinações católicas modernas na Noruega foram revividas no século XX para honrar e lembrar as raízes cristãs do país.
“Poderíamos chamar isso de berço da Igreja na Noruega”, diz o padre Ledum.
“O sangue de santa Sunniva e suas companheiras”, diz ele, é a semente da qual a Igreja na Noruega cresceu, “e vocês podem ver agora, muitos anos depois, a fé viva dos noruegueses”.
“Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas as coisas estão acontecendo e parecem promissoras”, disse o padre. “Há bons motivos para ter esperança”.
Experimentando a intercessão de santa Sunniva
Todos os anos, em 8 de julho, dia da festa de Sunniva, a Igreja na Noruega organiza uma peregrinação à ilha — que só é acessível de barco — em que uma procissão pela ilha e uma missa celebrada entre as ruínas do outrora próspero mosteiro beneditino atraem centenas de fiéis. Há também uma peregrinação no sábado mais próximo da festa; este ano foi em 5 de julho.
“A primeira vez que vim aqui foi exatamente dez anos atrás, quando eu ainda estava pensando em entrar para o seminário”, disse o padre Ledum, que foi ordenado em 28 de junho em Oslo.
“Vim aqui em peregrinação e senti muito fortemente a intercessão de santa Sunniva pela minha vocação, e sua história — deixar a Irlanda e partir em um barco sem nenhum remo, sem nenhuma vela, só deixando Deus assumir o controle — ressoou muito em mim”.
O padre Ledum disse que, embora "ainda não tivesse certeza do que Deus queria com [sua] vida, ele sabia de uma coisa: Eu sabia que se eu o deixasse assumir o controle, se eu entregasse minha vida a ele, ele me levaria para onde eu precisava estar”.
“E aqui estou eu, dez anos depois", diz ele.
O padre Ledum disse que a peregrinação deste ano — o retorno a Selja pela primeira vez como padre — "pareceu quase uma lua de mel". Ele expressou profunda gratidão pela oportunidade de agradecer a santa Sunniva e suas companheiras "por sua forte intercessão logo no início de sua jornada vocacional".
Mas também, disse o padre, por inspirá-lo “a embarcar nos barcos, deixar que Deus assuma o controle, guie-o pelas ondas da vida do seminário e o leve em segurança à costa da ordenação”.
Celebrando a história e construindo um futuro
A peregrinação deste ano marca a primeira vez desde o fechamento do mosteiro em 1537, na reforma protestante, que os dois bispos católicos noruegueses de Trondheim e Oslo estiveram presentes na ilha ao mesmo tempo — o bispo de Trondheim, Erik Varden; e o bispo coadjutor de Oslo, Fredrik Hansen.
Vindo do leste da Noruega, o recém-ordenado bispo Hansen estava menos familiarizado com santa Sunniva do que com outros santos locais.
Como "são Hallvard, que foi martirizado nos arredores da minha cidade natal", diz o bispo coadjutor de Oslo.
Mas Hansen sabia que "todos que vêm a Selja falam sobre o impacto que ela tem sobre eles".
“Santa Sunniva é uma das poucas santas medievais norueguesas e um testemunho da dívida que temos com os muitos homens e mulheres santos que trouxeram a luz de Cristo aos nossos ancestrais vikings”, disse o bispo.
Em sua “primeira peregrinação a Selja”, o bispo Hansen disse que, ao pisar na ilha, “a pessoa entra não só em nosso passado católico, mas num lugar onde santa Sunniva, suas companheiras e os monges que fundariam um mosteiro deram testemunho de uma confiança completa na providência de Deus e onde a fé conquistaria e mostraria um novo caminho para aqueles que a abraçassem”.
“Estar aqui é celebrar a nossa história, o desenvolvimento do cristianismo, a chegada do catolicismo ao nosso país, mil anos de evangelização”, disse o bispo Hansen, dizendo também que, por esse motivo, os bispos também decidiram tornar a ilha um local oficial para o Jubileu 2025.
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É “uma forma de relembrar o nosso passado para construir um futuro, um futuro para o cristianismo neste país”, diz Hansen.
O bispo Varden, que liderou a procissão pela ilha em 5 de julho e celebrou a missa nas ruínas do mosteiro, disse ao Register que “o lugar tem seu próprio brilho”.
“A cada ano, o número de participantes aumenta”, disse Varden. “Isso é uma alegria”.
“A caminhada pela ilha, a missa e as vésperas foram celebradas com profundo recolhimento interior”, disse também ele. “Além disso, havia uma atmosfera boa, acolhedora e alegre. Uma peregrinação é um encontro de irmãos e irmãs — uma reunião familiar. Isso era muito evidente em Selja”.
Como “Selja é a própria origem do cristianismo norueguês”, o bispo Varden enfatizou que “retornar para lá é tomar consciência de nossas próprias raízes” e de quão importante é isso.
“Vivemos numa época sem raízes”, disse ele. “Muitos buscam critérios, coordenadas para viver”.
“Nisso, o exemplo dos santos é de grande ajuda”, diz o bispo. “As histórias sobre eles não nos são dadas só para nutrir nossa piedade. Elas retratam modelos que devemos — e podemos — seguir”.
Estabelecendo as bases para um novo mosteiro
Uma pessoa que levou esse chamado a sério é Ragnhild Aadland Høen, gerente de comunicação em Oslo, que está trabalhando arduamente para lançar as bases de um segundo mosteiro em Selja. Em 2013, ela e o marido compraram um terreno para esse propósito.
Aadland Høen diz que a visão de revitalizar um mosteiro em Selja não partiu dela.
"A iniciativa partiu da comunidade local", diz ela. "Eles esperavam há muito tempo pelo retorno da vida monástica e pediram ajuda à Igreja Católica em 2012".
O bispo de Oslo repassou o pedido à paróquia de São Paulo em Bergen, onde o pároco de Aadland Høen a convidou a participar.
"Eu não comecei isso", diz Høen. "Eu simplesmente fui chamada para algo que Deus já estava fazendo".
Sua conexão com Selja, no entanto, começou quase uma década antes. Aadland Høen chegou à ilha de Selja em 2004 como luterana.
“Como luterana, eu acreditava que não havia nada mais sagrado do que Deus”, disse Aadland Høen ao Register. “Mas entendi imediatamente que este era um lugar sagrado”.
Aadland Høen era casada havia dois anos e, com o marido, tentava engravidar sem sucesso. Um guia lhes contou sobre "um poço sagrado" onde muitos iam rezar na época medieval e que concedia muitas curas e o dom da vida àqueles que desejavam um filho.
“Como luterana, eu não poderia pedir a um santo que orasse por mim”, disse Aadland Høen, rindo, “Mas bebi a água do poço e orei a Deus. Depois de rezar nas ruínas do mosteiro por cerca de 30 minutos, ouvi uma voz dentro de mim dizendo: Ela será chamada Sunniva e será grande para Deus”.
No mês seguinte, Aadland Høen descobriu que estava grávida.
Depois de viver um encontro espiritual pessoal na ilha — e perceber seu crescente apelo entre turistas e viajantes curiosos — a ideia de revitalizar o mosteiro começou a criar raízes.
“Vejo as pessoas sentindo o sagrado e a presença de Deus”, diz Aadland Høen. “Não há dúvida de que esta ilha transforma turistas em peregrinos”.
Olhando para o futuro
Junto com outras famílias católicas — e com o apoio de um mosteiro beneditino na França que incentivou o projeto — Aadland Høen olha para o futuro com esperança, especialmente porque é um esforço ecumênico — com "pastores pentecostais, batistas e luteranos" que hoje fazem parte do conselho do projeto.
Esse interesse ecumênico por Selja ecoa um anseio que desperta corações há gerações. Em 1926, a católica norueguesa Sigrid Undset, vencedora do prêmio Nobel de Literatura de 1928, chegou à ilha com o desejo de comprar terras, mas a prefeitura recusou, supostamente preocupada com a "propaganda católica".
Agora, com o amplo apoio do projeto, apoiadores rezam pelas vocações norueguesas para fundar o mosteiro beneditino.
“Rezamos todos os dias pela conversão da Noruega e pelas vocações”, diz Aadland Høen.
“Precisamos que os beneditinos retornem”, diz Hoen, refletindo sobre o caos, a crescente secularização e o progressismo do mundo moderno e da Noruega. “Eles são guerreiros espirituais da Igreja, e precisamos desesperadamente deles neste país”.
Descrevendo a ilha como "um lugar com só um tênue véu entre o Céu e a Terra", Aadland Høen enfatizou que “é um lugar transbordante de paz e bondade".
“Ninguém sai de Selja intocado”, diz ela. “Ninguém sai sem se maravilhar e ser transformado por Deus".


