9 de jul de 2025 às 09:27
O dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé concedeu o nihil obstat – ou seja, nada se opõe – à devoção mariana ligada às supostas aparições da Virgem Maria no Monte Zvir, perto do vilarejo de Litmanová, no noroeste da Eslováquia, ocorridas entre 1990 e 1995. Mas, não reconheceu seu caráter sobrenatural.
A carta, assinada pelo prefeito do dicastério, cardeal Victor Manuel Fernández, e dirigida ao arcebispo Jonáš Jozef Maxim, hierarca da arquieparquia de Prešov para os católicos de rito bizantino, reconhece o valor pastoral do fenômeno e autoriza o culto público, sem se pronunciar sobre a autenticidade sobrenatural das aparições.
O cardeal diz na carta publicada pelo dicastério que o discernimento levou em consideração “muitos frutos espirituais obtidos pelos peregrinos que não deixam de frequentar o local”.
A decisão vem em resposta a um pedido formal do arcebispo Maxim, que em cartas enviadas à Santa Sé em fevereiro e maio deste ano, destacou “as inúmeras confissões sinceras e profundas” e conversões experimentadas pelos peregrinos, que continuam a ocorrer no santuário, apesar do fato de que as supostas aparições terminaram há três décadas. O arcebispo eslovaco também destacou o fluxo constante de peregrinos que não deixaram de ir ao santuário, manifestando uma experiência constante de fé.
O cardeal Fernández destaca várias mensagens atribuídas a Nossa Senhora que oferecem convites à conversão, à alegria e à liberdade interior. Um dos textos mais citados exorta: "Deixem que Jesus os liberte. Deixem que Jesus os liberte. E não permitam que o seu inimigo limite a sua liberdade, pela qual Jesus derramou tanto sangue”. Uma alma livre é a alma de uma criança" (5 de dezembro de 1993).
Em várias ocasiões, a figura mariana se apresenta como “feliz” e repete expressões de amor incondicional: "Eu os amo como são, eu os amo, eu os amo! Quero que sejam felizes, mas este mundo não os fará felizes" (7 de agosto de 1994).
Os fiéis também são convidados a viver uma espiritualidade simples e profunda: "Comecem a viver com simplicidade, a pensar com simplicidade e a agir com simplicidade. Busquem o silêncio para que o Espírito de Cristo possa renascer dentro de vocês" (5 de junho de 1994).
Algumas ambiguidades
O dicastério para a Doutrina da Fé reconhece que algumas mensagens contêm “algumas ambiguidades e aspectos pouco claros”, como a que insinua que uma região do mundo seria quase totalmente condenada, ou a que afirma que “a causa de toda doença é o pecado”.
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Essas mensagens não foram consideradas aceitáveis pela Santa Sé para publicação. No entanto, o cardeal argentino lembra na carta que, já em 2011, uma comissão doutrinária dedicada a investigar essas aparições explicou que os supostos videntes não ouviram mensagens em linguagem humana, mas viveram experiências interiores que depois tentaram traduzir, o que explica certas imprecisões ou interpretações pessoais.
Por essa razão, o cardeal Fernández pediu ao arcebispo de Prešov que publicasse uma compilação dessas mensagens sem levar em conta as declarações que poderiam causar confusão ou perturbar a fé dos simples.
A Santa Sé deixou claro que o nihil obstat não equivale ao reconhecimento de uma intervenção sobrenatural, mas permite o culto público e incentiva os fiéis a se aproximarem sem medo dessa proposta espiritual, cujo conteúdo pode ajudar a viver mais profundamente o Evangelho de Cristo.
Um santuário vivo
O Monte Zvir, a três quilômetros do vilarejo de Litmanová, tem sido há anos um local de peregrinação para milhares de fiéis, especialmente os de rito bizantino. Nas supostas aparições, que começaram em 5 de agosto de 1990, três crianças estavam presentes: Ivetka Korcáková, Katka Ceselková e Mitko Ceselka.
Essa medida do dicastério para a Doutrina da Fé é possível graças às novas normas sobre fenômenos sobrenaturais, publicadas em maio de 2024, que preveem vários graus de discernimento, desde o nihil obstat até julgamentos negativos, permitindo uma avaliação mais flexível das experiências espirituais vividas pelas comunidades.
Desde que entrou em vigor, há pouco mais de um ano, é o dicastério para a Doutrina da Fé, e não os bispos locais, que decide sobre esses eventos, e o processo de discernimento da Igreja Católica não termina mais “com uma declaração de supernaturalitate (de sobrenatural)”.
O objetivo da reforma dos regulamentos, que o papa Francisco aprovou, era evitar fraudes e golpes que se aproveitam da boa vontade dos fiéis.




