25 de jun de 2025 às 16:00
O arcebispo emérito de Hong Kong, cardeal Joseph Zen Ze-Kiun, sabia exatamente o que estava fazendo quando publicou online uma foto em uma procissão eucarística depois de celebrar uma missa tradicional em latim em Hong Kong. Ele está enviando várias mensagens com ela, disse um amigo dele ao jornal National Catholic Register, da EWTN.
Entre os destinatários das mensagens do cardeal Zen estão os católicos de Hong Kong e o papa Leão XIV, que ainda não disse quais são suas intenções com relação à missa rezada segundo a liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II, disse Mark Simon, que conhece o cardeal Zen desde 1996.
"Ele está falando com seu próprio povo, deixando-os saber que ele ainda está lá”, disse Simon por telefone. “E ele é, claro, a favor da missa em latim".
“E, ao dizer isso, ele está avisando Leão qual é sua posição”.
Simon, que é americano, administra empresas de propriedade de Jimmy Lai, católico que apoia a democracia em Hong Kong que está preso pelas autoridades locais desde dezembro de 2020. Lai é amigo e apoiador do cardeal Zen.
O papa Francisco restringiu a missa tradicional em latim, especialmente com sua carta apostólica Traditionis custodes, publicada em julho de 2021, "para prosseguir mais ainda na procura constante da comunhão eclesial", diz o documento.
Por ocasião do Domingo de Corpus Christi, o cardeal Zen, de 93 anos de idade, arcebispo emérito de Hong Kong, publicou uma foto sua segurando uma custódia com uma hóstia eucarística sob uma umbela, espécie de guarda-sol usado em procissões. Um texto de quatro parágrafos em cantonês e inglês diz: Depois de celebrar a missa tridentina (forma extraordinária do rito romano) na paróquia de Maria Auxiliadora, em Hong Kong, liderei uma procissão eucarística, levando a Sagrada Eucaristia para fora da igreja e pelas ruas do campus”, escreveu o cardeal Zen em publicação nas redes sociais no último domingo, com parênteses no original.
“Jesus é verdadeiramente Emanuel — Deus conosco. Ele deseja tanto estar conosco que nos deixou este maravilhoso Sacramento, oferecendo-se sob a aparência de pão e vinho para que comêssemos e bebêssemos”, escreveu o cardeal Zen. “O alimento que comemos se torna parte do nosso corpo, mas quando recebemos Jesus, nos tornamos Seu Corpo”.
Simon disse ao National Catholic Register que não é porta-voz do cardeal Zen e que não falou com ele recentemente.
Mas ele disse também que o cardeal Zen envia mensagens precisas com suas ações públicas.
"Ele fazendo isso — o motivo pelo qual você está ligando é exatamente o motivo pelo qual ele está fazendo isso", disse Simon a um repórter do Register. "Ele é muito perspicaz em relações públicas".
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
“Ele sabe que eles não ficarão felizes”, disse Simon, referindo-se aos funcionários do governo comunista chinês.
O cardeal Zen foi preso em maio de 2022 em Hong Kong sob acusações de conluio com forças estrangeiras e, embora não esteja mais preso, continua sob vigilância das autoridades locais.
"Não há nenhuma outra figura pró-democracia que apareça em público. Mas Zen é o cara com o machado pendurado na cabeça”, disse Simon. “Eles poderiam pegá-lo e colocá-lo na prisão".
David Alton, católico e membro da Câmara dos Lordes britânica, chamou o cardeal Zen de "o líder religioso mais notável de nossos tempos — recusando-se a abandonar seu povo e recusando-se a cumprir as exigências do Partido Comunista Chinês", em publicação nas redes sociais.
Simon disse que não acredita que o cardeal esteja tentando provocar o governo, mas sim enviando uma mensagem de solidariedade aos seus companheiros católicos que estão tentando permanecer fiéis a Roma sem se submeter à Associação Católica Patriótica Chinesa, organização autorizada pelo governo do país e associada ao Partido Comunista da China, que muitos fiéis dizem que mancha a Igreja "não oficial".
“Sinto que, com a missa em latim, ele está mostrando a bandeira de uma Igreja independente da Igreja Patriótica”, disse Simon.
Em sua publicação nas redes sociais no último domingo, o cardeal Zen não fez nenhuma declaração sobre política secular nem declarações abertas sobre questões políticas da Igreja, mas se concentrou na Eucaristia.
“Celebramos a solenidade de Corpus Christi, uma festa que a Igreja instituiu justamente para que os fiéis permitam que Deus entre mais profundamente em suas vidas diárias por meio da Sagrada Eucaristia”, escreveu o cardeal Zen.
Mais adiante na publicação, ele disse: “Às vezes dizemos: Não deixemos Jesus sozinho no sacrário. É claro que essa é uma forma figurada de falar”.
“Quando Jesus revelou Seu Sagrado Coração, Ele disse: Este coração amou tanto os homens, mas é tão pouco amado em troca”, disse também o cardeal.
“Como se Ele precisasse do nosso consolo”, disse também o cardeal Zen. “Na verdade, não é Jesus quem precisa de nós — mas Ele sabe que precisamos d’Ele. Esquecer Jesus é a nossa maior perda”.





