O papa Leão XIV falou hoje (24) à Ordem de Malta sobre o caráter religioso da ordem, enfatizando que, sem evangelização, o serviço dos cavaleiros aos pobres é mera filantropia.

“Não se trata só de ajudar nas necessidades dos pobres, mas de anunciar o amor de Deus a eles com a palavra e o testemunho”, escreveu o papa em mensagem à ordem na festa de seu padroeiro, são João Batista. “Sem isso, a Ordem perderia seu caráter religioso e se reduziria a uma organização filantrópica”.

Leão XIV se encontrou ontem (23) pela primeira vez com o grão-mestre da ordem, Fra' John Dunlap, no Vaticano.

Em sua mensagem divulgada hoje, o papa destacou várias vezes o importante propósito duplo da ordem: tuitio fidei e obsequium pauperum (proteção da fé e serviço aos pobres).

A Ordem Soberana e Militar de Malta é uma ordem religiosa leiga da Igreja e um Estado soberano sujeito ao direito internacional.

A ordem adotou uma nova constituição em 2022, depois de um longo processo de reforma, iniciado por ordem do papa Francisco em 2017 e repleto de preocupações de ameaça à soberania do grupo.

O papa abordou o “caminho da renovação” da Ordem de Malta, enfatizando que ela “não pode ser simplesmente institucional, normativa: ela deve ser primeiro interior, espiritual, porque isso dá sentido às mudanças nas regras”.

Leão XIV apoiou mudanças na constituição e na lei da ordem como “necessárias, pois várias coisas precisavam ser esclarecidas, especialmente a natureza da ordem religiosa”.

A mensagem do papa também falou sobre os meios — econômicos e humanos dos quais a ordem depende para fazer seu trabalho de caridade — e a importância de que eles se alinhem com a missão do grupo.

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“Os meios devem ser bons, mas, neste campo, a tentação pode facilmente apresentar-se sob o disfarce do bem”, disse Leão XIV. “Como uma ilusão de ser capaz de alcançar os bons objetivos que se propõe com meios que mais tarde poderiam revelar-se não conformes à vontade de Deus”.

“A importância internacional da ordem e sua posição como um corpo soberano nunca devem ser um pretexto para sucumbir às tentações da mundanidade”, disse também o papa.

A reformulação da Ordem de Malta também foi marcada por anos de mudanças na liderança, começando com a demissão do grão-chanceler Albrecht Freiherr von Boeselager em dezembro de 2017.

A demissão do grão-chanceler ocorreu depois de revelações de que o braço beneficente da ordem, sob a liderança de Boeselager, havia se envolvido na distribuição de preservativos em Mianmar para prevenir o vírus HIV. A ordem disse que os motivos para a demissão de Boeselager eram "muito mais complexos do que só a questão da contracepção", e um dos fatores foi a ocultação de "graves problemas" dentro da ordem em seu mandato.

O grão-chanceler é um dos quatro altos cargos — grão-Comandante, grão-chanceler, grão-hospitaleiro e recebedor do Tesouro Comum. Esses cargos, com mandatos de cinco anos, compõem o governo da ordem, junto com os conselheiros do conselho soberano e o grão-mestre, eleito por dez anos.

Grande parte da liderança foi renovada em eleições realizadas num capítulo geral extraordinário convocado pelo papa Francisco em janeiro de 2023.

Dunlap, advogado canadense que foi eleito príncipe e 81º grão-mestre da Ordem de Malta em maio de 2023, liderou a ordem como tenente-grão-mestre desde o ano anterior, quando foi nomeado pelo papa Francisco depois da morte repentina de seu antecessor, Fra' Marco Luzzago.

A Ordem de Malta não tinha um grão-mestre desde a morte de Fra 'Giacomo dalla Torre del Tempio di Sanguinetto, em 2020.