“Vocês devem estar muito felizes que um americano tenha sido eleito”, disse o cardeal Pietro Parolin, ex-secretário de Estado da Santa Sé, enquanto caminhava com um colega pela Via della Conciliazione em direção ao Vaticano.

Saindo para um passeio na tarde do último domingo (11) sob o sol quente da primavera de Roma, o cardeal italiano, que inicialmente foi um dos favoritos no conclave, falou ao National Catholic Register sobre sua esperança de que a Igreja esteja "em paz", como estava "na época dos apóstolos, sob a orientação do Espírito Santo".

Seus sentimentos ecoaram uma sensação palpável de esperança, otimismo e paz que parece ter tomado conta da Cidade Eterna desde a eleição do papa Leão XIV na noite da última quinta-feira (8), mesmo que isso tenha gerado cautela entre alguns fiéis.

O cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos da Santa Sé, ao sair para tomar um pouco de ar fresco perto do rio Tibre, disse que também vê Leão XIV como um homem de paz e alguém que escuta.

O cardeal, que aos 92 anos de idade não votou no conclave, acredita que Leão XIV, visto como uma figura conciliadora depois das profundas divisões dos últimos 12 anos, "não está muito à esquerda ou à direita" e que "quer continuidade com o papa Francisco". Ambos os atributos, disse ele ao Register, são "muito importantes".

O sucessor do Cardeal Kasper como chefe do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal suíço Kurt Koch, disse que Leão XIV é um "homem de diálogo", dizendo ao Register, num encontro próximo à praça de São Pedro, que acredita que o novo papa "traria harmonia" à Igreja. Ele também elogiou a atmosfera amigável no conclave.

O cardeal Louis Raphaël Sako, patriarca caldeu de Bagdá, Iraque, disse que estava sentado ao lado do cardeal Robert Prevost na votação na Capela Sistina. Ele disse ao Register que havia pedido ao papa Leão XIV que se manifestasse em nome dos cristãos perseguidos no Oriente Médio.

E, embora tenham acolhido calorosamente o novo papa, alguns cardeais, padres e leigos também expressaram cautela. Depois dos anos tumultuados do pontificado do papa Francisco, e com o papa Leão XIV obtendo apoio considerável de cardeais progressistas e conservadores, uma atitude cautelosa de "esperar para ver" é evidente.

“Estou muito esperançoso. O que ele fez até agora parece muito bom. Espero que ele traga a paz tão necessária à Igreja. Gosto de como ele não tenta ser o centro das atenções, e parece que ele realmente acredita”, disse o padre Rok Pogančnik, padre esloveno que falou à EWTN.

 Padrões de votação

Agora que a poeira está começando a baixar, o que aconteceu no conclave está começando a ficar claro, com base em conversas com diversas fontes.

Acreditava-se que o cardeal Parolin seria um dos favoritos no início da votação, especialmente entre os maiores apoiadores do papa Francisco, possivelmente atraindo de 40 a 50 votos, mas não conseguiu obter um apoio mais amplo. Os votos para outros candidatos importantes, como os cardeais Luis Antonio Tagle, Matteo Zuppi, Mario Grech, Pablo Virgilio David e Jean-Marc Aveline, também se dividiram, especialmente entre italianos, asiáticos e africanos, de modo que nenhum deles conseguiu ganhar força.

As esperanças de que os candidatos apoiados pela comunidade de Sant'Egidio, os cardeais José Tolentino de Mendonça e Zuppi, também foram frustradas pela falta de apoio, mas os votos para os candidatos "conservadores" também se dividiram entre os cardeais Péter Erdő, Robert Sarah, Pierbattista Pizzaballa e Malcolm Ranjith. Os votos começaram a se concentrar em torno do cardeal Ranjith, mas não foram suficientes.

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Quando todos esses candidatos foram efetivamente eliminados, o cenário estava pronto para o surgimento do cardeal Prevost. Já considerado um possível candidato de compromisso por muitos cardeais antes do conclave, ele começou a angariar votos na terceira votação, inclusive entre os eleitores conservadores, ajudado em parte pelo arcebispo de Nova York, EUA, cardeal Timothy Dolan, que deu seu apoio à candidatura do Cardeal Prévost. Na quarta votação, o cardeal Prévost havia conquistado cerca de 100 votos, bem acima da maioria de dois terços de 89 votos necessária para ser eleito papa.

 

Isso foi alcançado sem qualquer pressão prévia do cardeal Prevost antes do conclave. Ao contrário do que diz a mídia italiana, o Register confirma que o cardeal Raymond Burke nunca recebeu o futuro papa em seu apartamento no período das congregações-gerais, nem sofreu qualquer outra pressão para votar nele.

 Apelo generalizado

No geral, os cardeais que eram os apoiadores mais próximos de Francisco estão satisfeitos com o resultado, assim como aqueles que criticaram o pontificado anterior, mesmo que o cardeal Prevost não tenha sido sua primeira escolha. Todos tendem a ver o papa Leão XIV como alguém que trouxe um período necessário de calma e paz ao papado depois das divisões do pontificado de Francisco, e à luz das questões levantadas nas 12 congregações-gerais feitas antes do conclave.

 

 

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Outras fontes ecoaram a opinião do cardeal Koch de que essas reuniões ocorreram num ambiente colegial e de ajuda mútua. Disseram também que as discussões foram "muito francas", com elogios e críticas ao pontificado anterior amplamente divulgados, em contraste com os comunicados de imprensa cuidadosamente controlados e prosaicos divulgados pela Sala de Imprensa da Santa Sé nos dias que antecederam o conclave.

Uma área específica discutida envolveu a fraca adesão à lei da Igreja nos últimos 12 anos, e espera-se que o papa Leão XIV, doutor em direito canônico, aborde essa questão. Não se sabe ao certo se, neste momento, a supressão da missa tradicional em latim pelo papa Francisco terá alguma redefinição canônica, mas é muito provável que em breve sejam feitas representações ao papa Leão XIV sobre essas restrições.

Esses acontecimentos, somados à promessa do papa Leão XIV de ouvir, construir pontes e dialogar, inspiraram considerável esperança e confiança em Roma e além.

"Ele começou bem", disse ontem (12) o arcebispo Georg Gänswein, ex-secretário pessoal do papa Bento XVI, ao jornal italiano Corriere della Sera. "Agora começa uma nova fase. Sinto um certo alívio generalizado. A época da arbitrariedade acabou", disse Gänswein.

“Podemos começar a contar com um papado capaz de garantir a estabilidade e se apoiar nas estruturas existentes, sem derrubá-las ou perturbá-las”, disse também o atual núncio apostólico na Lituânia.