25 de abr de 2025 às 15:42
Chefes de Estado de alto escalão e bispos na China mantiveram-se em silêncio em relação à morte do papa Francisco.
A AsiaNews, agência católica de notícias da Ásia, disse na terça-feira (22) que autoridades chinesas não estão autorizadas a se expressar publicamente sobre a morte do papa Francisco devido ao controle do Partido Comunista Chinês (PCCh) sobre a Igreja no país.
O governo chinês fez uma breve declaração quase 24 horas depois da morte do papa, só depois que repórteres perguntaram a Guo Jiakun, porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, sobre o assunto na terça-feira.
“A China expressa suas condolências pela morte do papa Francisco”, disse Guo, dizendo também que “nos últimos anos, a China e a Santa Sé mantiveram contatos construtivos e fizeram intercâmbios úteis. A China está pronta para trabalhar com a Santa Sé para promover a melhoria contínua das relações China-Santa Sé”.
“É realmente surpreendente porque eles têm um acordo com a Santa Sé”, disse na quarta-feira (23) Nina Shea, do Instituto Hudson de relações internacionais, à CNA, agência em inglês da EWTN. “É um reflexo da recusa deles em reconhecer a supremacia da autoridade papal sobre a Igreja Católica e de que eles veem o papa só em termos seculares, como um chefe de Estado, a Santa Sé”.
O acordo entre a Santa Sé e a China para permitir bispos nomeados pela China na Igreja foi renovado no ano passado e deve permanecer intacto até outubro de 2028, apesar dos vários relatos de violações do acordo por parte da China e da perseguição contínua contra bispos. O conteúdo do acordo é secreto.
“A ausência de condolências”, disse Shea, “é um sinal de que eles não veem o papa como o chefe religioso da Igreja Católica e não querem que seu povo associe o papa, o papado, à Igreja Católica na China”.
“Isso mostra a futilidade da abordagem da Santa Sé”, disse também ela.
Padres e bispos na China são obrigados a se filiar à Associação Patriótica Católica Chinesa, disse Shea, o que implica uma promessa de independência da influência estrangeira — como o papa.
Shea disse também que a decisão da Associação Patriótica de permanecer em silêncio sobre a morte do papa Francisco é "um endurecimento da mensagem", o que ela disse ser "um processo contínuo na China comunista".
Novas regulamentações sobre atividades religiosas na China estão prestes a ser implementadas em todo o país em 1º de maio.
Segundo as novas regras, "atividades religiosas coletivas organizadas por estrangeiros na China são restritas só a participantes estrangeiros", com poucas exceções. Além disso, clérigos estrangeiros estão proibidos de celebrar atividades religiosas para chineses sem o convite do governo chinês, limitando severamente a atividade missionária estrangeira no país.
À luz dessas regulamentações mais rigorosas, Shea destacou que o risco é elevado para bispos ou dioceses que possam sinalizar lealdade à Santa Sé.
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Relações entre Santa Sé e China pós-conclave
Com a China aparentemente recuando em sua tensa relação diplomática com a Santa Sé depois da morte do papa Francisco, o futuro do acordo Santa Sé-China permanece incerto.
"Há muita mentira por parte dos chineses sobre o que pretendem fazer em relação à Santa Sé", disse Shea.
A China mantém a vantagem, disse ela, porque "a única vantagem que a Santa Sé tem é sua autoridade moral". Diferentemente do regime maoísta, a China de Xi Jinping não fará uma perseguição sangrenta aos cristãos que possa provocar indignação internacional e incorrer em sanções econômicas e outras consequências para o regime.
“Os chineses têm medo de reprimir abertamente a Igreja, então querem disfarçar e encobrir isso com gestos diplomáticos”, disse ela.
“Eles abandonaram as práticas mais sangrentas do período Mao porque querem comércio e investimento ocidentais. E é isso que determina a diferença entre o tratamento que dão aos uigures e o tratamento que dão aos bispos católicos”.
“A perseguição à Igreja [na China] é cirúrgica”, disse Shea, dizendo que, embora derramamento de sangue ostensivo não seja responsabilidade do Partido Comunista Chinês, o partido já prendeu dez bispos — alguns por mais de uma década — e impediu sistematicamente a nomeação de novos bispos em cooperação com Roma, já que os bispos restantes do país continuam morrendo de velhice a cada ano. O partido também aboliu dioceses em todo o país.
“Eles perseguem os bispos e padres. Sabem que é uma igreja hierárquica, então não estão fazendo prisões ou detenções em massa como fizeram com os uigures, porque é uma igreja hierárquica. Eles não precisam fazer isso. Eles podem decapitar [a Igreja] prendendo bispos que não estejam cooperando, dos quais tenham conhecimento”, disse também Shea.
“É por isso que acho que eles deveriam ficar no subsolo”, disse ela.
Do jeito que está, os bispos correm o risco de serem "cruelmente punidos" pelo regime sem o devido processo legal, sendo "confinados em isolamento por décadas a fio, ou anos a fio, ou tendo suas vidas interrompidas a cada dois meses com uma detenção que nunca se sabe quando vai acontecer e é por tempo indeterminado", disse Shea. Eles são reprimidos, mas de forma a "não afastar o investimento e o comércio internacional, atraindo a atenção do Ocidente".
Com a aproximação do conclave, Shea disse ter esperança de que o próximo papa altere as relações da Santa Sé com a China e, por fim, abandone o difícil acordo.
“O acordo piorou muito as coisas porque a Santa Sé agora está, na verdade, encobrindo o Partido Comunista na China e a perseguição à Igreja”, disse ela.
“Desde a década de 1990, a política da Santa Sé é nunca criticar a China de forma alguma, em relação à Igreja ou a outras atrocidades, como abortos forçados ou a política do filho único”.
“Eu encorajaria o embaixador [indicado] dos EUA [na Santa Sé], Brian Burch, a tentar abrir os olhos para o que está sendo encoberto”, disse também Shea.