O arcebispo de Westminster, cardeal Vincent Nichols, líder da Igreja na Inglaterra e no País de Gales, fez uma forte defesa do papel da religião no debate político sobre o suicídio assistido, aprovado hoje (29) na Câmara dos Comuns do Reino Unido, primeiro passo para se tornar lei no país.

Ele foi convidado a responder aos comentários de lord Falconer of Thoroton, o ex-lord chanceler, que no domingo (24) disse ao The Guardian que as “crenças religiosas” não deveriam ser impostas a outros, quando se trata do debate sobre o suicídio assistido.

Em entrevista à Times Radio na segunda-feira (25), o cardeal Nichols disse: “Pensei que vivíamos numa democracia onde as pessoas podiam expressar os seus pontos de vista e apresentar um argumento, um argumento racional. Se o senhor Falconer não consegue estender esse espaço à crença religiosa, então não sei por que ele deveria estar na política, na verdade."

“Não é que a política seja um modo de vida separado e isolado”, continuou o cardeal, “ela faz parte da vida deste país. A crença religiosa é uma parte muito importante da vida neste país, e a maioria das pessoas no mundo tem uma crença religiosa em Deus. Então é Charlie Falconer quem está delirando, não eu".

Ao responder à Times Radio sobre como se sentiria se o suicídio assistido fosse legalizado na Inglaterra e no País de Gales, o cardeal Nichols respondeu: “Teria medo por muitas pessoas vulneráveis ​​que se sentiriam pressionadas. Você sabe, o direito de morrer pode facilmente se tornar um dever de morrer, o que corrói a autoconfiança”.

Nichols também acrescentou a sua assinatura a uma carta publicada no domingo (24), assinada por vários líderes religiosos, incluindo muçulmanos, sikhs, hindus, coptas ortodoxos e ortodoxos gregos, na qual expressam “a sua profunda preocupação” com o impacto da lei.

"No Reino Unido", diz a carta, "estima-se que 2,7 milhões de pessoas idosas tenham sofrido abusos; muitas delas também podem ser vulneráveis ​​à pressão para acabar prematuramente com as suas vidas. Os defensores das pessoas com deficiência e aqueles que trabalham com mulheres em relacionamentos abusivos também destacaram o perigo de consequências não intencionais caso haja mudança na lei”.

“A experiência de jurisdições que introduziram legislação semelhante, como Oregon e Canadá, demonstra como estas consequências não intencionais podem ser trágicas”.

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“As proteções prometidas nem sempre protegeram os vulneráveis e marginalizados. Mesmo quando cercadas por familiares e amigos amorosos, as pessoas que estão chegando ao fim da vida ainda podem se sentir como um peso. Esse é especialmente o caso quando o atendimento social para adultos continua subfinanciado. Nesse ambiente, é fácil ver como o 'direito de morrer' pode facilmente terminar com a sensação de que você tem o dever de morrer.”

No período que antecedeu o debate, muitos políticos importantes se manifestaram contra o projeto de lei.

Os ex-primeiros-ministros Boris Johnson, Teresa May, Liz Truss e Gordon Brown disseram que se opõem ao projeto de lei, enquanto David Cameron, que foi primeiro-ministro entre 2010 e 2016, mudou de ideias a favor da morte assistida.

Os atuais membros seniores do governo, incluindo o secretário da saúde, Wes Streeting, e a secretária da Justiça, Shabana Mahmood, deixaram claro que se opõem a uma mudança na lei e votarão contra o projeto.

O controverso projeto de lei é patrocinado pelo deputado Kim Leadbeater e terá cinco horas de debate hoje na Câmara dos Comuns.

Depois do debate, haverá votação e, caso o projeto seja aprovado, passará para a próxima etapa do processo legislativo.

O projeto de lei para adultos com doenças terminais (fim da vida) permitiria que pessoas com doenças terminais, com prognóstico de seis meses ou menos de vida, pudessem solicitar o suicídio assistido por médico.

Os parlamentares têm direito ao “voto livre” sobre a questão, o que significa que eles podem votar de acordo com a sua consciência, em vez de seguir uma linha partidária.