Dom Natale Paganelli é um bispo de 66 anos que chegou como missionário xaveriano em 2005 à Serra Leoa. Numa entrevista à revista católica Omnes, publicada ontem (25), ele disse que naquele país africano a maioria dos padres católicos são filhos de muçulmanos.

“A maioria dos padres são filhos de muçulmanos. Por quê? Por causa das escolas”, disse o bispo de origem italiana, que também passou 22 anos no México e que foi administrador apostólico da diocese de Makeni, Serra Leoa, entre 2012 e 2023.

“Quando os xaverianos chegaram, eles usaram uma estratégia muito interessante. Como quase não existiam escolas no norte do país, começaram a fundá-las, primeiro escolas de ensino fundamental, depois escolas de ensino médio. Através das escolas entrou a evangelização”, continuou.

Sobre os muçulmanos que estudam em colégios católicos, dom Paganelli disse que “a maioria deles, frequentando as nossas escolas, que têm muito prestígio, graças a Deus, entram em contato com o cristianismo, com os sacerdotes, e a certa altura pedem o batismo e fazem um curso catecumenal na própria escola. Geralmente, não há oposição dos pais”.

Na verdade, disse, “dizemos que existe uma tolerância religiosa muito boa na Serra Leoa. Esta é uma das coisas mais bonitas que podemos exportar para o mundo, não só diamantes, ouro, outros minerais”.

Sobre o “único problema grave” que teve, ele disse que foi com os chefes tribais muçulmanos, “porque queriam escolas católicas em cada aldeia, mas eu não podia construir uma escola católica em cada aldeia, era impossível, já eram 400, um número muito grande”.

Um dos padres filho de muçulmanos é o atual bispo de Makeni, dom Bob John Hassan Koroma, que assumiu a diocese administrada por dom Paganelli até maio de 2023.

O bispo de origem italiana disse que existem hoje mais de 100 padres nas quatro dioceses de Serra Leoa e que também estão surgindo vocações femininas para a vida consagrada, embora “isso seja mais complicado, porque na sua cultura as mulheres não são muito consideradas, então é mais difícil para elas pensar na vida consagrada”.

Dom Paganelli disse ainda que, na Páscoa cristã, os muçulmanos também pedem que suas casas sejam abençoadas; e, assim como os muçulmanos compartilham a ceia de Natal com os cristãos, eles também convidam aqueles que acreditam em Cristo a compartilhar alimentos no último dia do Ramadã, o mês muçulmano de jejum e purificação. Em geral, disse o bispo, “há um bom relacionamento” entre muçulmanos e cristãos. “A maioria dos casamentos na nossa diocese são mistos, entre católicos e muçulmanos. Dizem que o amor resolve muitos problemas e cria muita unidade, e é verdade”, conclui Paganelli.