O prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Victor Fernández, disse ontem (23) ao National Catholic Register, da EWTN, grupo a que pertence ACI Digital, que ele e sua equipe estão “em processo de finalização de um novo texto com diretrizes e normas claras para o discernimento de aparições e outros fenômenos”.

 

O cardeal, que teve uma audiência privada com o papa Francisco na segunda-feira (22), não divulgou mais detalhes sobre o documento, nem exatamente quando será publicado.

 

A última vez que o escritório doutrinário da Santa Sé publicou um documento geral sobre aparições foi em 1978, durante os últimos meses do pontificado do papa são Paulo VI.

 

Nas "Normas para Proceder no Discernimento de Presumíveis Aparições E Revelações", a então Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo cardeal croata Franjo Šeper, descreveu o processo seguido pela Igreja Católica ao investigar supostas aparições ou revelações.

O documento afirma que a responsabilidade da Igreja é “julgar sobre o fato segundo critérios positivos e negativos”; “em seguida, se este exame chegar a uma conclusão favorável, permitir algumas manifestações públicas de culto ou de devoção” e, “finalmente, à luz do tempo transcorrido e da experiência, com especial relação à fecundidade dos frutos espirituais gerados pela nova devoção, expressar um juízo de veritate et supernaturalitate (verdade e sobrenaturalidade, em latim), se o caso o exigir”.

O documento destaca que “se este exame chegar a uma conclusão favorável, permitir algumas manifestações públicas de culto ou de devoção, prosseguindo na vigilância sobre elas com grande prudência”.

O documento mais recente da Santa Sé sobre aparições foi publicado em 2001 pela então Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. No Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia: Princípios e Diretrizes, a congregação baseou-se no Catecismo da Igreja Católica e suas referências a revelações privadas.

O parágrafo 67 do Catecismo da Igreja Católica diz que no decurso dos séculos tem havido revelações ditas «privadas», algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» ou «completar» a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história”.

“Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja”, continua o parágrafo do catecismo.

O papa são Pio X também abordou as aparições em sua encíclica Pascendi Dominici Gregis, de 1907, na qual é mencionada “a suma prudência de que usa a Igreja nesta matéria”, afirmando que “nos juízos a emitir acerca das pias tradições, tenha-se sempre diante dos olhos a suma prudência de que usa a Igreja nesta matéria, de não permitir que essas tradições sejam relatadas nos livros sem as determinadas precauções” e adverte que “ainda não se segue que a Igreja tenha o fato por verdadeiro, mas apenas não proíbe que se lhe dê crédito, uma vez que para isto não faltem argumentos humanos”.

No mês passado, o dicastério para a Doutrina da Fé divulgou um decreto "há muito escondido" de 1951 que declarava que a suposta aparição da Virgem Maria em Lipa, nas Filipinas, em 1948 - também conhecida como Nossa Senhora da Medianeira de Todas as Graças - não era sobrenatural.

Por muitos anos, a aparição tem sido uma fonte de tensão entre aqueles que acreditavam que a aparição fosse autêntica e a hierarquia católica nas Filipinas.

A suposta aparição, na qual a Virgem Maria teria aparecido a uma postulante carmelita descalça de 21 anos chamada Irmã Teresita Castillo na cidade de Lipa por 15 dias a partir de 12 de setembro de 1948, foi investigada e encaminhada a Roma, com a Santa Sé declarando depois que a aparição não era sobrenatural.

Em um comunicado que acompanha a publicação do decreto, o cardeal Fernández observou que a madre Maria Cecília de Jesus, do convento carmelita descalço de Lipa, confessou "ter enganado os fiéis sobre as supostas aparições em Lipa e, consequentemente, pediu perdão" em 1951.

O dicastério para a Doutrina da Fé tornou público o decreto de 1951 depois de um padre exorcista dominicano, Winston Cabading, ser processado nas Filipinas por "ofender sentimentos religiosos" ao desacreditar a aparição de Lipa. Um juiz rejeitou o processo contra ele por insuficiência de provas.