Na Audiência Geral de hoje (27), o papa Francisco falou em sua catequese sobre a virtude da paciência.

Abaixo, a catequese completa do papa Francisco:

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, a audiência estava prevista para a praça, mas devido à chuva foi transferida para dentro. É verdade que vai estar um pouco apinhada, mas pelo menos não nos molharemos! Obrigado pela vossa paciência!

No domingo passado, ouvimos a narração da Paixão do Senhor. Aos sofrimentos que padece, Jesus responde com uma virtude que, embora não esteja contemplada entre as tradicionais, é deveras importante: a virtude da paciência. Trata-se da suportação do que se sofre: não é por acaso que paciência tem a mesma raiz de paixão. E é precisamente na Paixão que sobressai a paciência de Cristo, que com mansidão e docilidade aceita ser preso, esbofeteado e condenado injustamente; diante de Pilatos não recrimina; suporta os insultos, os escarros e a flagelação dos soldados; suporta o peso da cruz; perdoa àqueles que o pregam no madeiro e, na cruz, não responde às provocações, mas oferece misericórdia. Esta é a paciência de Jesus! Tudo isto nos diz que a paciência de Jesus não consiste numa resistência estoica ao sofrimento, mas é o fruto de um amor maior.

O Apóstolo Paulo, no chamado “Hino à caridade” (cf. 1 Cor 13, 4-7), une estreitamente amor e paciência. Com efeito, descrevendo a primeira qualidade da caridade, recorre a uma palavra que se traduz por “magnânima”, “paciente”. A caridade é magnânima, é paciente. Ela exprime um conceito surpreendente, que aparece muitas vezes na Bíblia: Deus, perante a nossa infidelidade, mostra-se «lento para a ira» (cf. Êx 34, 6; cf. Nm 14, 18): em vez de desabafar o seu desgosto pelo mal e pelo pecado do homem, revela-se maior, pronto a recomeçar sempre com uma paciência infinita. Este é, para Paulo, o primeiro traço do amor de Deus que, perante o pecado, propõe o perdão. Mas não só: é o primeiro traço de todo o grande amor, que sabe responder ao mal com o bem, que não se fecha na ira nem no desânimo, mas persevera e relança. A paciência que recomeça! Por isso, na raiz da paciência está o amor, como diz Santo Agostinho: «Uma pessoa é tanto mais forte na suportação de qualquer mal, quanto maior for o amor de Deus nela» (De patientia, XVII).

Poder-se-ia então dizer que não há melhor testemunho do amor de Jesus, do que encontrar um cristão paciente. Mas pensemos também em quantas mães e pais, trabalhadores, médicos e enfermeiros, doentes, que todos os dias, no escondimento, agraciam o mundo com uma santa paciência! Como afirma a Escritura, «é melhor a paciência do que a força de um herói» (Pr 16, 32). No entanto, devemos ser honestos: muitas vezes falta-nos a paciência. No dia a dia todos somos impacientes. Precisamos dela como da “vitamina essencial” para ir em frente, mas impacientamo-nos instintivamente e respondemos ao mal com o mal: é difícil manter a calma, controlar os instintos, conter as más respostas, desarmar disputas e conflitos em família, no trabalho ou na comunidade cristã. A resposta chega imediatamente, não somos capazes de ser pacientes.

Recordemos, porém, que a paciência não é apenas uma necessidade, é uma vocação: se Cristo é paciente, o cristão é chamado a ser paciente. E isto faz-nos ir contra a corrente em relação à mentalidade generalizada de hoje, na qual dominam a pressa e o “tudo já”; na qual, em vez de esperar que as situações amadureçam, pressionam-se as pessoas, esperando que mudem instantaneamente. Não esqueçamos que a pressa e a impaciência são inimigas da vida espiritual. Porquê? Deus é amor, e quem ama não se cansa, não é irascível, não impõe ultimatos, Deus é paciente, Deus sabe esperar. Pensemos na história do Pai misericordioso, que espera o filho que saiu de casa: sofre com paciência, impaciente para o abraçar assim que o vê regressar (cf. Lc 15, 21); ou pensemos na parábola do trigo e do joio, com o Senhor que não tem pressa em extirpar o mal antes do tempo, para que nada se perca (cf. Mt 13, 29-30). A paciência faz-nos salvar tudo!

Mas, irmãos e irmãs, como se faz para aumentar a paciência? Sendo ela, como ensina São Paulo, um fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22), deve ser pedida precisamente ao Espírito de Cristo. Ele concede-nos a força mansa da paciência – a paciência é uma força mansa – porque «é próprio da virtude cristã não só praticar o bem, mas também saber suportar os males» (Santo Agostinho, Discursos, 46, 13). Sobretudo nestes dias, far-nos-á bem contemplar o Crucificado para assimilar a sua paciência. Um bom exercício é também levar-lhe as pessoas mais importunas, pedindo-lhe a graça de pôr em prática para com elas aquela obra de misericórdia tão conhecida e tão descuidada: suportar pacientemente as pessoas importunas. E não é fácil! Pensemos se agimos assim: suportar pacientemente as pessoas importunas. Começa-se pedindo para as considerar com compaixão, com o olhar de Deus, sabendo distinguir os seus rostos dos seus erros. Temos o hábito de catalogar as pessoas pelos erros que cometem. Não, isto não é bom. Procuremos as pessoas pelos seus rostos, pelos seus corações, não pelos seus erros!

Concluindo, para cultivar a paciência, virtude que dá alento à vida, é bom dilatar o olhar. Por exemplo, não limitando o campo do mundo aos nossos problemas, como nos convida a fazer a Imitação de Cristo: «Deveis, pois, lembrar-vos dos sofrimentos mais graves dos outros, para aprender a suportar os vossos, pequenos», lembrando que «não existe coisa alguma, por mais pequenina que seja, contanto que a suportemos por amor a Deus, que passe sem recompensa diante de Deus» (III, 19). E ainda, quando nos sentimos nas amarras da provação, como ensina Jó, é bom abrir-nos com esperança à novidade de Deus, na firme confiança de que Ele não deixa que as nossas expetativas sejam desiludidas. Paciência significa saber suportar os males. 

E aqui, hoje, nesta audiência, estão presentes duas pessoas, dois pais: um israelita e um árabe. Ambos perderam as suas filhas nesta guerra e ambos são amigos. Não olham para a inimizade da guerra, mas para a amizade de dois homens que se amam e que passaram pela mesma crucificação. Pensemos no lindo testemunho destas duas pessoas que, nas suas filhas, sofreram a guerra da Terra Santa. Amados irmãos, obrigado pelo vosso testemunho!