A Nunciatura Apostólica da Bélgica emitiu um comunicado hoje (21) informando a decisão do papa Francisco de expulsar do estado clerical o bispo emérito de Bruges, Roger Vangheluwe, culpado de abuso sexual.

O texto diz que nos últimos meses o caso, pelo qual o papa Bento XVI aceitou a renúncia do bispo há 14 anos, apresentou novos elementos, como o depoimento de uma vítima, o que fez com que o Dicastério para a Doutrina da Fé o investigasse novamente.

Isto levou o dicastério a propor ao papa Francisco a expulsão de Vangheluwe do estado clerical. Depois da audiência com o prefeito do dicastério, cardeal Víctor Manuel Fernández, em 11 de março, “o papa Francisco aceitou o pedido, ordenando que a pena proposta fosse imposta”.

“No dia 20 de março de 2024, a medida foi notificada ao interessado que, tomando conhecimento da decisão, solicitou poder residir em local de retiro, sem qualquer contato com o mundo exterior, para se dedicar à oração e penitência”, continua o comunicado.

“O Santo Padre reitera a sua proximidade com as vítimas dos abusos e o seu compromisso para que este flagelo seja erradicado da Igreja”, conclui o texto.

O caso de Roger Vangheluwe, culpado de abuso sexual

Vangheluwe tem agora 87 anos. Em 2010, quando foi aceita a sua renúncia, aos 73 anos, admitiu ter abusado sexualmente do seu sobrinho durante 13 anos e desde que o menor tinha apenas cinco anos.

“Quando eu ainda era um simples sacerdote e durante um certo tempo no início do meu episcopado, abusei sexualmente de um jovem do ambiente próximo a mim. A vítima continua marcada por este fato”, disse então.

“Nas últimas décadas reconheci repetidamente a minha culpa contra ele, bem como contra a sua família, e pedi perdão. Mas isso não o pacificou. E nem eu estou em paz”, acrescentou.

Em abril de 2011, numa entrevista televisiva depois de ter sido condenado a deixar a Bélgica para tratamento psicológico, admitiu ter abusado de outro sobrinho e disse que os abusos "não foram realmente sexo" e que eram na verdade "uns joguinhos", o que fez com que os outros bispos belgas expressassem o seu espanto e se distanciassem de Vangheluwe.

Sobre a decisão do papa anunciada hoje, o site católico belga Cathobel diz que a expulsão de Vangheluwe do estado clerical foi solicitada várias vezes pelos bispos, sendo a última em outubro de 2023.

Nos últimos meses, a pressão da mídia também aumentou. Ontem, por exemplo, vários membros de uma associação para a proteção das crianças exibiram faixas em frente à abadia de Solesmes, França, onde reside Vangheluwe.

O que significa um bispo ou padre ser expulso do estado clerical?

A expulsão ou renúncia do estado clerical de um bispo ou sacerdote significa que ele está doravante proibido permanentemente de exercer os direitos de sacerdote, como celebrar missa, atender confissões e administrar os demais sacramentos.

Ele também está isento de obrigações como rezar a Liturgia das Horas e obedecer ao bispo.

Porém, a renúncia ao estado clerical não significa, a rigor, que o sacerdote deixe de ser sacerdote, pois o Sacramento da Ordem imprime caráter, ou seja, o homem que o recebe carrega um “selo” que jamais perderá e que a Igreja não pode reverter.

Ele perde todo o direito de ser financiado ou apoiado pela Igreja e de ser chamado de “padre” ou “monsenhor”. Frequentemente, um homem expulso do estado clerical também é dispensado da obrigação do celibato e pode se casar, mas nem sempre é assim.

Uma pessoa expulsa do estado clerical só pode exercer o seu ministério em casos excepcionais, como quando alguém em perigo de morte lhe pede os sacramentos.